País descobriu uma nova estrela: João Maria Branco! |
Moura Caetano vive indiscutivelmente a sua hora! |
Depois, há que aplaudir todos os
intervenientes - cavaleiros, forcados, peões de brega, campinos e demais
participantes na corrida - e também o director Pedro Reinhardt, pela dinâmica,
pelo bem sucedido desempenho de todos. A corrida foi triunfal, teve ritmo,
resultou em pleno no que respeita a espectáculo televisivo, mas também a
espectáculo tauromáquico. Foi aquilo a que se chama uma grande e proveitosa
noite de toiros. Ainda bem.
É injusto, penso, nomear um ou uns
triunfadores. No contexto geral, feitas as contas, triunfaram todos.
Mas injusto será não destacar, até
porque se trata do futuro, as actuações finais de João Moura Caetano e João
Maria Branco. Começámos com a confirmação de veteranos, terminámos com a
revelação, para o país inteiro, das novas estrelas. "Dissemos" que a
Festa Brava está em grande e recomenda-se. Não será pela falta de valores que
não andará para a frente. Nesse aspecto, aqui não há crise.
Vamos por partes.
João Moura Caetano vive,
indiscutivelmente, a "sua hora". Fruto de um trabalho desenvolvido
com apego e muita luta nas últimas temporadas, o filho do Maestro Paulo Caetano
chegou por fim ao galarim das primeiras Figuras. Está super-bem montado (já
chega de falar da morte do ídolo "Passapé" em Madrid, como tanto
insistiram, sem nexo, os comentadores televisivos...).
Madrid, Badajoz, Alcácer e outras praças
e outros êxitos deram-lhe a moral de que precisava. Emagreceu, engrandeceu a
sua imagem pública. E está um "toureirazo" de se lhe tirar o chapéu.
Foi "monstra" a actuação de ontem em Évora. Os dois ferros compridos
com o cavalo "Aramis", de praça a praça, a dar toda a prioridade ao
toiro, a aguentar barbaridades, fizeram-me lembrar o Pai, Paulo, tantas vezes
naquela arena de Évora. Já não se cravam ferros assim, grande João!
O terceiro ferro curto, com o
cavalo-estrela "Temperamento", teve um temperamento "do outro
mundo". O toiro investiu "de repente". João aguentou, firme,
sereno, como os maiores. Podia ter desfeito a sorte. Podia ter passado em
falso. Foi em frente, à cara do toiro, cravou de alto a baixo. Impressionante.
Estes três ferros teriam valido a actuação - e a corrida. Mas houve mais, muito
mais. Que não se conta. Vê-se, sente-se. O país inteiro viu e sentiu. Confirmou
um toureiro - Moura Caetano!
E nem foi preciso trazer à praça o
famosíssimo "Xispa", as demais estrelas da basta e excepcional quadra
que estavam lá fora. A noite foi do "Aramis" e do
"Temperamento". Mas foi do João, acima de tudo. Que orgulho deves ter
sentido ao ver o que viste, Paulo, naquela que foi uma das muitas praças de
tantas apoteoses tuas!
Outro caso da noite de ontem em Évora:
João Maria Branco. Os taurinos acompanham-no com justificado interesse há dois,
três anos, ou não fosse ele o mais valoroso e promissor dos cavaleiros
praticantes - e o mais premiado. Mas o povo português não sabia da sua existência.
Ontem em Évora, no seu Alentejo (é
natural de Estremoz), em directo para todo o Portugal, João Maria Branco deixou
a mensagem, clara e inequívoca, de que no mundo do toureio não vai ser, como
muitos, "só mais um". O país ficou a saber que o toureio a cavalo tem
uma nova estrela.
O que vimos não foi só a raça, a garra e
a vontade de um toureiro em triunfar e em triunfar em directo para o país todo.
O que vimos foi, acima de tudo, um toureiro solidificado, consistente, maduro e
sólido. Muito sólido. Com certezas, sem meias tintas.
A sua faena, a um toiro que
"apertou" e justificou, por si só, mas também pelo conjunto, a volta
à arena do ganadeiro Joaquim Alves, foi uma faena de glória. De entrega,
pundonor e arte. Mas sobretudo de raça, de ousadia e de atrevimento. As "piruetas",
a brega cheia de classe, a verdade das entradas frontais, a emoção das sortes
de "antes quebrar que torcer", revelaram, não tenho receio nenhum de
o escrever, um grande toureiro em potência.
João Maria Branco está em força. Em toda
a força. Está muito bem montado, está decidido, está seguro e está, acima de
tudo, toureiro! Um dos seus fantásticos ferros curtos, terceiro ou quarto, é um
dos grandes ferros da noite. Pela verdade, pelo pisar de terrenos proibídos
pela emoção, pelo parar corações. Está no caminho certo. É, sem dúvida, a
estrela-maior dos novos cavaleiros!
O resto, foi uma noite grande de
toureio. Joaquim Bastinhas rubricou, quanto a mim, a sua melhor actuação desta
temporada - a deixar antever uma estreia de sucesso na próxima quinta-feira no
Campo Pequeno. Estilo vinho do Porto, por mais "imagem batida" que
seja, está melhor e melhor, cada dia mais. Fantástica a lide, exuberante o
brioso par de bandarilhas. Grande e bom Toureiro!
António Ribeiro Telles puxou os cordões
ao classicismo profundo que caracteriza a sua tauromaquia. Que grande lide e
que grandes ferros! Eterno António.
Luis Rouxinol, passada que vai - e ainda
bem - a dose vista e revista da comemoração da alternativa, está no seu lugar
de sempre, o de triunfador pleno. Denotando, talvez, algum cansaço - visível,
por exemplo, numa ou duas "negas" da égua - mas sempre em forma e sem
virar a cara.
Agradável (íssima) surpresa foi a
exibição de Gilberto Filipe. "Parado" desde que mudou de apoderado,
toureava a sua primeira corrida de 2012 e parecia ele que já tinha toureado
tantas. Em grande forma, surpreendeu pela positiva e surpreendeu pelo brilhante
par de bandarilhas, sorte em que lhe desconhecíamos tão exímia perfeição.
Noite grande para todos os bandarilheiros
- sem excepção. Mas noite grande também para os Forcados Amadores de Évora, um
dos grandes grupos deste país. Pegaram em solitário os seis toiros de Pinto
Barreiros com o brio e o estoicismo de sempre.
Grandes pegas ao primeiro intento de
Francisco Garcia, João Pedro Oliveira e o cabo António Alfacinha. À segunda, de
Ricardo Casas Novas e à terceira de José Pereira. Brilhante cernelha de Cláudio
Carujo e Francisco Lopes ao toiro que se desembolou. Coeso e seguro a ajudar
todo o grupo. Amadores de Évora em grande momento.
Os toiros de Pinto Barreiros regressavam a Évora após vinte anos de ausência e, pela primeira vez, sob a batuta do seu novo proprietário, o triunfador Joaquim Alves. Muito bem apresentados, com quatro anos, proporcionaram bom desempenho aos cavaleiros, embora revelando pouca força e pouca transmissão. Gostei particularmente do primeiro e do último. Os outros cumpriram, deixaram-se tourear, foram "toiros bons".
Brilhante e aficionada, de acordo com a
cerimónia televisiva, a direcção de corrida por parte do eficiente Pedro
Reinhardt. Grande actuação, também, da Banda de Alcochete. Uma jornada
importante para a Festa - foi bom!
Fotos D.R./fotojornalistaemilio@gmail.com