sexta-feira, 7 de janeiro de 2022

Empresários colocam proprietários de praças do Montijo e da Figueira entre a espada e a parede: ou baixam as rendas ou não concorremos!

Mau tempo no canal: os empresários tauromáquicos nacionais podem deixar em branco os concursos para adjudicação das praças de toiros do Montijo e da Figueira da Foz (fotos), depois de ontem, reunidos por videoconferência, terem concluído que "ambas as gestões são impraticáveis" face aos valores exorbitantes exigidos pelos respectivos proprietários - Santa Casa e Coliseu Figueirense - para a adjudicação das mesmas.

Num comunicado emitido esta manhã, a Associação Portuguesa de Empresários Tauromáquicos (APET) põe o dedo na ferida - uma posição inédita, assumida pela primeira vez pela classe empresarial - e informa que "após reflexão e auscultação com os seus associados em reunião mantida durante o dia de ontem, sobre as condições tornadas públicas recentemente para adjudicação da Praça de Toiros do Montijo e do Coliseu Figueirense, considera unanimemente que ambas as gestões são impraticáveis, obrigando a valores financeiros que podem colocar em causa o equilíbrio, a normalização e o respeito perante todos os demais intervenientes".

Recorde-se que a Santa Casa da Misericórdia do Montijo exige no caderno de encargos do concurso para adjudicação da sua praça de toiros um valor de 80 mil euros por duas temporadas, enquanto que o Coliseu Figueirense estabelece como licitação mínima pelo aluguer da centenária praça de toiros da Figueira da Foz o valor de 90 mil euros por três anos - valores nunca antes praticados nas duas praças.

No referido comunicado, a APET sublinha que "a situação mundial que estamos todos a viver, bem como, todas as restrições que devido à Covid-19, nos condicionam à prática da nossa atividade laboral, acumulando com a prevista crise económica, consequência do menor poder de compra dos aficionados, faz-nos analisar as propostas de forma bastante cautelosa e receosa".

"É importante mantermos o espírito de união e que todos percebamos, inclusivo os proprietários dos imóveis, que cada vez mais as despesas têm que ser controladas, pois somente assim conseguimos garantir o Futuro da Tauromaquia criando espectáculos atractivos com capacidade de atracção de público", considera a APET, apelando aos seus associados, ainda que indirectamente, para que se abstenham de concorrer às duas praças.

Curiosamente, Ricardo Levesinho, actual presidente da APET, foi nos últimos anos o empresário adjudicatário da praça da Figueira da Foz (e já adiantara ao "Farpas" que tinha a intenção de se recandidatar para continuar o seu trabalho) e era apontado como um dos mais fortes candidatos à adjudicação da Monumental do Montijo - mas não certamente pelos valores exorbitantes exigidos pelos proprietários de ambos.

Esta é a primeira vez que acontece uma coisa destas. A primeira vez que os empresários reflectem e pressionam os proprietários das praças a reflectir também e a reverem os seus cadernos de encargos.

E agora, das duas, uma: ou os empresários assumem o "espírito de união" a que apela a APET e se solidarizam uns com os outros, não concorrendo ao Montijo, nem à Figueira. Ou aparece algum "xico esperto" a furar a solicitada abstenção e ganha "por maioria absoluta" as duas praças - comprometendo seriamente o futuro da tauromaquia.

Como terceira hipótese, é ainda de admitir que os proprietários das duas praças se recusem a rever os cadernos de encargos, façam um braço de ferro com os empresários, estes mantenham a decisão de não concorrer - e as duas praças fiquem de portas fechadas nos próximos anos.

Aguardemos.

Fotos D.R. e M. Alvarenga