domingo, 15 de julho de 2018

Pedro Gonçalves diz adeus às arenas: a História de um Triunfador

Pedro Gonçalves despede-se das arenas na tarde de 21
de Outubro na Monumental de Santarém
Sevilha aclamou o bandarilheiro português depois de
um portentoso tércio de bandarilhas
Um grande par de bandarilhas na Monumental de las Ventas em Madrid
A noite da alternativa na praça do Campo Pequeno a 5 de Setembro de 1991,
apadrinhado pelo Maestro dos Maestros, António Badajoz
Pedro Gonçalves iniciou-se nas arenas como valoroso forcado dos Amadores da
Azambuja, grupo de que defendeu a jaqueta ao longo de 9 anos, antes de se
tornar bandarilheiro


Pedro Gonçalves, o mais brilhante dos bandarilheiros da sua geração, cujos inícios nas arenas foram como valoroso forcado nos Amadores da Azambuja, despede-se no dia 21 de Outubro em Santarém, como já noticiámos. Ludgero Mendes recorda aqui momentos simbólicos da trajectória de um triunfador.

Pedro Gonçalves é natural de Santarém, onde nasceu em 1967 no seio de uma família repartida entre o futebol e o toureio. Seu pai foi durante décadas um dos melhores praticantes de futebol no Sport Grupo Scalabitano “Os Leões” e na União Desportiva de Santarém, e seu tio Joaquim Gonçalves foi um conceituado bandarilheiro que actuou em centenas de corridas de toiros.
Na idade das opções Pedro Gonçalves preferiu o mundo dos toiros e ingressou no Grupo de Forcados Amadores da Azambuja, então capitaneado por Francisco Vassalo, que serviu com a maior dignidade e brilhantismo durante nove temporadas, tendo pegado de caras 73 toiros, evidenciando sempre uma técnica excepcional e um valor insuperável.
Nesta fase da sua vida construiu sólidas amizades no seio do Grupo de Forcados Amadores de Azambuja, mas também com forcados de outros grupos, o que lhe permitiu granjear enorme simpatia entre aficionados e toureiros. Fez a sua primeira pega na praça de toiros do Cartaxo e recorda tardes de glória, como aquela em que teve de pegar dois toiros, um de caras e outro de cernelha, ou a conquista do prémio para a melhor pega na Monumental “Celestino Graça”, em Santarém, pegando galhardamente um toiro de Passanha, com 620 quilos.
Quase a completar uma década a pegar toiros, muitos dos quais eram dos mais poderosos de cada corrida, e com o corpo bem marcado por estas façanhas, Pedro Gonçalves acedeu a um dos tantos convites que seu tio lhe formulou para que começasse a treinar para bandarilheiro, reconhecendo-se-lhe já então que tinha especial potencialidade para colocar bandarilhas, tércio em que era facilitado pelas imensas faculdades físicas e atléticas.
Decidido a experimentar, Pedro Gonçalves começou a treinar aos 19 anos de idade na Monumental “Celestino Graça” com seu tio Joaquim Gonçalves, com seu primo Luís Miguel e, às vezes também com César Marinho, e desde cedo começou a demonstrar verdadeira intuição para o toureio e uma valentia inexcedível, condições naturais que muito facilitariam a sua rápida progressão técnica tanto no manejo do capote como na colocação das bandarilhas.
Após uma primeira fase de treino de salão, Pedro Gonçalves começou a acompanhar seu tio Joaquim em algumas tentas e em alguns festivais, começando a mostrar-se, o que também permitiu beneficiar de muitos conselhos para que se afirmasse como um toureiro em potência.
Decidido a abraçar a profissão de bandarilheiro, e já plenamente consciente das dificuldades inerentes a uma profissão de tão elevado risco físico, Pedro Gonçalves prestou provas para bandarilheiro praticante em Abiul, na tarde de 20 de Agosto de 1989, tendo sido seu padrinho o bandarilheiro escalabitano e seu primo Luís Miguel Gonçalves.
Começou a sair na quadrilha de Alexandre Pedro “Pedrito de Portugal” e de Rui Plácido, entre outros novilheiros dessa altura, e com o matador de toiros Parreirita Cigano.
Um dos momentos mais intensos da sua carreira viveu-o Pedro Gonçalves na noite histórica da sua alternativa, tomada na praça de toiros do Campo Pequeno no dia 5 de Setembro de 1991, tendo como padrinho o consagrado bandarilheiro António Cipriano “Badajoz”, que nessa mesma noite se despedia, culminando uma carreira profissional das mais qualificadas e dignas ao nível do toureio nacional, e na qual actuou pela última vez o consagrado cavaleiro tauromáquico D. José  João Zoio.
A partir de então Pedro Gonçalves saiu na quadrilha de consagrados matadores de toiros que se apresentaram na praça do Campo Pequeno, nomeadamente Julián López “El Juli”, Cristina Sánchez, José Ortega Cano, Eduardo Oliveira e sempre que podia integrava a quadrilha de algumas figuras do toureio equestre, como foram os casos de Manuel Jorge de Oliveira e de Ana Batista.
Ao longo da sua carreira de cerca de trinta anos de toureio, Pedro Gonçalves teve a oportunidade de integrar as quadrilhas de Fernando Guarany, José Manuel Duarte, Nuno Pardal, Ricardo Alves “Tómix”, Gustavo Zenkl, Frederico Carolino, Vítor Mendes, Rui Bento Vasques, José Luís Gonçalves, João Moura, Mário Miguel, Nuno Manuel “Velásquez”, Nuno Casquinha, Luís Vital “Procuna”, João Augusto Moura, Diogo Peseiro e o Maestro José Júlio, entre muitos outros.
Nas últimas temporadas Pedro Gonçalves optou por apenas sair na quadrilha de novilheiros e de matadores de toiros, preferencialmente em Espanha, onde tem merecido as mais satisfatórias críticas, tendo o grande privilégio de haver “desmonterado” na Real Maestranza de Sevilha após um porten-toso tércio de bandarilhas.
Para proporcionar aos jovens o acesso ao toureio e para homenagear a figura de seu tio, Pedro Gonçalves, com a colaboração de seu primo Luís Miguel Gonçalves, fundou e dirige a Escola de Toureio “Joaquim Gonçalves”, em Santarém, por onde já passaram alguns jovens que são na actualidade promissores toureiros ou já consagrados bandarilheiros.
Pedro Gonçalves participa anualmente em dezenas de tentaderos, a convite dos respectivos ganadeiros onde proporciona aos jovens toureiros, nacionais ou espanhóis, a evolução técnica e artística na frente das reses bravas.
Na sua Tertúlia, que mantém com profunda paixão e sentimento, como repositório de tantas lembranças da sua carreira e de fastos relevantes da história do toureio, Pedro Gonçalves expõe com grande orgulho dezenas de troféus e de prémios que logrou conquistar ao logo da sua carreira de forcado e de toureiro.
Ao decidir retirar-se agora, ainda na plenitude das suas faculdades físicas e técnicas, Pedro Gonçalves pretende deixar a imagem de um toureiro pode-roso, dotado de excelentes condições técnicas e capaz de contribuir para o futuro da tauromaquia através da Escola de Toureio.

Ludgero Mendes

Fotos D.R./@Pedro Gonçalves