Caros Amigos,
Face às solicitações que me têm sido
feitas nos últimos dias por vários sites e blog's, sobre a minha temporada de
2012, decidi, se assim concordarem, em lugar de emitir um comunicado ou
convocar uma conferência de imprensa, "fazer uma entrevista" a mim próprio,
isto é, responder aqui, de forma sucinta e esclarecedora, às diversas questões
que me têm sido colocadas, por forma a não deixar dúvidas e aclarar de uma vez
por todas a minha actual situação e os projectos que tenho para este ano.
João Salgueiro
- Vou ou não vou tourear em 2012?
- Concerteza que sim. É a minha
profissão e a minha vida. Não tão cedo quanto se esperava, infelizmente, mas
felizmente por outro lado, como já explicarei, devido à lesão na perna
esquerda, que me tem impossibilitado de me preparar condignamente nestes dois
últimos meses, neste período de pré-temporada. Praticamente ainda não treinei.
Por outro lado, a lesão (contraída durante um acidente quanto treinava no meu
tentadero, dando uma fortíssima pancada com a perna contra a parede, que
originou uma complicada fractura) não está ainda completamente curada e os
médicos aconselharam-me a esperar mais algum tempo. Sou profissional e jamais
me apresentaria em praça sem me encontrar a 100 por cento.
- Felizmente por quê?
- Felizmente porque, por um lado, esta
paragem forçada me permitiu meditar, pensar e equacionar o meu futuro. As
coisas não estão fáceis, vive-se um momento de crise muito grande e esta
paragem, por um lado, tem como positivo o facto de me permitir (me obrigar,
diria mesmo) a só voltar a tourear quando considerar que estão reunidas todas
as condições para isso. Em todos os aspectos. Mas sobretudo e principalmente no
aspecto físico. Mas não só.
- E quanto tempo isso vai demorar a
concretizar-se?
- Não tenho pressa. O Senhor João
Núncio, em muitas temporadas, iniciava só a sua no 15 de Agosto nas Caldas,
antes não toureava. Não o pretendo imitar, se estou parado neste momento não
foi por minha vontade. Mas aproveito a paragem para modificar algumas coisas,
para virar uma nova página na minha carreira.
- Chegou a constar que parava mesmo, que
suspendia a temporada, como já outros fizeram...
- Infelizmente, o acidente ocorreu, não
foi uma "invenção". Parei uma vez na vida, há alguns anos,
precisamente porque não se encontravam reunidas as condições que eu considerava
serem necessárias para me sentir a gosto, para triunfar, para as coisas sairem
bem. Estive uns meses parado e depois regressei num mano-a-mano com "El
Juli" que encheu o Campo Pequeno. Desta vez não há paragem nenhuma. Há,
sim, uma paragem forçada. Mas assim que estiver, como disse, a 100 por cento e
assim que estiverem reunidas as condições, arranco.
- Está contratado para as Sanjoaninas em
Angra do Heroísmo. Vai?
- Concerteza que sim. Estou contratado
para uma corrida e vou. Mal de mim se no final de Junho ainda não estivesse em
forma. Estarei certamente.
- E no continente?
- Posso tourear uma ou duas corridas
antes dos Açores, ou só depois, só em Julho. Logo se verá.
- Apoderado novo?
- Acabámos o apoderamento, eu e o
"Nené", que durou oito anos, por mútuo acordo e por considerarmos que
era o momento. Não houve nada de mal que motivasse o fim da nossa relação.
Somos amigos, continuamos amigos, as nossas famílias são amigas. É importante que
isso fique esclarecido. De momento e como é evidente, já surgiram propostas,
mas até nesse aspecto estou calmo, tranquilo e sem pressas. Em princípio, farei
esta temporada sem apoderado. Até porque, pelo facto de a iniciar tarde, não
tenciono fazer um grande número de corridas.
- Poucas, mas boas, é isso?
- É isso. Espero aparecer quando tiver
que aparecer e quando as empresas sentirem que precisam de mim.
