domingo, 7 de maio de 2017

Montemor: emoção, seriedade e grande pegas

Em tarde de calor e sol, a bonita praça de Montemor-o-Novo registou ontem uma
entrada de dois terços. O empresário Rui Palma conseguiu recuperar a data de
Maio, que estava fora do campeonato, depois do primeiro passo dado há dois
anos por quatro jovens forcados montemorenses que voltaram a dar vida e força
a esta corrida
Luis Rouxinol não teve ontem sorte com o seu lote. O primeiro toiro da corrida
desembolou-se ao terceiro ferro e foi para dentro para voltar a ser embolado.
Entretanto, Filipe Gonçalves lidou o segundo toiro da ordem e só depois voltou
à arena o primeiro para que Rouxinol terminasse a lide... em segunda sessão.
O toiro já sabia a lição, encostou-se às tábuas e o cavaleiro teve que optar por
arrojadas sortes a sesgo. O seu segundo era reservado e parado e por muito que
tenha porfiado e arriscado, faltou matéria prima a Rouxinol para o triunfo
Um grande ferro com o "Chanel" no seu primeiro toiro e uma lide empolgante
e variada no segundo marcaram a passagem triunfal de Filipe Gonçalves, ontem,
pela praça de Montemor
João Salgueiro da Costa reafirmou a sua vontade, a sua raça e o seu querer.
Este é o seu ano decisivo para se afirmar. Esteve brilhante no último toiro
João Madeira (Grupo de Évora) pegou com brilhantismo à primeira o que
foi o primeiro toiro da corrida, embora fosse o segundo, uma vez que o de
Rouxinol recolheu aos currais para ser novamente embolado depois de ficar com
a ponta do corno direito "ao léu". O primeiro-ajuda esteve enorme e acompanhou
por isso o forcado da cara e o cavaleiro Filipe Gonçalves na volta à arena
A segunda pega da tarde coube aos Amadores de Montemor, já que este se
tratava do primeiro toiro da corrida, saído pela segunda vez à arena para Rouxinol
terminar a sua lide, por se ter desembolado ao terceiro ferro. Foi cara o forcado
de dinastia Manuel Dentinho, que pegou com valentia à terceira, depois de
sofrer fortes derrotes nas duas primeiras intervenções
Rija e dura pega do valente João da Câmara (Montemor) ao terceiro Castro da
corrida. Concretizou-a à terceira com decisão, valentia e a técnica que o tem
revelado como um dos grandes pilares do grupo. Recusou dar a volta à arena,
apesar de autorizado pelo director Agostinho Borges
Um verdadeiro hino à arte de pegar toiros: a quarta pega da tarde esteve a cargo
do grande forcado António Alfacinha, cabo dos Amadores de Évora, à primeira.
António despede-se este ano das arenas no S. Pedro em Évora. Pegou ontem
pela última vez em Montemor e brindou a sua derradeira pega nesta praça aos
companheiros e amigos do Grupo de Montemor
Sequência da quinta pega, pelo cabo montemorense António Vacas de Carvalho,
à segunda tentativa, com o grupo desta vez a ajudar forte e coeso. Na primeira,
o toiro desviou a rota, fugiu ao grupo e António aguentou até poder
A última e grande pega da tarde, a melhor da corrida, fê-la João Pedro Oliveira,
futuro cabo dos Amadores de Évora, também à primeira, como as restantes duas
da valente formação eborense. Outro grande monumento à nobre arte de pegar
toiros. Em baixo, Mestre Luis Miguel da Veiga assistindo num camarote na sua
primeira aparição pública numa praça depois do grave problema cardíaco sofrido
no final do ano passado... e ninguém se lembrou de o brindar... 


