domingo, 12 de maio de 2019

Montijo: outra vez Prates! Mas também Pinto e também Rouxinol!

Poucos Fuzileiros ontem na Monumental do Montijo. Os heróicos boinas negras
não responderam à chamada e as bancadas registaram um quarto de casa
Duarte Pinto é um clássico e um purista de "outros campeonatos" e ontem
disse, desde o primeiro instante, que não estava ali para ser um mero
espectador da aclamação das novas estrelas. E não foi, não senhor!
Luis Rouxinol Júnior há muito que deixou bem claro que não anda aqui para ver
andar os outros. É um toureiro de valor e de raça, vai fazer história, marca a
diferença e é um fenómeno em permanente ebulição. A competição com Prates
ontem fê-lo superar-se e agigantar-se. Venha o mano-a-mano entre eles, como
preconizou Rui Bento. A Festa precisa desta emoção!
Uma semana depois da apoteose em Vila Franca, António Prates voltou ontem
a dizer no Montijo que chegou o momento de "abanar as hostes". Mais um
triunfo sólido e consistente, o último antes da alternativa a 22 de Junho na
praça de Alcochete. Aproveitem a onda, senhores empresários, não aparece
um toureiro assim todos os dias!
O ganadero Fernandes de Castro (filho) foi justamente premiado com aplaudida
volta à arena no último toiro com António Prates e o forcado João Paulo Damásio,
dos Amadores do Montijo, que ganhou, com todo o mérito, o troféu para a melhor
pega da tarde, prémio que tinha o nome do antigo forcado e ex-fuzileiro José
Coisinhas e que lhe foi entregue na arena pelo próprio (foto de baixo)


Fuzileiros não responderam ao toque de chamada. Apenas um quarto das bancadas preenchido ontem na primeira corrida do ano na Monumental do Montijo. António Prates voltou a rebentar a escala, Rouxinol Jr. não desarmou e respondeu-lhe à letra, Duarte Pinto é de "outro campeonato" e fez gala no toureio à antiga. Belíssimos toiros de Castro e uma pega enorme de João Paulo Damásio, dos Amadores do Montijo, a vencer com toda a justiça o troféu que homenageou José Coisinhas

