Volta à arena aos ombros dos companheiros |
O último cite, a última pega |
Com os filhos, despindo a jaqueta, já com o ombro partido |
Abraçado por companheiro depois da sua pega |
Sózinho na arena |
Miguel Alvarenga - Oriundo de uma
família de forcados, nascido na aficionadíssima vila de Alcochete há 46 anos,
Joaquim José Penetra fez ontem no Campo Pequeno a última pega da sua carreira,
com mais de trinta anos. A última? Nunca se sabe... Forcado que é forcado, é
forcado até ao fim. E ele próprio confessou, em entrevista à TVI, que podia ser
"um até já".
Brindou a Manuel Cardoso, o popular
"Manda-Chuva", outra glória dos tempos antigos da forcadagem. Pegou
ao terceiro intento, já com um braço partido, mas pegou na mesma, porque a sua
vontade era essa e porque decidira que, quatro anos depois de ter "sido
forçado" a abandonar a chefia do Grupo de Amadores do Ribatejo, para que
este "se legalizasse", haveria de ser numa corrida televisionada que
despia a jaqueta e mostrava, se dúvidas houvessem, os porquês de ter sido um
dos grandes forcados deste país. Assim foi.
A seguir foi justamente passeado em
ombros pelos companheiros do grupo e depois seguiu para o hospital, de onde
regressaria já de braço ao peito, quase no final da corrida.
Joaquim José Penetra destacou-se como
forcado nos Amadores de Lisboa. Depois foi, por pouco tempo, cabo dos Amadores
do Aposento do Barrete Verde de Alcochete. E mais tarde, em 1996, assumiu o
comando dos Amadores do Ribatejo, um grupo com largo historial e que estava, ao
tempo, "adormecido". Penetra relançou-o, revelando-se também um
excelente condutor e formador de homens. E esse terá sido o seu
"crime".
Posto à margem, discriminado, vetado e
prepotentemente boicotado, única e incrivelmente por "questões de ordem
pessoal", invejas e guerrinhas antigas com elementos dos "grupos
maiores", por quem pretendia mandar e dividir, como se alguma vez fosse
possível falar-se de "forcados de primeira" e "forcados de
segunda", de grupos "legais" e grupos "ilegais", Quim-Zé Penetra teve aí pela frente o mais difícil dos
"toiros" da sua vida de valente forcado - a crueldade e a prepotência de quem. não lhe chegando sequer aos calcanhares como forcado, pretendia agora impôr pela força e à base de "leis" anticonstitucionais, regras de um "jogo novo" por que os verdadeiros forcados nunca se haviam regido.
Mas não virou a cara. Lutou
até poder, impôs o grupo, sempre apoiado pelos antigos cabos e pelos antigos
forcados, homens de um tempo em que não havia guerras desta índole entre os
heróis que honraram as jaquetas de ramagens, fossem elas de que grupo fossem.
Há quatro anos, acabou por
"vergar", abandonando a chefia dos Amadores do Ribatejo e assim
permitindo que o grupo fosse quase de imediato aceite por aqueles que o
renegavam, repito, apenas e só por "questões de ordem pessoal". Não
que Penetra fosse de "quebrar", mas colocou em primeiro lugar o nome
do grupo, a continuidade da sua trajectória, agora sem ele, agora sem barreiras, sem adversidades -
e saíu de cena.
Ontem voltou. Ao fim e ao cabo, provou
como estavam errados aqueles que lhe "fecharam a porta". Entre homens
desta raça não há "os de primeira" e "os de segunda". Há
apenas forcados. E ele foi um dos grandes deste país.
Um abraço grande, Quim-Zé. As tuas
melhoras. E o "muito obrigado" de um amigo que, como aficionado,
recorda já com aguma nostalgia as grandes tardes e noites de glória que tu
soubeste brindar-nos na arena. O único palco, afinal, onde se discute quem é
"primeiro" e quem é "segundo". E tu foste um dos primeiros.
Fotos Emílio de Jesus/fotojornalistaemilio@gmail.com