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| Quando há uns anos o "Farpas" o entrevistou em Lisboa, na sede do Sindicato dos Toureiros |
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| A dramática cornada de Etelvino Laureano em Madrid a 19 de Março de 1948 pôs fim ao sonho de ser matador de toiros |

"Nasci em Mira de Aire, mas
sinto-me de Azambuja. Vim para cá com seis anos" - contava Etelvino
Laureano, ontem falecido, em 2008 numa entrevista ao jornal "O
Mirante".
Depois foi para Lisboa e o entusiasmo de
ser toureiro levou-o a "dar os primeiros passos" na antiga escola de
toureio do Grupo Tauromáquico "Sector 1". Aos 12 anos de idade
toureou pela primeira vez numa garraiada em Vila Franca de Xira. "Fiquei
entusiasmado, ainda apanhei uma voltareta", recordou.
"Queria seguir a carreira de matador
de toiros. Em 1947 fui para Sevilha. Foi a primeira vez que toureei melhor. Uma
estocada perfeita. Nunca tinha matado. Cortei duas orelhas" - relatava na
mesma entrevista.
Em Setembro desse ano de 1947, actuava
como novilheiro na praça de Vila Viçosa ao lado do matador "Carnicerito do
México", que morreria nesse dia vítima de cornada (recorte de imprensa da época à esquerda).
"Fiquei impressionado com o que lhe
aconteceu. Levou uma cornada no ventre com várias trajectórias. Um desastre...
A enfermaria não era nada. Era um quarto com pensos e um enfermeiro. Nem uma
ambulância havia. Foi num carro particular para o hospital. Foi operá-lo um
cirurgião militar. Morreu poucas horas depois da corrida" - relatou
Etelvino Laureano.
A 19 de Março do ano seguinte, 1948,
Etelvino Laureano apresentou-se como novilheiro em Madrid, tinha 24 anos e
ainda sonhava com a carreira de matador de toiros. Mas o sonho terminou mercê
de uma gravíssima cornada infringida por um toiro malhado da famosa ganadaria
Pablo Romero.
"Se fosse numa aldeia, tinhas ido
para Deus", disse-lhe o médico de Madrid. "Tive a sorte de ser em
Madrid, já nesse tempo a enfermaria da praça era um verdadeiro hospital",
explicou.
"Estive a levar penicilina durante
48 horas, de duas em duas horas. Pensei no Carnicerito. Tinha sido no ano
anterior. Poderia acontecer-me a mesma coisa. E todos os dias olhava para a
cornada. Tinha cá uma cicatriz! Esse toiro matou-me a alma!" - recordou,
pondo nesse dia ponto final na carreira de novilheiro, tornando-se depois
bandarilheiro e mais tarde director de corridas.
Etelvino Laureano faleceu ontem no
Hospital de Vila Franca e o corpo será velado a partir desta tarde na Capela de
Azambuja, realizando-se o funeral amanhã, quinta-feira, às 10 horas, para o
cemitério local. Tinha 88 anos.
Fotos M. Alvarenga e D.R.


