segunda-feira, 9 de julho de 2018

Vila Franca: Palha, Casquinha e Forcados foram reis de uma das mais sérias tardes de toiros dos últimos tempos!

Quase todos os toiros de Palha foram ontem aplaudidos quando entraram na
arena. Corrida séria e dura. triunfo importante da centenária ganadaria
A corrida abriu com uma lide a duo de Rouxinol e Palha
Não precisar já de provar nada a ninguém e continuar a dar a cara, com um valor
e uma honestidade sem fim, a toiros sérios e duros como os de Palha de ontem
em Vila Franca, são atributos que fazem de Luis Rouxinol um Toureiro a respeitar
e que todas as tardes triunfa, como ontem aconteceu na Palha Blanco
Os ferros anteriores à colhida já tinham sido um assombro e a praça
já aplaudia de pé o triunfador Francisco Palha
Momentos dramáticos vividos com a colhida de valor de Francisco Palha
quando cravava um ferro em terrenos daqueles onde os toureiros se fazem
Figuras...
... e depois um ferro igual, nos mesmos terrenos de arrepiar!
Francisco Palha esteve ontem simplesmente monumental em Vila Franca! É a
grande Figura do toureio a cavalo da actualidade e já podemos considerá-lo o
grande e absoluto triunfador desta temporada!
Pepe Moral passou a mensagem de que é, de facto, um bom toureiro e foi uma
aposta fortíssima do empresário Ricardo Levesinho trazê-lo à Palha Blanco depois
dos importantes triunfos em Sevilha e Madrid. Contudo, acusou a falta de
picadores nesta primeira vez que toureou em Portugal e, ainda para mais, toiros
com o sentido e a seriedade dos Palhas. Souberam a pouco as suas duas faenas...
Nuno Casquinha foi ontem em Vila Franca um portento de arte, de poder e de
ofício. Nos dois toiros que enfrentou, sérios e a pedir contas, esteve à altura
das circunstâncias e o público aplaudiu de pé o seu enorme labor. Portugal tem
uma vedeta nova no toureio a pé. Só não o tem há mais anos porque os senhores
empresários não estavam atentos...


Não há todos os dias uma corrida como a de ontem em Vila Franca. Toiros de uma seriedade sem fim, toureiros - sobretudo Francisco Palha e o matador Nuno Casquinha - a entregarem-se e a porem todos os pontos nos iis, assim como quem diz: "Queremos e vamos ser Figuras!". Forcados de alma como os de Vila Franca. E viveu-se a emoção a todo o momento. Assim vale a pena ir aos toiros!

Miguel Alvarenga - Francisco Palha deu mais um passo decisivo e importantíssimo na afirmação como primeiríssima Figura do toureio a cavalo. Nuno Casquinha, depois do triunfo clamoroso na última Feira de Outubro em Vila Franca, reafirmou-se ontem como toureiro de profundo valor e deu o grito da alerta que as empresas nacionais precisavam de ouvir: ele faz falta aos nossos cartéis! Os Forcados de Vila Franca voltaram a ter uma tarde de plena consagração diante de toiros que não permitiam deslizes. E a ganadaria Palha impôs o respeito e a seriedade que fazem falta à Festa. O empresário Ricardo Levesinho saíu também triunfador e é de novo o homem certo na praça certa. A corrida de ontem em Vila Franca foi das que fazem aficionados. O público não arredou pé até ao último minuto. A seriedade dos toiros e o empenho dos artistas, toureiros, bandarilheiros e forcados, fizeram dela, até ao momento, a grande corrida mista desta temporada.
Primeiro os toiros. Sem pesos de bisontes, com um trapio enorme e a exigirem, a pedirem contas, cheios de sentido, de nobreza e de tudo aquilo que um toiro bravo deve ter - e ser. Deram seriedade ao espectáculo, emoção à tarde e provocaram o susto na bancada. Um triunfo inquestionável da centenária ganadaria Palha na comemoração do seu 170º aniversário. Quase todos os toiros foram aplaudidos ao entrarem na arena e três foram ovacionados quando recolhiam aos currais.
O maioral da ganadaria foi premiado com volta à arena no quinto - mas já o devia ter sido antes. E não por decisão do director de corrida João Cantinho. Mas antes porque Francisco Palha teve a atitude de pedir ao “inteligente” se o maioral os podia acompanhar na volta. O director de corrida estava certamente desatento…

