domingo, 7 de maio de 2017

Pouco ou nada em Vila Franca, para além das pegas...

Sombra mais ou menos composta, sol às moscas - foi assim esta tarde em Vila
Franca de Xira
. Havia à mesma hora outra corrida no Montijo. Entendam-se e
organizem-se, senhores empresários, que com esta balda não chegamos a lado
nenhum...
Os representantes das ganadarias vencedoras do Concurso desta tarde em Vila
Franca: António Silva (prémio bravura) e Passanha Sobral (apresentação). Em
baixo, o cabo Ricardo Castelo quando recebia o Prémio "João Vilaverde", que
distinguiu o Grupo de Vila Franca como o melhor grupo de forcados em praça


Miguel Alvarenga - Pouco público (meia casita, nem isso...) e quase nada, para além das pegas, na corrida desta tarde em Vila Franca de Xira, ocorrida exactamente à mesma hora em que se realizava outra no Montijo. Não tomem os senhores empresários maior atenção a estas coisas... e depois queixem-se. Continuem assim, que isto há-de ir longe... A sombra estava composta, o sol vazio. E quando isso acontece, por mais que se queira, não há ambiente e os próprios artistas desmoralizam quando olham para a bancada e vêem apenas cimento...
Artisticamente e exceptuando os Forcados - Vila Franca e Alcochete - a corrida foi uma seca das antigas, um espectáculo daquelas que fazem perder aficionados e não deixam às pessoas vontade de voltar a uma praça. Deprimente, mesmo...
Mais manso, menos manso, os seis toiros apresentados a Concurso impuseram respeito e pediam luta, exigiam toureiros à altura. E nada disso aconteceu.
O toiro de Passanha Sobral deixou Francisco Palha tentar brilhar e este foi, na realidade, o cavaleiro que mais se destacou ontem na "Palha Blanco". Andou regular neste primeiro toiro e chegou ao quarto, de António Silva, com vontade e atitude, esperando-o no centro da arena, cravando um ferro que empolgou. Seguiu-se a mais conseguida lide da tarde, com ferros emotivos e brega acertada. O director considerou que Palha não merecia música. Errou.
Os dois toiros de Francisco Palha foram os vencedores do Concurso de Ganadarias. Ao de Passanha Sobral deram o prémio de apresentação, ao de António Silva (que coxeou de uma pata e foi protestado) deram o de bravura. Concursos à portuguesa são assim... que seja o que Deus quiser...
João Maria Branco não toureava em Portugal há dois anos. Cumpriu apenas a papeleta, sem alardes de maior, nos dois toiros que enfrentou, o primeiro do Engº Jorge de Carvalho e o segundo de José Luis Vasconcellos D'Andrade, alternando altos com baixos e baixos com altos, sem nada de especial a registar. No pasó nada, como dizem nuestros hermanos...
O terceiro toiro da tarde, de Branco Núncio, foi um toiro daqueles que põe tudo no seu lugar. João Salgueiro da Costa, que ontem dera um bonito ar da sua graça e das suas intenções em Montemor, perdeu por completo os papéis, andou à deriva, sofreu violentos toques, nem ele nem os cavalos estiveram minimamente acertados. Um petardo dos antigos. Não fosse a última actuação, esta sim, de valor e arte, e poder-se-ia dizer que Salgueirinho andara para trás e começava de novo da estaca zero. Ferros ousados e lide com cabeça ao toiro de São Torcato, que também pedia contas. Salgueiro da Costa deu-as, correspondeu. Também não teve música. Estranho o critério deste director de corrida João Cantinho...
E a tarde, que não foi dos cavaleiros, foi dos Forcados.
O Grupo de Vila Franca ganhou, sem protestos, o Prémio "João Vilaverde", que distinguia o melhor grupo em praça. Três pegas rijas e duras, de grande emoção. A primeira, enorme, por intermédio de Rui Godinho, um grande forcado. A segunda, majestosa, um portento de poder e raça, foi executada por Vasco Pereira ao complicado toiro de Núncio. A terceira teve na cara o fantástico forcado Márcio Francisco e foi outro monumento! Muito bem e muito aplaudido, a rabejar, o eficiente Carlos Silva. No quinto toiro, o primeiro-ajuda Diogo Duarte e Carlos Silva acompanharam, com inteira justiça, Márcio Francisco na triunfal volta à arena. Um trio de valor! Tarde redonda para os gloriosos Amadores de Vila Franca.
O Grupo de Alcochete fez uma pega à terceira, outra à segunda e outra à primeira. Fernando Quintela foi duas vezes à cara do segundo toiro da corrida e saíu combalido, recolhendo à enfermaria, mas regressando depois à trincheira, nada sofrendo de maior, felizmente. Dobrou-o o grande João Machacaz, que aguentou derrotes e mais derrotes sem jamais sair da cabeça do toiro, consumando a pega na sua primeira intervenção. Manuel Pinto (irmão do antigo cabo Vasco Pinto, filho do grande forcado António José Pinto) tem nas veias o sangue dos grandes forcados. Derrotado na primeira tentativa, pegou o quarto toiro à segunda, bem ajudado pelos companheiros. A última pega da tarde foi consumada à primeira e com braços de ferro, por Pedro Viegas, que esteve decidido e valente até dizer chega!
Direcção um tanto ou quanto desacertada de João Cantinho, sobretudo ao não conceder música a Palha e a Salgueiro nos seus segundos toiros. Tarde sonsa e quase sem história, a não ser no que aos Forcados diz respeito. Há tardes em que mais vale a pena ir ao cinema...

Fotos M. Alvarenga