António Vacas de Carvalho, cabo dos Amadores de Montemor, exibindo a Barra D'Ouro que ontem premiou o seu grupo como o melhor da corrida |
Maestria de António Ribeiro Telles, que ontem enfrentou o lote mais difícil, esteve em destaque na corrida de Montemor |
No conjunto das duas lides, sobretudo na segunda, o triunfador maior da tarde de ontem em Montemor foi indiscutivelmente o grande Luis Rouxinol |
Filipe Gonçalves (em baixo, na última volta à arena com os campinos e agora com o ex-bandarilheiro dos Mouras, João Ganhão, na sua equipa) esteve ontem em Montemor à altura da seriedade dos Palhas |
Montemor foi quase praça cheia. Os forcados da terra ganharam o troféu Barra D'Ouro. E frente a sérios e exigentes toiros de Palha, o triunfador maior ontem foi Rouxinol
Miguel Alvarenga - Viveu-se ontem na praça de Montemor-o-Novo uma tarde de grande ambiente, onde a tónica dominante foi a seriedade e exigência dos seis toiros da ganadaria Palha. Tarde de grandes pegas pelos grupos de Santarém e Montemor, acompanhados nas bancadas por verdadeiras legiões de antigas glórias dos dois grupos, tendo o troféu Barra D'Ouro, que premiava não a melhor pega, mas sim o melhor grupo no conjunto, sido atribuído, com todo o mérito e sem um único protesto do público, aos Amadores de Montemor. O júri, como fora anunciado, era composto pelos cabos dos grupos de Lisboa, Évora, Barrete Verde de Alcochete, Coruche, Alcochete, Aposento da Moita e Caldas da Rainha.
A corrida era organizada por uma comissão de antigos forcados do Grupo de Montemor, estava integrada nas comemorações do 80º aniversário que este ano se festeja e registou uma moldura humana de cerca de três quartos das bancadas preenchidos.
Houve ambiente nas bancadas, houve sobretudo um entusiasmo maior com os forcados, superior ao que se sentiu durante as lides dos cavaleiros. E houve sobretudo emoção e seriedade mercê dos toiros, que exigiram, transmitiram e pediram contas. Quando há toiros de verdade, a Festa tem sempre um outro sabor.
António Ribeiro Telles lidou o lote mais complicado. Reservado, pouco claro nas investidas, o primeiro toiro da corrida deu que fazer ao Mestre. António não baixou os braços, não baixa nunca, foi à luta e a lide resultou sobretudo pelo empenho e a entrega do cavaleiro, contudo sem grande brilhantismo - e sem música nem volta à arena.
O quarto toiro da tarde foi o mais pesado, com 595 quilos. Um toiro de respeito, nada fácil também e que transmitiu seriedade. Lidou-o António com a usual maestria, ao som da banda e ao som, também, da sua arte, da sua técnica de grande lidador.
Luis Rouxinol é um profissionalão e ontem em Montemor fez, como sempre, jus ao seu estatuto de primeiríssima figura. Esteve superior na lide do segundo toiro da tarde, mas foi no quinto, um toiro que cedo procurou o refúgio em tábuas e que no início passava pelo cavalo sem dar por ele, que Rouxinol se agigantou e com o fantástico cavalo "Douro" conseguiu os impossíveis, dando a volta ao oponente, tornando o difícil fácil e terminando com um arrojado par de bandarilhas e ainda um ferro de palmo. Esta foi a grande lide da tarde e nela se viu a verdadeira dimensão do valor e do toureio deste consagrado cavaleiro. Não é fácil estar sempre bem. E Rouxinol tem esse dom.
Filipe Gonçalves é um lutador - nascido para vencer. Não se rende nunca, tem um enorme valor e vai à guerra com todos os toiros. O seu primeiro também não foi um toiro fácil, teve a raça e a exigência que são apanágios desta histórica e centenária ganadaria - das de verdade. Filipe arriscou, pôs a carne no assador - e o público gostou, não lhe regateando aplausos.
O último foi o melhor toiro da corrida e ele entendeu-o na perfeição. Lide variada, ferros emotivos e a terminar, também, um grande par de bandarilhas. Esteve Filipe muito bem e no final deu a volta acompanhado dos campinos, que fizeram um trabalho notável na recolha dos seis toiros.
Foram impressionantes os silêncios com que o público assistiu ontem às pegas. Algo frio e sem explodir com as lides dos cavaleiros, teve depois outro entusiasmo e outra vibração aquando da actuação dos forcados.
João Grave, cabo dos Amadores de Santarém, fez a primeira pega da tarde, ao segundo intento e depois de ter sofrido na primeira tentativa um feio e forte derrote. A segunda pega do grupo foi executada à primeira por Francisco Graciosa e a última (quinto toiro) esteve a cargo de Lourenço Ribeiro, ambas tecnicamente perfeitas, tendo este último brindado a uma das maiores glórias da histórica da forcadagem, o eterno Nuno Megre.
Foram enormes as três pegas dos Amadores de Montemor. Todas à primeira. João da Câmara, num grande momento, esteve perfeito a pegar o segundo toiro da corrida. Francisco Borges enorme na quarta pega, ao potente toiro de quase 600 quilos, com uma ajuda brilhante de António Cortes Pena Monteiro. E Francisco Bissaya Barreto fechou com chave de ouro a tarde triunfal dos forcados pegando com o poderio que o caracteriza o último Palha da corrida, acabando por sair lesionado num braço, recolhendo à enfermaria.
Ao intervalo foi sorteado pelo público um lindíssimo poldro da Coudelaria João Pereira Lynce, que saíu ao conhecido aficionado (e equitador) Guilherme "Telles" do Sobral. Ficou em boas mãos.
A corrida foi bem dirigida por Agostinho Borges, teve ritmo e decorreu, repito, sob o signo da verdade. Houve, como há sempre agora, um ou outro capotazo a mais por parte das quadrilhas, mas é de inteira justiça aqui louvar o desempenho, frente a toiros de respeitos, dos seis bandarilheiros intervenientes, sobretudo na colocação para as pegas: João Ribeiro "Curro" e António Telles Bastos, Manuel dos Santos "Becas" e João Bretes, Nuno Silva e João Ganhão, ex de Moura, agora na equipa de Filipe Gonçalves.
Mais logo não perca as reportagens fotográficas de Maria João Mil-Homens
Fotos M. Alvarenga