Francisco Palha, a Figura que faltava

Francisco Palha é, já ninguém tem dúvidas, a grande Figura que faltava ao nosso toureio a cavalo. Os seus grandes triunfos, como o de ontem, têm sido diante de toiros sérios e não com murubes daqueles que tudo facilitam e tudo permitem. Por isso mesmo, Palha está a destacar-se a léguas do pelotão e a subir degraus todos os dias. Fazia falta um toureiro assim - como o foi Salgueiro há uns anos atrás.
“Trabalho todos os dias para que as coisas aconteçam assim”, disse-me ao final da corrida. E a verdade é que o fruto do seu trabalho e do seu esforço se está a ver. Palhinha não é toureiro de facilidades e muito menos de meias tintas. Ou vai ou racha. Demorou, mas chegou. As grandes obras levam tempo a fazer.
Está um toureiro consolidado, com uma tremenda tranquilidade, de uma serenidade e uma ousadia sem limites. Joga a vida todas as tardes nas arenas. Joga-a-mesmo! Vai para cima dos toiros com a decisão de marcar a diferença. E de ser alguém - mas alguém com importância - num mundo que ele quer conquistar. E está mesmo a conquistar.
Foram seus os dois grandes ferros da lide a duo com Rouxinol que abriu ontem a corrida em Vila Franca. As lides a duo são por norma uma “seca” e têm pouco ou quase nada a ver com toureio. Estão há anos em desuso e até em Espanha os rejoneadores as aboliram. Mas numa corrida como a de ontem, havia poucas hipóteses de assim não ser: ou se lidavam oito toiros, como antigamente ou os cavaleiros ficavam em desvantagem perante os matadores e enfrentavam um só toiro cada.
O toiro de Palha era sério, imponente, exigente. Luis Rouxinol esteve bem, como bem está sempre. Mas os ferros grandes desse dueto foram de Francisco Palha. E marcaram a diferença. De longe.

30 anos depois, Rouxinol
é ainda dos que dão a cara!

O quarto toiro tinha mobilidade, transmitia e arreava forte. Em suma, não era para brincadeiras. Luis Rouxinol rubricou uma lide plena de emoção com o fantástico cavalo “Douro”, sempre ligado, bregando com maestria e cravando com verdade e rigor. Uma actuação brilhante, como brilhantes são sempre as presenças de Rouxinol, toureiro consagrado, seja em que praça for.
Trinta anos de maestria e já nada a provar a ninguém. Mesmo assim, o profissionalismo e a honestidade de vir dar a cara com toiros de verdade, com toiros sérios, com toiros que incomodam e podem descompor. Mas não há toiro que descomponha o poderio, o valor e a técnica elevada de um toureiro como Luis Rouxinol.

