Miguel Alvarenga - Como se pode constatar nesta foto do momento das cortesias na corrida desta tarde na praça das Caldas da Rainha, com lotação esgotada, à direita das quadrilhas de bandarilheiros dos cavaleiros não está ninguém onde era suposto estar o matador Pedrito de Portugal, único espada do cartel, ladeado pelos seus bandarilheiros.
E não está porque Pedrito aos costumes disse nada, como o fizera já há alguns anos nas suas últimas presenças em praças de Portugal, atravessando a praça de lado a lado e entrando na trincheira, ou seja. fazendo o passeíllo à espanhola, recusando-se a ficar ali especado a olhar pró boneco enquanto os cavaleiros percorrem a praça, de sector e sector, a colher as palmas e os louros dos espectadores, como se fossem eles as únicas vedetas do elenco e os matadores fossem, apenas e só, uns verbos de encher, figuras secundárias do elenco...
Antes de passar à crónica de Manuel Caetano, a mais jovem promessa da crítica taurina nacional, que aqui se estreou no ano passado, vim aqui dar os parabéns a Pedrito de Portugal e felicitá-lo por, uma vez mais, ter tido a coragem de romper essa estúpida e caduca tradição das cortesias à portuguesa - onde não se respeita e, pior ainda, se humilha o toureio a pé e a figura do matador de toiros (ou novilheiro), deixando-o ali a olhar pró boneco e a fazer aquilo a que vulgarmente se chama figura de urso, enquanto os cavaleiros recolhem, sorridentes, as palmas de todo o público...
Dir-me-ão os Velhos do Restelo que, santa paciência, é assim há muitos anos, é a nossa lei, é o formato das nossas cortesias, e mais assim e mais assado. Pois é. E é assim porque nunca ninguém teve a coragem de mudar as coisas. Teve-a Pedrito. Mude-se, então.
Há um Regulamento Tauromáquico, eu sei. Há uma lei. E há uma tradição. Mas mesmo as tradições, quando já são estúpidas e sem nexo há muitos anos, podem e devem evoluir, ser alteradas. Pedrito teve a coragem de o fazer. O meu aplauso.
Foto Manuel Caetano