Miguel Alvarenga - Uma semana depois do "estrondo" em Vila Franca, António Prates voltou ontem a rebentar a escala e a marcar a diferença na primeira corrida dos ex-combatentes Fuzileiros. Os boinas negras e toda a sua força e carisma não foram ontem suficientes para dar à enorme Monumental do Montijo uma maior moldura humana, como se esperava e a ocasião justificava. Um quarto forte das bancadas preenchido.
Artisticamente e apesar da demora causada pela dificuldade de pegar os toiros e por um ou outro que tardaram a recolher aos currais, a tarde foi agradável, houve competição e assistimos a grandes momentos de bom toureio a cavalo.
António Prates é, já ninguém tem dúvida alguma, o jovem toureiro que promete marcar esta temporada. Depois da "explosão" na "Palha Blanco", voltou ontem a marcar a diferença e esteve muito acima da média nos seus dois toiros, o primeiro dos quais, terceiro da tarde, com 600 quilos. Nota-se que já tem o seu público. É um facto que já tem seguidores.
Com uma quadra magnífica, superiormente moralizado, evidenciando maturidade e consistência, tranquilidade, calmaria e atitude, Prates voltou a afirmar-se. Tudo o que fez, fez bem feito. Deu importância aos toiros, lidou-os, toureou como os eleitos, fez o público levantar-se das bancadas, houve brilhantismo e apoteose nas duas actuações.
Deixou uma vez mais e no curtíssimo espaço de uma semana, a mensagem de que temos, na realidade, uma nova figura na forja. Esta foi a última corrida em Portugal antes da alternativa, antes desse esperado dia 22 de Junho em Alcochete. E depois de, finalmente, as novas figuras se terem afirmado na última temporada, depois de Francisco Palha dar o salto - e que salto! -, eis que chega outro novo para agitar as hostes. É disto que a Festa precisa. Assim o entendam as empresas e comecem de uma vez por todas a fomentar a competição.
Na competição e na luta, sem dar tréguas, está também Luis Rouxinol Júnior. A triunfar todos os dias e a demonstrar de praça em praça, também, a sua atitude, o seu desmedido valor, a raça e a força do seu toureio emotivo e verdadeiro, ontem "acusou" a competição com a nova estrela, puxou dos seus galões e respondeu a Prates à letra. "Também estou aqui! E cheguei primeiro!", parecia ele que dizia, pela forma ousada com que lidou os seus dois toiros, de menos som o primeiro, com muito mais transmissão o segundo.
O novo Rouxinol marcou também a diferença na última temporada, a primeira depois da alternativa. Somou pontos, subiu degraus, confirmou o que dissera desde a primeira hora: não vai ser só mais um e não vai ser também apenas "o filho do Rouxinol". É um toureiro de uma casta sem fim, está a encontrar e a marcar o seu espaço. E ontem voltou a dar um importante grito de alerta. Lidou a primor os dois toiros, pisou a linha de fogo, pôs emoção e risco em todas as sortes.
No final, Rui Bento (seu apoderado) deixou-me o aviso: está aqui o mano-a-mano que pode dar brado e agitar tudo isto, como se precisa e se deseja. A seguir à alternativa de Prates, vai haver "guerra" com Rouxinol Júnior. Lisboa podia - e devia - ser o palco dessa aclamação às novas figuras. E a Festa precisa, repito, de inovação e, acima de tudo, de competição. De verdade e de emoção. Estas duas novas estrelas estão aí. Aproveitem a onda, senhores empresários!
Duarte Pinto é um toureiro de "outros campeonatos". Prima pela clareza e pela pureza do toureio clássico. Faz gala nessa forma bonita de tourear à maneira antiga. É um toureiro de bom gosto, de classe, pode com todos os toiros e o seu nome fica bem em qualquer cartel.
De investidas menos claras, o primeiro toiro da corrida foi daqueles que, como se diz agora, "se deixou tourear" sem dar grandes opções de brilho ao cavaleiro. Duarte empenhou-se, entregou-se, disse logo que não ia estar ali para ser um mero espectador da afirmação dos "meninos". E deu-lhes luta.
O seu segundo toiro era um toiro de bandeira e Duarte Pinto entendeu-o na perfeição, lidou-o como tinha que ser, emocionou com as usuais sortes frontais, a vencer o piton contrário, a entrar pelo toiro dentro, a cravar de alto a baixo, ao estribo, como os livros ensinam. Uma lição à antiga.
Uma palavra de louvor e aplauso para todos os bandarilheiros das quadrilhas dos três cavaleiros pela brega acertada e sem exagero de capotazos.
Os toiros de Castro, sem o "terror" de outros tempos, foram toiros sérios, a impor emoção, a pedir contas, muito bem apresentados, bonitos e a dar seriedade ao espectáculo. No último, de nota alta, o ganadero Fernandes de Castro (filho) foi premiado com merecida volta à arena, o corolário e a consagração de um triunfo importante da ganadaria.
Não foram fáceis as pegas. O primeiro toiro tinha força, mas não foi problemático para os forcados. Dário Silva, dos Amadores do Ribatejo, pegou-o à primeira tentativa, esteve bem na cara do oponente e o grupo ajudou na perfeição. A segunda pega do grupo chefiado por Pedro Espinheira, ao quarto toiro da corrida, foi executada por João Oliveira, com algumas dificuldades, à quinta tentativa.
Pedro Galamba, dos Amadores da Tertúlia Tauromáquica do Montijo, não se entendeu com o segundo toiro da tarde. Depois de seis (ou mais, perdeu-se-lhes a conta) tentativas frustradas, a pega acabou por ser bem consumada, de cernelha, por Luis Carrilho e Manuel Cabral. O mesmo Luis Carrilho, futuro cabo do grupo, voltou a entrar em cena no quinto toiro da corrida, pegando-o com galhardia à segunda, bem ajudado pelos companheiros, depois de brindar a pega a Luis Branquinho (antigo cabo do grupo) e seu sobrinho, no aniversário da morte de seu irmão, o saudoso António M. Branquinho.
Os Amadores do Montijo pegaram o terceiro toiro da corrida à terceira, por intermédio de Hélio Lopes; e fizeram, com o valoroso João Paulo Damásio na cara, a grande pega da tarde ao último toiro de Castro, ganhando, com o consenso geral, o prémio deste concurso de pegas que tinha o nome de José Coisinhas, antigo forcado do grupo e ex-combatente Fuzileiro, troféu que foi entregue pelo próprio.
A corrida de ontem foi dirigida com acerto e competência por Ricardo Dias, mais um dos novos "inteligentes". Ao início da corrida foi guardado um minuto de silêncio em memória de Ricardo Antunes, que foi durante muitos anos electricista nesta praça e morreu recentemente vítima de um acidente de trabalho.

Fotos M. Alvarenga