Colhida e triunfo da nova estrela

Francisco Palha não tem trinta anos de alternativa, nem nada ainda que se lhe pareça. Mas é um toureiro que se está a afirmar de dia para dia e que ontem deu mais um importante passo em frente na consagração como Figura. Mais que isso: ele é, neste momento, o toureiro que estava a faltar à nossa Festa. Pela emoção, pelo arrojo, pelo seu querer, pela sua arte, pela forma como está montado - moralizado - e pode com todos os toiros.
Frente ao sério e reservado quinto Palha da tarde, cuja lide brindou aos céus, à memória de seu lembrado tio Fernando Palha, a seu primo Luis e a seus pais, o jovem Francisco foi um verdadeiro “rio de emoções”. Cedo o toiro se fechou em tábuas e a partir daí Francisco Palha deu-nos a grande e verdadeira dimensão da sua arte e do seu toureio. Nunca se aliviou - e com um toiro daqueles muitos o teriam feito. Pelo contrário, arriscou, entrou pelo toiro dentro em terrenos de alto compromisso, pôs, como se costuma dizer, a carne toda no assador - e que fosse o que Deus quisesse. Sofreu uma impressionante e aparatosa colhida de valor.
Uma colhida é sempre uma colhida e a culpa é sempre do toureiro - e não do toiro. Mas há colhidas por distração, por inexperiência, por azelhice. E colhidas motivadas pelo valor dos toureiros. Por estarem em terrenos de alto risco, por terem arriscado demais. Por isso, a colhida de Palha foi uma colhida de valor - e que valor, meu Deus!
Mas o cavaleiro nunca virou a cara. Seguiu-se outro ferro igual, nos mesmos terrenos, assim como quem diz: “Estou aqui para ser Figura!”. Enorme! De gigante! Provavelmente a melhor actuação a cavalo desta temporada. Premiada com duas voltas à arena na companhia do forcado e do maioral da ganadaria Palha.
E tenho dito. Força, Palhinha! Esperamos por ti no domingo em Moura e dia 19 em Lisboa - onde terás, não tenho dúvida, a noite grande de plena consagração e te sentarás de vez no trono do toureio equestre nacional.
Que Deus te acompanhe sempre!

Nuno Casquinha avisa
empresários: “Estou aqui!”

Nuno Casquinha cruzou o mar e foi triunfar para o Perú, agarrando as oportunidades que por cá as empresas lhe negaram. Agora voltou e ontem deu o grande grito de alerta aos nossos empresários: “Estou aqui!”. Que têm sido, pelos vistos, os menos atentos ao valor deste grande Toureiro.
Já em Outubro passado triunfara nesta mesma praça. Este ano está finalmente (mais vale tarde que nunca!) anunciado para o Campo Pequeno (2 de Agosto). Ontem provou, a quem não queria ver, que é um toureiro importante e um toureiro de um enorme valor. Vi, à minha frente, o Maestro Vitor Mendes aplaudi-lo de pé e indignar-se pelo tempo que o director de corrida levou a conceder-lhe música.
Interpretou com arte, enorme poderio, grande valor e sentimento os tércios de capote, bandarilhou superiormente, até parecia que era fácil o que fazia diante de toiros tão sérios - e nas faenas de muleta, a segunda quase toda com a mão esquerda, foi o delírio da multidão.
Toureiro profundo, cheio de técnica, com muita entrega e grande ofício, a provar o bem que lhe tem feito toda a experiência no Perú. Brindou a sua primeira faena do matador Eduardo Oliveira e a segunda ao público. Vila Franca rendeu-lhe homenagem e premiou-o com estrondosas ovações. Nuno Casquinha saíu ontem ainda mais consagrado da Palha Blanco e aumentou as expectativas dos aficionados de o verem no dia 2 de Agosto em Lisboa. Já está na Feira da Moita e merece voltar em Outubro a Vila Franca.
No seu segundo toiro, repartiu o tércio de bandarilhas com o consagrado Pedro Gonçalves, que este ano se despede das arenas e há-de ficar na História como um dos maiores bandarilheiros de Portugal.
Pedro cravou um par com a sua marca, mas atrasou-se a sair da cara do toiro e acabou por ser colhido. A arte e a raça, o brio e a técnica, são apanágios de sempre. As pernas e a idade é que já não perdoam. Mesmo assim, uma aplaudida intervenção de Pedro Gonçalves.

