segunda-feira, 6 de maio de 2019

Vila Franca consagrou a próxima grande figura do toureio a cavalo! Olé, António Prates!

Ontem na "Palha Blanco", frente a um dos mais exigentes públicos do país, o jovem
António Prates convenceu tudo e todos com duas actuações verdadeiramente
fantásticas aos toiros de Dolores Aguirre e de Pinto Barreiros, consagrando-se em
definitivo como a próxima grande figura do nosso toureio a cavalo
Duarte Pinto triunfou e conquistou Vila Franca na lide de dois toiros muito sérios
da ganadaria Palha
As fotos de Mónica Mendes provam que Filipe Gonçalves teve ontem momentos
bons em Vila Franca. Mas o toureiro algarvio não chegou nunca a romper nas
lides aos toiros de Saltillo e António Silva. Em baixo, a jovem ganadera Sofia Silva
Lapa (prémio bravura ao toiro do Dr. António Silva) e o maioral da ganadaria Pinto
Barreiros, premiada com o troféu de apresentação ontem em Vila Franca


António Prates viveu ontem na "Palha Blanco" a sua grande tarde de consagração e inequívoca afirmação como futura figura do toureio a cavalo

Miguel Alvarenga - Se alguém ainda tivesse dúvidas, o jovem cavaleiro António Prates deixou ontem bem explicado, com todos os argumentos e mais alguns, que é, inequivocamente, a próxima grande figura do toureio a cavalo em terras de Portugal.
Primeiro, teve a ousadia e o gesto de aceitar este desafio da empresa Levesinho, depois da impossibilidade de Rui Salvador tourear, por lesão ainda não recuperada, de estar ontem em Vila Franca de Xira numa corrida duríssima e com toiros de ganadarias lusas e espanholas impróprios para cardíacos e dos que pedem contas a homens de barba rija. Toiros daqueles que trazem emoção à Festa.
Depois, chegou a Vila Franca e acabou com o quadro, primeiro frente a um toiro com peso a mais para a formologia da raça (670 quilos!) da ganadaria espanhola de Dolores Aguirre, em segundo lugar com um exigente toiro de Pinto Barreiros, de alegres e claras investidas, vencedor do prémio de bravura.
Prates fez tudo bem feito do princípio ao fim nas duas lides, esteve enorme a lidar, bonito e artista, grande a cravar, emotivo e ousado no remate das sortes, nos ladeios, sobretudo diante do enorme Dolores Aguirre, que sem ter feito mal era, contudo, um toiro que impunha respeito e redobrada seriedade.
Alegre, comunicativo, toureando de verdade e com firmeza e atitude, o jovem cavaleiro virou a "Palha Blanco" do avesso, empolgou o público, levantou-o das bancadas - pela verdade e pela emoção do seu toureio de risco. Tarde de definitiva afirmação e de absoluta consagração de António Prates como a próxima e já certa figura do nosso toureio a cavalo.
Está apto e mais que apto para a esperada alternativa, que vai acontecer a 22 de Junho na praça de Alcochete, apadrinhado por António Telles, com o testemunho de Francisco Palha e dos forcados de Coruche e de Alcochete, frente a toiros de Charrua. Já no próximo sávado, 11 de Maio, vamos vê-lo também na primeira corrida do ano na Monumental do Montijo, a do Ex-Combatente Fuzileiro, frente a toiros de Castro e ao lado, outra vez, de Duarte Pinto e também de Rouxinol Júnior em mais uma tarde de prometida competição - e garantida emoção. Prates é desde ontem, já o era, mas agora consagrou-se de vez, um toureiro a seguir.
Foi pena que o público não tivesse enchido ontem, como se impunha, a praça de Vila Franca - que ficou por meia casa - respondendo ao empenho da empresa liderada por Ricardo Levesinho e à sua aposta (ganha) na verdade do toiro e na emoção que tanta falta faz à Festa.
Numa praça que é há muitos anos território sagrado dos Ribeiro Telles (ontem não estava nenhum deles no cartel) e diante do julgamento, nem sempre justo, de um público conhecedor, exigente e que "tem sempre a razão do seu lado", Duarte Pinto é um cavaleiro há alguns anos acarinhado e sempre bem recebido. Também faz por merecer isso, toureia com o bom gosto, a verdade e o rigor que a aficion vilafranquense exige aos toureiros. E ontem não fugiu à regra.
