segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Toiros de Pereda não eram "para meninos": Salgueiro e Quintela marcaram ontem a diferença em Évora

Fernando Quintela, um forcado que marcou esta temporada (Amadores
de Alcochete) fez ontem um "pegão" que levantou a praça de Évora.
Na foto de baixo, um momento da empolgante actuação de João Salgueiro



Miguel Alvarenga e Emílio (fotos) - Tempos idos dos famosos cavalos "Isco" e "Herói", João Salgueiro a parar corações e a provocar a loucura nas bancadas. Tempos de glória que o cavaleiro de Valada nos relembrou ontem em Évora. Era a sua última corrida da temporada, um ano de altos e baixos, mas sempre a esperança de que o génio desperte, venha acima e haja a explosão, aquela faena que enche a alma de quem vê, aqueles ferros que depois não se repetem. Ontem, Salgueiro marcou a diferença. Andou sereno e mandão, bregou com sabedoria, entrou pelo toiro dentro com o arrojo, a ousadia e a irreverência de outros tempos. Passaram 25 anos depois da sua alternativa. Ele continua de pé e quando menos se espera, catrapumba, lá vem a arte, lá vem a genealidade, lá explode a diferença. Os génios são assim e são distintos, uns dias sim, outro dias não. Ontem, João Salgueiro estava em dia-sim.
A última corrida promovida pela empresa "Campo e Praça" - que também marcou esta temporada, quanto mais não fosse, pela ousadia das "exclusivas" - na Arena D'Évora incluia os cinco cavaleiros do grupo e mais um (Gilberto Filipe), que também fez parte deste "movimento" em 2013. O público não correspondeu. Talvez cansaço, talvez final de temporada, talvez um elenco que, embora de figuras, era "mais do mesmo". Um quarto das bancadas preenchido, a ausência do ambiente que se deseja, mas, mesmo assim, uma corrida agradável e com ritmo, que decorreu sem intervalo (aleluia!) e sem dificuldades nem tempos mortos na recolha dos toiros. Foi um instante, não maçou ninguém e houve triunfos frente a toiros-toiros da ganadaria espanhola de José Luis Pereda - ninguém se lembrou de chamar o ganadero à praça, já assistimos a voltas à arena por muito menos e sem justificação aparente. Ontem, justificavam-se os aplausos a Pereda. Os toiros sairam com seriedade, com peso, excelente apresentação, tiveram bom comportamento na generalidade e tinham idade (cinco anos) e, por consequência, um sentido apurado. Não eram toiros "para meninos" e isso viu-se sobretudo nas pegas, mas não apenas, também nas lides dos cavaleiros.
Lamente-se, há que apontá-lo, as excessivas presenças de curiosos na trincheira, muitos deles a movimentar-se durante as lides e a distrair os toiros (Vitor Ribeiro foi o mais prejudicado por esta anomalia) e também as andanças nas bancadas durante as actuações. O director de corrida, Pedro Reinhardt neste caso, deveria ter estado mais atento a estes pormenores - e evitá-los.
Vamos aos toureiros. Salgueiro à parte, que foi, repito, quem ontem marcou a diferença, vimos em Évora um António Ribeiro Telles seguro de si e a brilhar com o antigo cavalo-craque de Ribeiro, o "Alcochete", certeiro na cravagem e brilhante na brega; Rui Fernandes deu a volta a um toiro "matreiro" e saíu por cima com uma lide a todos os títulos fantástica, em que mandou e orientou as coisas para o seu lado mercê da sua experiência e da forma em que se encontra, bem montado, poderoso, moralizado e toureirão; Vitor Ribeiro explicou este ano que faz falta à Festa e regressou em pleno, Mesmo depois de se desfazer do cavalo que lhe dava os triunfos, depressa recuperou e se reencontrou. Ontem, em Évora, esteve enorme nas entrada ao piton contrário, na brega e na cravagem, executando uma lide à base da emoção e ritmada com pinceladas de valentia e de arte; Gilberto Filipe teve pela frente o pior toiro da tarde e mesmo assim conseguiu triunfar. Valeu a entrega, o valor e a raça que colocou em tudo o que fez. Foi uma lide pautada pela raça de um toureiro que esta temporada voltou a subir a sua cotação; por fim, João Ribeiro Telles esteve muito bem, também, frente a um toiro com classe e que ele aproveitou da melhor forma, sem contudo atingir o nível de outras tardes. Esteve sempre muito bem e ontem limitou-se a estar bem. Mesmo assim, sem nada de negativo a apontar. João foi um dos jovens que marcou esta temporada e apesar de ter participado num número limitado de corridas, manteve uma regularidade notável e sempre acima da média.
Frente aos toiros de Pereda que, como disse, não eram "para meninos", nem sempre foi fácil o desempenho dos forcados dos dois grupos em praça, Évora e Alcochete. Apesar dos vários momentos de apuro que se viveram na arena, não houve, graças a Deus, feridos a lamentar, exceptuando João Rei, o valente primeiro-ajuda do grupo de Alcochete, que recolheu pelo seu pé à enfermaria e esteve em observação no Hospital de Évora, havendo apenas a registar a fractura de costelas. Teve alta ao final da noite e já se encontra em casa a recuperar.
Ricardo Casas Novas fez ao primeiro intento a primeira pega dos Amadores de Évora, que foi a sua última. Sem despir a jaqueta (parece que isso passou de moda...), deixou as arenas após alguns anos ao serviço do grupo sempre em plano brilhante. Deu a volta à arena com o ajuda Francisco Abreu, que também se despediu ontem das arenas.
Pelos Amadores de Évora pegaram ainda Ricardo Sousa (à terceira) e Dinis Caeiro, este à quarta tentativa e depois de sofrer violentos derrotes nas anteriores intervenções. Esteve valente como as casas!
Fernando Quintela, dos Amadores de Alcochete, foi autor da grande pega da tarde, a segunda da corrida, ao primeiro intento. Como sempre, esteve bem a citar, recuou toureando e fechou-se com braços de ferro, estilo daqui não saio, daqui ninguém me tira, aguentando derrotes e derrotes, bem ajudado pelos companheiros.
Diogo Timóteo fez a segunda pega do grupo comandado por Vasco Pinto, à segunda tentativa, com uma boa ajuda de Fernando Correia, que foi depois muito justamente chamado à arena no final.
Pedro Viegas encerrou, à primeira, a triunfal passagem dos Amadores de Alcochete pela arena eborense.
Entre os bandarilheiros houve valor e houve saber diante dos toiros de José Luis Pereda. Destaque para as intervenções de João Ribeiro "Curro", António Telles Bastos, Nuno Oliveira, Ricardo RaimundoJoão "Belmonte", Gonçalo Simões, Manuel dos Santos "Becas" e Jorge Alegria.
Salgueiro e João Telles brindaram as suas últimas actuações de 2013 aos empresários da praça - e das "exclusivas". Pedro Reinhardt dirigiu a corrida com acerto, havendo apenas a apontar o facto de não ter imposto a ordem na trincheira e também nas bancadas. Com toiros com tanto sentido, impunha-se mais calmaria nas duas frentes. Houve, como disse, andanças a mais entre tábuas e alguns espectadores a desviar as atenções aos toiros com movimentações na bancada. Também nessas áreas - e sobretudo nelas - há que repeitar regras. Para não prejudicar e, acima de tudo, não colocar em perigo, quem na arena arrisca a vida.

Já a seguir: não perca todas as fotos desta corrida de ontem em Évora!

Fotos Emílio de Jesus/fotojornalistaemilio@gmail.com