Bom toureio de Pepe Moral

Pepe Moral, sobretudo depois dos seus triunfos em Sevilha e em Madrid, foi uma aposta louvável e bem demonstrativa do bom sentido empresarial de Ricardo Levesinho.
O seu primeiro toiro acabou cedo, mas enquanto durou Pepe Moral aproveitou-o muito bem. O segundo também não era um toiro fácil e o espanhol, sem brilhar, deu um ar da sua graça e explicou que é, na verdade, um bom toureiro e que não aconteceram por mero acaso os triunfos em Sevilha e em Madrid.
Acusou, contudo, o facto de ser a primeira vez que actuava em Portugal, sem picadores e ainda para mais diante de toiros com o sentido e com a seriedade dos Palhas. Defendeu-se e não chegou a romper. No primeiro, sem música, deu aplaudida volta à arena. No segundo, foi agradecer as palmas nos tércios. E feitas as contas, soube a pouco a sua vinda a Portugal

Grandes forcados de Vila Franca!

Já o escrevi várias vezes: para grandes toiros, com a seriedade, a exigência e o comportamento dos Palhas de ontem, grandes Forcados!
E foi assim, uma tarde mais, na Palha Blanco. Triunfo incontestável do grupo da terra no último Colete Encarnado sob o comando do grande Ricardo Castelo - que se despede na próxima Feira de Outubro.
Para a cara do primeiro toiro foi o consagrado Rui Godinho, que viria a sofrer fortíssimo derrote, saindo lesionado e encontrando-se, como já aqui se noticiou, internado no Hospital de Vila Franca com uma lesão no baço.
Dobrou-o outro forcado de eleição - e de dinastia. O valente Francisco Faria, que é filho de Jorge Faria, antigo cabo do grupo e um dos maiores forcados da sua geração.
Esteve decidido e enorme o Francisco. E o grupo bem a ajudar. Mas o toiro não era fácil. E só foi pegado à terceira pelo valente Faria. Não queria dar a volta à arena, mas o público obrigou-o. E deu-a. Merecidamente.
Bruno Tavares, que foi um grande primeiro ajuda e ontem se despediu das arenas - sem a habitual cerimónia do despir da jaqueta - fez a segunda pega da tarde ao quarto toiro de Palha, outro toiro de tremenda seriedade. Bem a citar e a recuar, fechou-se com braços de ferro, aguentou um derrote brutal e jamais “descolou” da cara do toiro, com ajudas fundamentais dos companheiros e Carlos Silva a rabejar com o usual talento. Deu aplaudida volta com Rouxinol e o público exigiu-lhe outra. O forcado chamou o cavaleiro de novo, mas Luis Rouxinol teve a humildade e a grandeza de lhe entregar o tricórnio e lhe bater palmas, retirando-se. Bruno Tavares deu então sózinho mais uma merecida e muito justa volta à praça. A última.
David Moreira foi para a cara do quinto toiro naquela que foi a terceira e última intervenção dos Amadores de Vila Franca. Sofreu um derrote alto, o toiro atingiu-o mesmo na cara e caí atordoado. Recomposto, fez-se de novo “à luta” e caminhou serenamente, arena fora, para voltar a citar o toiro que se encontrava fechado em tábuas. Aguentou com galhardia a investida, toureou e fez um pegão à segunda tentativa.
No final o grupo foi despedido com uma imensa ovação. Mais que merecida.
Nota alta para todos os bandarilheiros, com destaque para Manuel dos Santos “Becas, João Bretes, Diogo Malafaia e Jorge Alegria a bregar e a colocar os toiros para os forcados; e para Filipe Gravito com as bandarilhas, executando bem as sortes, mas nem sempre deixando os pares por inteiro. Também para Cláudio Miguel, da quadrilha de Casquinha, com o poderio de sempre.
João Cantinho foi ontem o director de corrida. Nada a apontar, a não ser o atraso com que concedeu música a Casquinha no terceiro toiro da corrida e a Palha no quinto. Estava certamente distraído…

Fotos Emílio de Jesus