terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Paulo Jorge Ferreira: dez anos depois da alternativa que incomodou tanta gente...




Miguel Alvarenga - Um dia, Manuel Jorge de Oliveira disse-me que tinha "lá em casa" um "puto" que "se fizesse aos toiros, na praça, o que faz às vacas no meu tentadero, vai dar que falar e pode revolucionar isto tudo". Fui vê-lo num treino. Fiquei deslumbrado, confesso.
"É um Pablo Hermoso, um Cartagena em potência. Pode dar o abanão que está a fazer falta na nossa Festa" - insistiu Manuel Jorge.
O "puto" era Paulo Jorge Vieira Jesus Ferreira, os pais tinham um café na Azambuja, gente simples, mas gente boa.
Acompanhei a sua trajectória desde o princípio, acreditando sempre nas doutas palavras do Manuel Jorge. Estava ali, de facto, um toureiro para revolucionar, para dar que falar. Pela forma diferente, ousada, arrojada e meio "tremendista" com que interpretava o toureio.
Mas lembro-me de ter alertado o Manuel Jorge: "Olha que não vai ser fácil aceitarem-no. Vão cortar-lhe as pernas à nascença, porque ele incomoda". Meu dito, meu feito.
Paulo Jorge Ferreira apresentou-se em público na Azambuja em 4 de Março de 200, fez a prova de praticante na mesma praça a 14 de Abril do ano seguinte, com toiros da antiga ganadaria do Maestro Vitor Mendes.
O saudoso empresário Manuel Gonçalves era um visionário. Diferente de tudo e de todos. Foi também um dos que acreditou nas potencialidades do toureiro. Levou-o à alternativa nuna Corrida TV/Norte na Póvoa de Varzim (na foto ao lado, comigo, nessa tarde). Dia 21 de Julho de 2002, cumprem-se esta temporada dez anos. Manuel Jorge foi o padrinho e as testemunhas eram Joaquim Bastinhas, Rui Salvador, Pedro Franco e Vitor Ribeiro, com toiros de Herdeiros de Cunhal Patrício.
Como eu previa, seguiram-se poucas corridas e num instante o Paulo Jorge foi "encostado à parede". Aos "estabelecidos" não interessava um "furacão" daqueles. Espanha foi a opção, apoiado por Paco Duarte, quando aqui se lhe iam fechando as portas. Mas as coisas não estavam fáceis do outro lado da fronteira e Paulo acabou na Califórnia. Primeiro a tourear e a triunfar, depois a viver, radicado na quinta de quem nele também acreditou, os irmãos António e Jorge Martins - onde hoje ainda se encontra radicado e é lider do "escalafón" nas corridas ali realizadas por empresários e aficionados oriundos da Ilha Terceira.
Dez anos depois da triunfal alternativa na Póvoa de Varzim, Paulo Jorge Ferreira teve, por fim, a consagração e o reconhecimento merecidos. Já era tempo de vir a Portugal comemorar o 10º aniversário da sua carreira profissional. Têm a palavra os senhores empresários...

Fotos Luis Mourato, D.R. e Emílio