quarta-feira, 11 de abril de 2012

Alvarenga analisa estratégia de João Salgueiro




Miguel Alvarenga - João Salgueiro voltou a surpreender. Como sempre. Mais que surpreender: voltou a marcar a diferença.
Entrevistou-se a ele próprio, satisfazendo a curiosidade a todos, respondendo às muitas questões que lhe vinham sendo colocadas. Primeiro, poupou trabalho aos "escribas". Como se dizia antigamente na gíria jornalística, deu-nos o trabalhinho feito. E, mais importante: não criou indisposições a ninguém. Para dar uma entrevista, tinha que escolher um orgão de Comunicação Social. Irritando os outros a quem negara o "exclusivo". Até nisso foi inteligente. E genial. Como sempre. À mesma hora, mandou a entrevista a todos. No "timing" certo: a véspera da abertura da temporada no Campo Pequeno.
Um comunicado vulgar é, por norma, "uma seca". Salgueiro inovou. Foi diferente. Surpreendeu.
Esclareceu, primeiro que tudo, que não fica "na prateleira" - para onde já foram quatro. E para onde outros irão nos próximos tempos.
Depois, deu a entender que há males que vêm por bem. A lesão sofrida num acidente durante um treino foi, de facto, um mal que veio por bem. João Salgueiro vai estar mais algum tempo parado, até estar a cem por cento para regressar. Dá entender que será só em Junho ou mesmo em Julho. Confirma, uma vez mais, a sua inteligência, o seu saber e a sua forma realista de ver a actual situação.
Nas entrelinhas - há várias considerações que nos deixa nas entrelinhas - dá a entender que "vai ver a banda passar, cantando coisas de amor", isto é, vai deixar que se desgaste a imagem de muitos toureiros que andam neste momento (não é segredo para ninguém) a tourear pelo preço da uva mijona, para entrar em cena só depois, quando precisarem dele. E vão precisar.
A temporada arranca amanhã em Lisboa e já há toureiros vistos e revistos. Toureiros que já foram a todo o lado e se anunciam para todo o lado. João Salgueiro, sem o dizer, dá a entender que vai esperar pelo desgaste dos outros e pela necessidade das empresas - e do público - em o chamar. Está uma vez mais a ser inteligente.
Não é por acaso que refere, mais que uma vez, que voltará "quando sentir que as condições estão reunidas". Não se refere, certamente e em exclusivo, às suas condições físicas, ao restabelecimento da sua lesão na perna. Refere-se, dá a entendê-lo, às "outras condições". Refere-se (nas entrelinhas) aos cachet's. "Explica", sem o explicar, que não pretende "embarcar" no "barco da crise" em que todos embarcaram e andar aí a tourear por meia dúzia de euros ou "de borla", ou a pagar os toiros - como alguns. Tem o seu patamar, tem o seu lugar, é um génio, e vai valer-se disso. Na hora certa. Quando chegar o momento.
Há que entender a entrevista que Salgueiro fez a ele próprio através, sobretudo e principalmente, dos "recados" que ela insere e que ela transmite. Que não são poucos. E que revelam, uma vez mais, a diferença com que o cavaleiro de Valada quis marcar este início de temporada. Igual para todos. Mas certamente diferente para ele. Primeiríssima Figura - ainda e sempre!

Fotos João Dinis/Arquivo e Inácio Ramos Júnior/Arquivo