sábado, 7 de abril de 2012

Alcochete também quer Tauromaquia "Património Cultural Imaterial"



À semelhança do que já aconteceu no Sabugal (Capeia Arraiana), em Vila Franca de Xira e Barrancos, Alcochete também pretende decretar a Tauromaquia como Património Cultural Imaterial das suas gentes. A iniciativa está a ser desenvolvida pelo Clube Taurino de Alcochete, que enviou nesse sentido à autarquia a carta que a seguir se publica:

"Em 1545, Garcia de Resende escreve o 'que El-Rey fez yndo com a Raynha a ver correr touros em Alcouchete'. Saindo a pé, com D.Leonor e a corte, para ver correr toiros no terreiro frente à Igreja, um toiro fugiu. Veio, este,pela rua principal, a mesma por onde ia El-Rei. Muita gente fugia e gritava diante do toiro. Aqueles que iam com ele, fugiram também, metendo-se por casas e travessas. D. João II tomou a Raínha pela mão e, diante dela, de capa no braço e espada "apunhada", com enorme valentia, esperou pelo toiro de frente! "Quis Deos que [otoiro] passou sem entender nelle".Ficaram muito envergonhados os fidalgos e os outros homens.
Mostrava-se, assim, Alcochete, uma terra onde se ia ver correr touros, no último quartel do século XV (esta crónica é posterior a essa data). Aliás, a Dinastia Joanina, ainda no século XIV, na pessoa do seu fundador, El-Rei D._João I, Mestre de Avis, permanecia frequentes vezes nesta terra, graças aos seus bons ares e abundante caça. O Rei relata no seu Tratado de Montaria, as caçadas aos veados, aos javalis e aos Toiros, muito provavelmente nestas mesmas terras de Alcochete. Tais relatos, são o que mais próximo se julga estar da tauromaquia actual: do exercício_físico, militar e de lazer, até ao espectáculo organizado que hoje vemos.
Seu filho, El Rei Dom Duarte, Rei de Portugal e do Algarve e Senhor de Ceuta, escreve o "Livro da Enssynança de Bem Caualgar toda Sela", cujo conteúdo reforça e complementa os escritos de seu pai.
Passados três séculos, no reinado de D. Maria II, Passos Manuel, Ministro do Reino, decreta o fim das corridas de toiros em Portugal, a 19 de Setembro de 1836. No entanto, em Alcochete, até 1843, continuaram a ser oferecidos, ao Orago São João Baptista, os toiros para serem corridos no terreiro diante da Igreja Matriz. Chamavam-se a estes toiros os "Toiros do Santo" que, depois de corridos, eram soltos na lezíria onde pastavam livremente. Tudo indica que, se esta data é posterior à promulgação do tal decreto, os Alcochetanos de então ousaram sobrepôr aos ditâmes de um qualquer ministro do Reino as suas ancestrais tradições, isto é, aquilo que no presente mais os identificava. A provar a justeza de tal acto, o dito decreto é revogado por outro, nove meses depois, a 27 de Junho de 1837.
Alcochete é, sobretudo, uma terra de forcados."

Foto D.R.