sexta-feira, 14 de julho de 2017

Pablo e Manzanares: uma noite para a História!

Manzanares saíu em ombros pela porta grande e isso
dividiu as opiniões, por não ter dado as três exigidas
voltas da praxe. Pablo Hermoso merecia também ou
mais ainda. Por amor de Deus, não banalizem outra
vez esta honraria...
Assim se toureia, assim se marca a diferença! Pablo Único ontem em Lisboa!
Botero teve destacada intervenção, por amabilidade de Pablo Hermoso, no
terceiro toiro da corrida
Manzanares é arte e sentimento. E bom toureio. Lisboa foi ontem ao rubro
"Cuqui" deu nas vistas e pediu oportunidade para voltar a Lisboa sem ser como
"suplente". Em baixo, a grande pega de Francisco Borges ao quinto toiro da noite


Miguel Alvarenga - Foi uma noite fantástica, histórica e deslumbrante. Conta-se em pouquíssimas palavras. Foi pena não ter esgotado, mas a praça estava cheia. E o Campo Pequeno viveu ontem à noite um momento que não se esquece tão cedo.
Exceptuando o primeiro toiro (toiro?) de Manzanares, um gato de vergonhosa apresentação para uma desmontável de terceira, quanto mais para a primeira praça do país, coisa deplorável, da ganadaria Benjumea (Nuñez del Cuvilo), exceptuando isso, tudo foi arte e grandeza. Mas o Campo Pequeno não pode passar por uma vergonha destas, credo, cruzes, canhoto!
Com três toiros fantásticos de António Charrua, a justificar em pleno a volta à arena do ganadero Gustavo no quinto, Pablo Hermoso de Mendoza deu três memoráveis lições de bom toureio a cavalo e o trono, uma vez mais, que pena, foi outra vez de Portugal para Navarra. É ele quem manda, é ele quem toureia, é ele quem ensina. Doa a quem doer. Triste para o nosso toureio a cavalo, sempre mais do mesmo, salvo raríssimas excepções. Pablo esteve enorme. Aquilo é tourear. Mandar, parar e templar. O resto… é sempre igual. Volte depressa, senão morremos de tédio…
Apesar das dúvidas, o público continua entusiasmado com o toureio a pé. José Maria Manzanares empolgou ontem as gentes do Campo Pequeno com dois faenões do outro mundo nos seus segundo e terceiro toiros, de García Jiménez e Juan Pedro Domecq, que deram belíssimo jogo.
O toureiro pôr todo o seu sentimento e toda a sua arte e galvanizou Lisboa, acabando por sair em ombros pela porta grande, apesar de não ter dado as três voltas da praxe (deu duas em casa um dos últimos dois toiros), com divisão de opiniões e sobretudo com a injustiça de que, se saiu um, tinham que sair os dois. Hermoso merecia. E assim banaliza-se outra vez a porta grande do Campo Pequeno - que devia continuar a ser coisa sagrada.
No terceiro toiro interviu com excelente prestação Jacobo Botero e no último esteve Joaquim Ribeiro "Cuqui" muito bem de capote e com atitude na muleta,na parte final da lide, pedindo passo (que merece) para voltar a Lisboa sem ser como "suplente".
Os Forcados de Montemor tiveram ontem uma noite assim-assim, sem o esplendor de outras. Francisco Bissaia Barreto pegou o primeiro toiro à segunda; João da Câmara nunca esteve bem com o toiro e o grupo também não a ajudar, só concretizando à quarta; e a honra do convento foi salva pelo grande Francisco Borges, com um pegão à antiga, em que esteve monumental na cara do toiro, que ensarilhou, a mandar como só ele sabe na investida e a fechar-se com braços de ferro para não mais dali sair, com os companheiros a ajudarem em pleno. Pega grande!
A corrida iniciou-se, como tinha que ser, com um respeitoso minuto de silêncio em memória do nosso querido José Palha. Pedro Reinhardt dirigiu muito bem, com a habitual exigência e a costumeira competência, assessorado pelo médico veterinário Dr. Jorge Moreira da Silva.
Lisboa viveu uma noite única. Marcada pela magia de Hermoso e pela arte sem fim de Manzanares. Corridas como esta fazem falta para criar aficionados.

Fotos Maria Mil-Homens