Miguel Alvarenga - Muito bem apresentados, mas sem os anunciados pesos “acima dos 550 quilos” (515, 520, 530, por aí e só um com 550), os toiros de Fernandes de Castro lidados ontem em Montemor-o-Novo ficaram um pouco aquém das expectativas. O primeiro levou três ferros compridos e recolheu aos curros por se ter desembolado (corno direito) e só regressou à arena depois de ser lidado o segundo. Quando voltou, já sabia a lição por inteiro, encostou-se à porta dos curros e por ali se ficou à espera de ir embora. Luis Rouxinol despachou a ferragem curta em ousadas sortes sesgadas, mas a lide não teve brilhantismo e o toureiro, apesar de autorizado pelo director, recusou dar volta à arena. Os seguintes três toiros foram reservados, de arrancadas intempestivas, mas transmitiram pouco, apesar de terem imposto emoção e seriedade. Pediram contas, não facilitaram sobretudo nas pegas. Os dois últimos foram os mais codiciosos e os que tinham mais transmissão. No geral, os Castros trouxeram seriedade a Montemor. Toiros duros para cavaleiros e forcados de barba rija. A emoção e o risco são a essência da Festa, a sua razão de ser. Por isso os toiros valeram.
Artisticamente, a tarde ficou marcada pelas seis valentes pegas dos grupos de Montemor e de Évora e pelas últimas actuações de Filipe Gonçalves e João Salgueiro da Costa. Esperava-se mais, porque a bitola estava alta, sobretudo pelo trapio e a presença dos toiros.

Rouxinol: primeira lide em... duas sessões!

Luis Rouxinol, como já ficou dito, não pôde brilhar no seu primeiro toiro, lidado em… duas sessões. O quarto da tarde era complicado, parado - e também não permitiu ao valente cavaleiro um triunfo redondo. Rouxinol andou esforçado e saiu por cima, por obra e graça da sua entrega, do seu muito pundonor e da sua experiência.
Esteve digno e senhor de si, sem o deslumbre habitual, por falta de matéria prima. Foi premiado com merecida volta pela sua entrega e pelo seu empenho, tudo fazendo para agradar.

Filipe Gonçalves: triunfo de um lutador

Filipe Gonçalves transpira valor e raça por todos os poros. É um toureiro em plena ascensão e que está a marcar posição de ano para ano, consolidando um lugar importante entre os primeiros. Subiu a corda a pulso - é um lutador. Um toureiro de um valor desmedido e de um enorme querer. Ontem em Montemor, com um primeiro toiro menos colaborante e mais reservado, deixou na memória de todos um ferro curto daqueles que tiram a respiração com o fantástico cavalo “Chanel”. No seu segundo toiro, de melhor nota, esteve empolgante a lidar, a bregar e a cravar, destacando-se em ousados “quiebros” e terminando com um bom par de bandarilhas e depois ainda uma rosa. Nos dois deu aplaudidas voltas à arena.

Salgueiro: o dia chegou!

João Salgueiro da Costa joga tudo numa temporada de afirmação, por fim, depois de uma trajectória que teve momentos altos e outros mais baixos, apesar de sempre deixar a esperança de que um dia haveria de ser. O dia chegou. Já no ano passado disso dera mostras. E agora está moralizado, bem montado, com outra atitude e uma garra imensa de não mais andar para trás.
Deixou ferros de boa marca no seu primeiro e explodiu finalmente no segundo, o último da tarde - onde tudo o que fez se chamou arte, inspiração e emoção. Jogou-as todas e ganhou. Triunfo absoluto.

Grupo de Montemor com as "favas"

E agora os Forcados - que ontem foram os reis da tarde.
Os Amadores de Montemor apanharam com as “favas” (os toiros mais complicados) e o seu desempenho não foi fácil - mas mesmo assim, foi brilhante. A primeira pega do grupo da casa foi a segunda da corrida, já que o toiro (primeiro) que lhes competia pegar só regressou à arena depois de embolado outra vez e quando já havia sido lidado o que era o segundo da ordem. Fê-la Manuel Dentinho, ao terceiro intento, depois de fortes derrotes nas duas primeiras tentativas. Pega dura e rija, evidenciando o valor de um jovem forcado de dinastia (filho de Rodrigo Dentinho, antigo forcado do grupo).
João da Câmara pegou o terceiro da ordem à terceira tentativa. Nas duas anteriores foi fortemente derrotado. Pegou o toiro com imensa decisão e com braços de ferro, aguentando sózinho, com os companheiros por terra, derrotes e mais derrotes. Foi outra pega rija e dura. O forcado, vencedor do prémio para a melhor pega do ano passado neste mesma praça, atribuído pela Tertúlia Montemorense, não deu volta à arena, apesar de o director de corrida lha ter autorizado. Merecia-a. Não pegar à primeira não é sinónimo de fracasso e por muito que o orgulho do forcado pudesse estar ferido, mesmo à terceira, o João fez um pegão. Assim o considerou - e bem - o director Agostinho Borges. Repito: tinha merecido dar volta.
O terceiro toiro do Grupo de Montemor (quinto da ordem) foi pegado pelo cabo António Vacas de Carvalho à segunda, com exemplar e coesa ajuda de todos os companheiros, que fecharam o círculo em conjunto homogéneo, depois de na primeira tentativa o toiro se ter desviado do grupo, aguentando António vários e violentos derrotes, sózinho e estoicamente, até mais não poder. O cabo esteve sempre bem a recuar e a fechar-se, consumando a pega com a técnica e a valentia que são seus apanágios de valor. Brindou a pega a José Miguel Sampaio, que foi destacado e recordado forcado dos Amadores de Montemor.
Desempenho valoroso, como sempre, e digno de destaque, do valente rabejador Francisco Godinho.

