sexta-feira, 7 de agosto de 2020

Joaquim Grave: o rescaldo da noite triunfal no Campo Pequeno

O ganadeiro Joaquim Grave faz o balanço, no rescaldo do grande triunfo da ganadaria ontem no Campo Pequeno

Caros amigos, ainda no rescaldo da corrida do Campo Pequeno de quinta-feira. Sempre tenho dito que a festa dos toiros é uma festa de emoções e não de perfeições. Desta vez fiquei ainda mais convencido. Sim, porque defendo que somos seres emocionais que às vezes raciocinamos e não seres racionais que às vezes nos emocionamos.

Emocionei-me ao sentir que o público estava com os toiros, identificado com cada um deles. Emocionei-me ao ver uma Senhora toureira Ana Batista ela também emocionada pelo que representava a corrida para ela, diante do lote mais complicado a resolver com galhardia e honra o seu lugar. Emocionei-me também ao ver um jovem veterano, Manuel Ribeiro Telles Bastos, destapar a sua veia artística e disfrutar, também ele emocionado, pelo que tinha diante e a tourear como ninguém. Emocionei-me ao ver o Luís Rouxinol, Jr. a dizer porque podem contar com ele e a triunfar também ele emocionado.

Emocionou-me ver um forcado que particularmente muito prezo em dia de aniversário, Francisco Borges, a pegar não o 5º toiro como eu gostaria, mas o primeiro talvez dos mais complicados da corrida e a resolver uma papeleta com uma eficiência e sabedoria ao alcance de poucos. Sabedoria também do cabo António Vacas de Carvalho.

Emocionei-me depois a ver o cabo de Vila Franca, Vasco Pereira a conseguir quase o impossível, meu Deus que braços! Que garra!

Continuando nos forcados também houve emoção na pega do Zé Maria Vacas de Carvalho filho do antigo cabo Paulo Vacas de Carvalho. Caramba! Este apelido vale ouro em Montemor e na forcadagem! Depois o David Moreira de Vila Franca já com uma história com Murteira Grave, assustou-me e emocionou-me diante daquele toiro tão sério.

Por último e por Montemor o Bernardo Dentinho, outro apelido por quem nutro muita amizade e admiração citar sabendo emocionado que tinha que fechar com chave de ouro aquela faena. A fechar a corrida, o Rui Godinho por Vila Franca trancou as nossas emoções para que ficassem bem guardadas; que bonito, que emoção ver forcados de eleição diante de toiros sérios.

Mas meus amigos, não posso negar as emoções que senti ao ver entre outros, o quinto toiro Marismero, 44, a entregar a vida em cada investida com que galopava entregado à sua natureza de animal de combate, emociona-me ver como um animal com a sua bravura passiva no campo, a possa transformar numa bravura activa numa arena; emociona-me ver quando os toiros tem curvas nas suas investidas humilhadas ao extremo, quando querem colher o adversário por baixo, com nobreza, mas com transmissão, chegando ao fim da lide roto, vazio, sem outras armas que a bravura que levam dentro, mas que ainda conseguem galopar uma última vez em direcção aos curros. Autêntico milagre zootécnico! Claro que havia uma expectativa acrescida com este toiro. Há quase um ano, fomos protagonistas de um acidente que me poderia ter sido fatal, mas não, o Marismero acabou por me salvar a vida e, destino caprichoso! não podia ontem fazer outra coisa que não fosse eu também, salvar-lhe a vida para regressar ao campo e padrear as vacas da ganadaria.

Por último, mas não menos importante fecho com as emoções que me encheram os olhos de lágrimas ao ver as minhas filhas Carolina e Sarah na arena (a Joana ficou na bancada a cuidar do meu primeiro neto que traz na barriga) e a Leonor estava ausente, a dizerem-me que posso um dia ir descansado. E isso é tudo! E é tão belo!

Joaquim Grave
Galeana, 7 de Agosto de 2020

Foto M. Alvarenga