O que antes fora um drama e quase uma tragédia, foi ontem, em poucos minutos de uma bravura sem fim, um triunfo. E um triunfo para a História. Com várias estórias.
Miguel Alvarenga - Há praticamente um ano, o toiro Marismero de Murteira Grave infringiu na Herdade da Galeana uma brutal cornada ao seu dono, Joaquim Grave, que teve que ser operado no Hospital de Évora - e só mesmo por milagre o acidente não foi mais grave. Ao dar-lhe a cornada, o toiro atirou-o para cima do muro e assim salvou-lhe a vida. Se tem sido de outra forma, tinha-o morto. Esse mesmo toiro, o quinto lidado ontem em Lisboa, que pesou 606 quilos e era uma estampa - e de que maneira Manuel Telles Bastos o lidou! - deu agora a Joaquim Grave uma das maiores alegrias da sua vida de ganadeiro.
Bravo, nobre, exigente, proporcionou a Manuel Ribeiro Telles Bastos aquela que muitos consideram a actuação mais importante da sua carreira. E a Joaquim Grave, que o aplaudiu no final quando o director de corrida João Cantinho o honrou com "volta à arena", o Marismero deu ontem a alegria e a compensação com que qualquer criador de toiros bravos sonha.
No final, Joaquim Grave teve também honras de ida à praça, acompanhado por sua filha Sarah e ao lado de Manuel Telles Bastos e do heróico forcado Bernardo Dentinho (que pegou magistralmente o toiro) recebeu do público uma das maiores e mais sentidas ovações da noite. Momentos antes, o público - que enchia praticamente a lotação possível da praça - tributara ao Marismero outra estrondosa ovação. Das que arrepiam. De pé.
Mais: Manuel Telles Bastos e Joaquim Grave andavam (mais ou menos, que entre homens bem nascidos isso nunca se passa) de candeias às avessas desde a cena (que não vale a pena lembrar) do festival em Mourão. Ontem selaram uma amizade antiga e deitaram para trás das costas todas as possíveis desavenças com um sentido abraço na arena. E é por isso que a Festa é bonita, feita de sentimentos. E de gestos de homens de bem.
O Marismero foi "indultado" - como não podia deixar de ser. Já voltou à Galeana. Para um dia voltar, com os seus filhos, a dar ao Joaquim as imensas - e tão merecidas - alegrias que ontem lhe deu no Campo Pequeno.
E as fotos falam por si.
Fotos M. Alvarenga
