quinta-feira, 14 de agosto de 2025

Alcochete: a última pega de Marcelo Lóia e as outras da duríssima noite do Barrete Verde com os toiros "furiosos" de Prudêncio

Miguel Alvarenga - Se as coisas fossem sempre fáceis e os toiros fossem sempre dóceis e nada agressivos, levando o espectador aficionado a dizer entre dentes que "com toiros destes até eu era toureiro ou mesmo forcado", a Festa perdia o seu carisma e o seu interesse e as praças esvaziavam-se, acabando por obrigar os empresários que restam a fechar as portas. 

Quero com isto sublinhar que aquilo que aconteceu esta terça-feira em Alcochete, com seis toiros duríssimos e furiosos, quase impróprios para consumo, verdadeiras máquinas de espalhar o pânico e desorientar quem os enfrenta, foi um formato de tourada perigosa e inquietante que faz falta existir de quando em vez - para gáudio dos aficionados, embora prejudicial para o bem estar dos toureiros e dos forcados. Faz explodir a adrenalina, mas também não pode ser assim todos os dias. Já não estamos no tempo dos circos romanos e dos gladiadores à luta com os leões.

Os Forcados do Aposento do Barrete Verde de Alcochete, dignos amadores e defensores desta arte, única e tão nossa, de pegar toiros, há já sessenta anos, lutaram contra os toiros da ganadaria Prudêncio assim como os gladiadores romanos faziam frente aos leões. Foi uma jornada duríssima, ainda para mais naquela que era (pasme-se!, alguma coisa não vai bem neste reino...) a primeira corrida do grupo nesta temporada que já vai a meio e a corrida festiva de comemoração do 60º aniversário da sua fundação. Tinha que ter sido outra festa. Foi antes uma autêntica e muito dura batalha campal

Mesmo assim e apesar de tudo, há que enaltecer a dignidade e a valentia com que os forcados do Barrete Verde cumpriram a sua função nesta data que era um marco importante na sua história. Primeiro, tiveram a coragem de aceitar fazer a festa com seis Prudêncios que, pelo historial da ganadaria, se sabia que não iriam ser pêras doces. Depois, aceitaram (ou não tiveram outra hipótese...) fazer esta encerrona sendo a sua primeira corrida da temporada. Depois, e para o fim ficam os primeiros, estiveram em campo muitos forcados antigos, de novo fardados e alguns deles a intervir nas pegas, casos dos ex-cabos Luis Miguel Cebola e João Salvação "Niña". Grupo valente, Forcados heróicos.

Nuno Veríssimo foi o forcado de cara na primeira pega, muito bem a recuar e a mandar na investida do toiro, sendo prontamente ajudado pelos companheiros, consumando ao primeiro intento.

O segundo toiro, que foi o toiro do azar de Ana Batista, foi o eleito por Marcelo Lóia para fazer a despedida. Momentos de grande emoção, pega consumada com o valor de sempre ao segundo intento, depois de ter sido violentamente despejado na primeira tentativa, pega a reflectir, ainda e sempre, a força e o poder deste grande forcado. Aguentou firme e sózinho derrotes brutais com o grupo a correr atrás do toiro para o ajudar, parecia a histórica pega da 2015 em Lisboa, ainda hoje lembrada como uma das grandes pegas do século naquela arena.

Seguiu-se a cerimónia de passagem de testemunho a seu irmão Simão Lóia, novo cabo do grupo, com lágrimas, muita emoção e a derradeira volta à arena com o público todo de pé (as fotos em baixo falam por si) e outra em ombros seguido por todos os companheiros e com o público a aplaudir calorosamente. Adeus, Forcado!

O terceiro Prudêncio foi pegado com brilhantismo e galhardia por João Azevedo e Silva à primeira tentativa, com o grupo a ajudar muitíssimo bem. Brindou a pega a Fernando Pinto, Presidente da Câmara de Alcochete.

Simão Lóia, o novo cabo, brindou ao irmão Marcelo e foi à cara do quarto toiro da noite, difícil, exigente e reservado. Derrotado com violência nas duas primeiras tentativas, acabou por pegar à terceira, a sesgo e com as ajudas muito carregadas.

A quinta pega foi enorme, emotiva e consumada com técnica e perfeição por João Miguel Rosa, que brindou às simpáticas meninas do Aposento do Barrete Verde que oferecem flores aos artistas no final das lides. Um pegão e um forcado de dinastia que veio para dar continuidade à história escrita neste grupo por seu pai, João Rosa, e seu tio, Sidónio Rosa, Forcados com letra maiúscula.

O forcado brasileiro Edilson Correia salvou a honra do convento nos último toiro, consumando a pega na quarta tentativa efectiva, depois de intervenções mal sucedidas de José Florindo e Bruno Amaro, ambos conduzidos à enfermaria, mas que não sofreram, felizmente, lesões graves.

De realçar o facto, bem visível em algumas fotos, da pronta e sempre cuidada intervenção do Dr. António Peças a cuidar das mazelas dos forcados. Quem tem um Dr. Peças a seu lado tem tudo!

Ficam as fotos das sequências das seis duras pegas. Mais logo voltamos com os melhores momentos (tarefa nada fácil de aqui enumerar...) dos seis cavaleiros anteontem em Alcochete.

Fotos M. Alvarenga



60 anos de História: glórias do passado de novo em praça








Nuno Veríssimo na primeira pega da noite à primeira tentativa




































A última pega de Marcelo Lóia e a volta à arena aos ombros
depois de se despedir e passar o testemunho ao irmão Simão

























A valente pega de João Azevedo e Silva ao terceiro toiro,
à segunda tentativa, brindada ao Presidente da Câmara


























A duríssima e emotiva pega do novo cabo Simão Lóia, à terceira
e a sesgo, ao quarto Prudêncio da noite











Forcado de dinastia: filho de João Rosa e sobrinho de Sidónio
Rosa, João Miguel Rosa brindou às meninas do Barrete Verde
e pegou o quinto toiro à primeira tentativa. Brilhante!






















Quatro tentativas foram feitas para consumar a pega do sexto
toiro. Pegou-o o forcado brasileiro Edilson Correia, depois de
tentativas falhadas de José Florindo e Bruno Amaro