

Miguel Alvarenga - Subi ontem ao quarto piso de um velho edifício na Calle Aduana, em Madrid, próxima das Puertas del Sol, onde está sedidada desde 1963 a célebre Sastreria "Fernín", a mais afamada alfaiataria de toureiros do mundo.
Apesar de conhecer a casa de nome e das muitas reportagens que sobre ela li, foi a primeira vez que lá entrei, acompanhando o meu amigo Manuel Dias Gomes, que ontem foi tirar as provas para um lindíssimo (surpresa) traje de luces que estreará certamente na próxima Feira de Badajoz.
António López (na foto de cima e ao lado, exibindo no seu telemóvel um traje de luces desenhado pela Duquesa de Alba para o matador Cayetano Ordoñez), irmão do falecido Fermín López Fuentes (fundador da casa) é a figura que nos recebe naquele histórico ambiente por onde passaram as maiores e também as menos afortunadas Figuras do Toureio mundial.
De uma simpatia extrema, delicado e eficiente, toma notas com uma preciosa caneta "Mont Blanc", recebe-nos de fato e gravata, solene, que solene é a sala onde nos encontramos. Penso: se estas paredes falassem... Quantos "monstros" do toureio não subiram também as escadas que levam ao quarto andar daquelas históricas instalações por onde ontem nós subimos? Arrepia pensar nisso...
Manuel Dias Gomes tirou as medidas para o traje novo. Seu Avô, o Maestro Augusto Gomes Júnior, que foi o primeiro novilheiro de Portugal a actuar em Espanha nos anos 40, ainda conserva em casa dois trajes de luces feitos pelo mesmo Fermín, nos seus tempos de bandarilheiro, depois de ter renunciado à alternativa de matador de toiros.
Um traje de luces com a assinatura de prestígio da casa Fermín pode custar, no mínimo, perto dos 4 mil euros e no máximo "para cima dos 6 mil", dependendo de vários factores, o principal dos quais diz respeito aos bordados: se forem dos que figuram nos livros de catálogo da casa, serão bordados à máquina e o preço será menor; se forem originais desenhados (como é o caso do traje elaborado pela Duquesa de Alba, mas também de muitos outros), o bordado é feito à mão e o orçamento será bem mais elevado. Mais ou menos quinze dias é o prazo estabelecido para a obra ficar concretizada.
"Há fatos e fatos", explica António López, dando um exemplo engraçado: "Mas também há Ferraris e Lamborghinis e carros de outras marcas, que andam na mesma, mas não têm o 'glamour' destes...". Na sua douta opinião, um novilheiro deve usar um traje "menos pesado" e um matador, sobretudo se for Figura, deve vestir "um fato mais carregado, com bordados que encham mais e dêem mais nas vistas". Tudo ali tem uma razão de ser e a "cotação" do artista não foge à regra para ditar o traje que vai usar.
Capotes, muletas, estoques e espadas são também ali vendidos e em tamanhos diferentes. Há toureiros que preferem capotes ou muletas maiores, outros optam por modelos mais pequenos. Um capote de toureia ronda os 300 euros e uma muleta "anda perto" dos 200.
António López orgulha-se de dar hoje continuidade à casa fundada por seu irmão. Nas paredes da sala, há retratos de vários toureiros famosos como "Manolete" ou Dominguín, mas há sobretudo recordações, muitas recordações de grandes nomes que passaram por aquela sala, entre os quais alguns portugueses como Vitor Mendes, o saudoso José Falcão, Mário Coelho, Amadeu dos Anjos e tantos mais. Se aquelas paredes um dia falassem...
Fotos D.R.