- Quer dizer que neste momento não
precisam do João Salgueiro nos cartéis?
- Não quer dizer isso e tanto que não
quer dizer, que a maioria das empresas me têm contactado, directamente,
indagando como estou e quando começo a tourear. Mas, primeiro não posso tourear
já; e depois, como disse, também não tenho pressa. Fui sempre um toureiro que "vendeu"
ao público sentimentos e emoções e é assim que continuarei a ser. Vai chegar o
momento em que a temporada, o público e os empresários vão sentir necessidade
de sentimentos e de emoções...
- E cavalos, João... nunca mais houve um
"Isco" e um "Herói"...
- Não faço comparações com essas cavalos
e com esses tempos. Tudo tem um tempo na vida. O "Isco" e o
"Herói" tiveram o seu e deram-me o seu. Houve outros depois. E há
outros agora. Prefiro guardar a surpresa para quando aparecer. Estou bem
montado, mas antes de começar a tourear, todos os toureiros estão sempre
"bem montados". Tenho cavalos novos, alguns em que deposito grandes
esperanças - vão ver! - e ainda posso vir a comprar mais um ou dois. Quando
aparecer, apareço para surpreender. O João Salgueiro não acabou, como alguns
diziam, quando acabaram o "Isco" e o "Herói". Já acabaram,
infelizmente, há uns anos. E eu ainda cá estou.
- Por outro, lado, o facto de estar
parado, devido à lesão, tem permitido "dar andamento" ao João
(filho), que ultimamente toureava pouco...
- Pois tem. O João tem um coração, uma
garra e uma vontade que podem romper e despoletar de um momento para o outro. A
Festa precisa de sangue novo. Há muitos toureiros novos e muitos filhos de
toureiros. O meu não é melhor nem pior. Mas não pode ser "mais um".
Neste momento, mais maduro, mais toureiro e sobretudo mais consciente das
dificuldades que esta profissão acarreta, o João começa a ter reunidas as
condições, a começar pela quadra de cavalos e a acabar na sua moralização, para
finalmente ir em frente.
- E a "guerra" com o Ventura?
- Transmitiram ao Diego Ventura versões
deturpadas e que se calhar convinham a alguém, àcerca de uma conversa tida
entre o meu filho e o pai do Ventura, numa mesa em que estavam outras pessoas.
O meu filho teria dito, quando lhe propuseram, que não pretendia tomar a
alternativa, mas nunca disse, até por que, graças a Deus, é educado, que não
queria o Ventura no cartel da sua alternativa porque ele não tinha categoria
para tal. E foi isso que lhe foram contar e foi isso que desencadeou toda essa
"guerra", quanto a mim, sem pés nem cabeça. A verdade é que, de
facto, o meu filho ainda não tomou a alternativa, nem certamente a tomará ainda
este ano.
- O Ventura faz falta à temporada
portuguesa?
- Claro que faz e isso nem tem
discussão. Espero que venha.
- E que toureiem os dois?
- Porque não? Eu nunca recusei tourear
com ninguém.
- E toiros, João... ainda mantém a mesma
opinião da célebre entrevista em que falou dos "nhoc-nhoc"?...
- Os "nhoc-nhoc" servem para
dar algum tipo de espectáculo, mas o público e a Festa precisam de emoção à
antiga.
- Quando essa emoção voltar, as praças
voltam a encher?
- Há público para todos os toiros. Mas
que a emoção tem andado meio arredada, isso tem. É um facto.
- Resumindo e concluindo, para quando a
reaparição?
- Reaparição não será, porque não me
afastei. Iniciarei mais tarde a temporada devido a esta lesão. Mas vou tourear.
Tenho um projecto ambicioso, ainda "não acabei", sinto que tenho
ainda muito a dar e que o público me vai querer ver. Vou surpreender quando
aparecer, não vou tourear muito, mas vou fazer, espero, grandes corridas. Estou
moralizado para virar uma importante página na minha carreira.
Fotos D.R.