quarta-feira, 9 de maio de 2012

Lembrando Etelvino Laureano: o jovem novilheiro a quem um toiro malhado de Pablo Romero "matou a alma" em Madrid

Quando há uns anos o "Farpas" o entrevistou em Lisboa, na sede
do Sindicato dos Toureiros
A dramática cornada de Etelvino Laureano em Madrid a 19 de Março de 1948
pôs fim ao sonho de ser matador de toiros




"Nasci em Mira de Aire, mas sinto-me de Azambuja. Vim para cá com seis anos" - contava Etelvino Laureano, ontem falecido, em 2008 numa entrevista ao jornal "O Mirante".
Depois foi para Lisboa e o entusiasmo de ser toureiro levou-o a "dar os primeiros passos" na antiga escola de toureio do Grupo Tauromáquico "Sector 1". Aos 12 anos de idade toureou pela primeira vez numa garraiada em Vila Franca de Xira. "Fiquei entusiasmado, ainda apanhei uma voltareta", recordou.
"Queria seguir a carreira de matador de toiros. Em 1947 fui para Sevilha. Foi a primeira vez que toureei melhor. Uma estocada perfeita. Nunca tinha matado. Cortei duas orelhas" - relatava na mesma entrevista.
Em Setembro desse ano de 1947, actuava como novilheiro na praça de Vila Viçosa ao lado do matador "Carnicerito do México", que morreria nesse dia vítima de cornada (recorte de imprensa da época à esquerda).
"Fiquei impressionado com o que lhe aconteceu. Levou uma cornada no ventre com várias trajectórias. Um desastre... A enfermaria não era nada. Era um quarto com pensos e um enfermeiro. Nem uma ambulância havia. Foi num carro particular para o hospital. Foi operá-lo um cirurgião militar. Morreu poucas horas depois da corrida" - relatou Etelvino Laureano.
A 19 de Março do ano seguinte, 1948, Etelvino Laureano apresentou-se como novilheiro em Madrid, tinha 24 anos e ainda sonhava com a carreira de matador de toiros. Mas o sonho terminou mercê de uma gravíssima cornada infringida por um toiro malhado da famosa ganadaria Pablo Romero.
"Se fosse numa aldeia, tinhas ido para Deus", disse-lhe o médico de Madrid. "Tive a sorte de ser em Madrid, já nesse tempo a enfermaria da praça era um verdadeiro hospital", explicou.
"Estive a levar penicilina durante 48 horas, de duas em duas horas. Pensei no Carnicerito. Tinha sido no ano anterior. Poderia acontecer-me a mesma coisa. E todos os dias olhava para a cornada. Tinha cá uma cicatriz! Esse toiro matou-me a alma!" - recordou, pondo nesse dia ponto final na carreira de novilheiro, tornando-se depois bandarilheiro e mais tarde director de corridas.
Etelvino Laureano faleceu ontem no Hospital de Vila Franca e o corpo será velado a partir desta tarde na Capela de Azambuja, realizando-se o funeral amanhã, quinta-feira, às 10 horas, para o cemitério local. Tinha 88 anos.

Fotos M. Alvarenga e D.R.