O seu primeiro toiro era o da afamada ganadaria Miura, um dos toiros mais esperados da tarde. Entrou em praça com raça, investiu bem aos capotes, mas cedo lhe descobriram dificuldades de locomoção numa pata dianteira e soaram os primeiros protestos em forma de assobios. O director de corrida Tiago Tavares e o médico veterinário Dr. Jorge Moreira da Silva pediram aos bandarilheiros que o voltassem a mostrar nos capotes, mas acabaram por decidir recolhê-lo e em seu ligar saíu o toiro de Palha que estava destinado à segunda actuação de Duarte.
Toiro bravo, exigente, a pedir contas e a não perdoar deslizes, que Duarte Pinto lidou com saber e maestria, cravando com verdade e a vencer o piton contrário, reunindo rigorosamente ao estribo, primando pela lide brilhante e rematando as sortes com arte. Já mesmo no final, o cavalo escorregou na cara do toiro e viveram-se momentos de algum dramatismo, mas felizmente o que podia ter acabado mal, não passou de um grande susto. Quite valente e oportuno do cavaleiro Francisco Palha, que acudiu ao cavalo e evitou o pior.
Duarte Pinto enfrentou depois outro toiro da ganadaria Palha, o sobrero, que foi também um toiro que transmitiu e primou pela qualidade, proporcionando ao cavaleiro mais um triunfo. O público esteve com Duarte e nem se incomodou muito quando ele falhou, por duas vezes, a cravagem do último ferro. Emendou depois à terceira, acabando por deixar o ferro e saíu sob aplausos, sendo depois premiado com volta à arena. Duarte Pinto conquistou em definitivo o difícil público de Vila Franca. Mercê da sua entrega, do seu desmedido valor - como toureiro bom que é e dos de cima.
Mais dificuldades sentiu ontem Filipe Gonçalves para convencer os vilafranquenses. Pelas fotos de Mónica Mendes, jovem repórter a quem tiro o meu chapéu, se pode avaliar que Filipe até teve momentos bons e ferros empolgantes, mas a realidade é que ontem alternou o bom com o mau e nunca chegou a romper nas lides aos toiros de Saltillo e de António Silva (que saíu em quarto lugar com o couro rasgado e o piton direito à mostra, o que obrigou a que fosse recolhido para ser de novo embolado, sendo depois lidado em quinto lugar).
Não dando propriamente nenhum petardo, Filipe Gonçalves andou ontem meio descentrado, o público meteu-se várias vezes com ele e a verdade é que as coisas não funcionaram. Não escutou música, nem deu volta à arena nos dois toiros. O verdadeiro Filipe não esteve ontem em Vila Franca.
As seis pegas foram magníficas, como já aqui ficou detalhadamente referido, numa tarde de emoção e triunfo para os grupos de Lisboa e de Vila Franca. Forcadões de verdade frente a toiros duros e sérios.
Francisco Faria, um dos grandes pilares do Grupo de Vila Franca, ainda de muletas e não totalmente recuperado da lesão na perna sofrida quando pegava o último toiro da corrida de abertura da temporada em Lisboa, foi brindado por Duarte Pinto (que nessa noite lidou o toiro de António Silva que o magoou) e também pelos seus companheiros.
O Dr. Vasco Lucas, Jorge Faria, antigo cabo dos Amadores de Vila Franca, o bandarilheiro Diogo Malafaia (vedor de toiros da empresa do Campo Pequeno), o ganadero Nuno Casquinha e o empresário Ricardo Levesinho constituiram o júri que ontem decidiu que toiros venceram os prémios de bravura e de apresentação. E a escolha recaíu sobre os exemplares das ganadarias de Pinto Barreiros (bravura) e Dr. António Silva (apresentação). Não houve protestos, mas não teria vindo nenhum mal ao mundo, bem pelo contrário, se o troféu enaltecedor da bravura tivesse recaído por qualquer dos dois exemplares da ganadaria Palha e tivesse ficado nas mãos de João Folque, se bem que o sobrero que substituiu o Miura não entrasse, por isso, em concurso.
No conjunto, o maior destaque foi dado pelas ganadarias nacionais e a vitória foi, por isso mesmo, nossa, muito nossa, como em Aljubarrota. O toiro de Saltillo foi reservado e andou solto, o de Dolores Aguirre primou apenas pelo exagerado tamanho, sem mais dotes.
Tiago Tavares esteve diligente e dirigiu a corrida com rigor e competência. Houve ambiente, seriedade e toiros a pedir contas. Só faltou mesmo mais público.

Fotos Mónica Mendes