Grupo de Évora saíu ontem por cima

O Grupo de Évora saíu ontem por cima com três grandes pegas à primeira. João Madeira, experiente e vistoso forcado, fechou-se muito bem na cara do primeiro toiro (o segundo da ordem) com excelente e oportuna intervenção do primeiro-ajuda, que depois o acompanhou na volta à arena com o cavaleiro Filipe Gonçalves.
As pegas executadas depois pelos eborenses aos quarto e sexto toiros foram dois verdadeiros monumentos à arte de pegar toiros, as melhores da tarde. A primeira esteve a cargo do cabo António Alfacinha, um dos grandes forcados da sua geração, que este ano se despede das arenas e brindou aos companheiros de Montemor esta sua última intervenção naquela praça, dando uma lição enorme de técnica e de valentia; a segunda (última), por intermédio do futuro cabo do grupo, João Pedro Oliveira, também um forcado de créditos firmadíssimos. Pega enorme, daquelas que arrepiam. O público levantou-se a aplaudir o actual e o futuro cabo. Eles foram os dois grandes triunfadores da corrida de ontem em Montemor. Inequivocamente.

Empresário volta a pôr Maio no mapa

Outro triunfador, diga-se em nome da justiça, foi o empresário Rui Palma, organizador desta corrida de Maio em Montemor pelo segundo ano consecutivo, recolocando-a no mapa taurino nacional. É um empresário novato, mas dinâmico, empreendedor - e sério, que nisto de ser empresário é o mais importante.
Esta data de Maio em Montemor estava fora do campeonato até há três anos ter sido recuperada por quatro jovens forcados montemorenses - João Caldeira, Frederico Caldeira, João Cabral e João Braga - que, infelizmente, não deram continuidade à sua experiência de sucesso. Mas deram o mote que, no ano passado e neste, foi seguido com êxito, com competência e, repito, com seriedade, por Rui Palma. A praça ontem não encheu. O que é estranho, quando tantos apregoam que a Festa precisa de toiros que tragam emoção e que imponham seriedade. Os Castros eram, à partida, uma garantia disso. E foram-no. Onde estavam então os ditos senhores aficionados do toiro de verdade e que tanto reclamam por ele, não comparecendo depois nas praças quando os empresários os trazem às arenas? Mesmo assim, as bancadas da praça de Montemor registaram uma boa entrada de dois terços, mais de meia casa.
Destaque merecido ao brilhante e esforçado labor de todos os bandarilheiros, mas ontem um se destacou e foi até aplaudido e reconhecido pelo público pela forma eficiente com que colocou os toiros para o seu cavaleiro (Luis Rouxinol) e para os forcados: um olé para Manuel dos Santos "Becas". Sem desprimor por todos os demais, ele ontem esteve enorme!
Foi director de corrida, com a usual postura de rigor e aficion, Agostinho Borges, que esteve ontem assessorado pelo médico veterinário Dr. Feliciano Reis, também antigo forcado dos Amadores de Montemor.
Num camarote, assistiu Mestre Luis Miguel da Veiga, na sua primeira aparição pública numa praça de toiros depois do grave problema cardíaco que sofreu no final do ano passado. Teria sido bonito que o tivessem brindado. Mas isso não aconteceu. E foi pena.

Mais logo, não perca: grande e desenvolvida reportagem fotográfica de Maria João Mil-Homens.

Fotos M. Alvarenga