Triunfo grande e importante de António Telles e confirmação do potencial que fez de Brito Paes a revelação maior de 2022 |
Miguel Alvarenga - A corrida dos novos ontem em Vila Franca fez-me lembrar, pelas diferenças que as separaram, a anterior dos "velhos" (festival dos Forcados), onde seis veteranos (velhos são os trapos) e o triunfador Bastinhas (a representar seu Pai) deram o litro, entraram em praça para comer os toiros e triunfaram todos eles com as ganas e a raça que costumam ter os principiantes. Era o que ontem devia ter acontecido, mas não aconteceu.
Muito mais que os "velhos", lá estou eu outra vez a chamar-lhes nomes, que os veteranos, os novos é que precisam e têm que se afirmar, que lutar, que dar a cara, ter atitude, mostrar que estão ali à procura de um lugar ao sol. Mas alguns ficaram na sombra. Pior que isso, na penumbra. Sem dar o passo em frente.
Triunfadores propriamente ditos, houve dois: o mais destacado, António Ribeiro Telles (filho), que ontem demonstrou começar a distanciar-se do pelotão do seu campeonato dos juniores e confirmou estar apto e mais que apto para a alternativa que vai receber das mãos do Maestro seu Pai na corrida de abertura do Campo Pequeno; e Joaquim Brito Paes, que foi a grande revelação da última temporada e ontem reafirmou na "Palha Blanco" todo o seu potencial para depressa chegar cá acima.
António Telles lidou o oitavo toiro de Conde de Murça, depois de ter entrado em praça e ter saído quando se preparava para enfrentar o quarto da ordem, que foi o segundo (que trapalhada de baralhamentos...) que recolheu aos currais por coxear da pata esquerda da frente (diz-se membros anteriores, mas isso é tecnicamente falando e a linguagem popular é mais entendida por todos...).
Era bonito o toiro de António, um dos sobreros, mas cedo se revelou mansote, com arrancadas perigosas, procurando refúgio em tábuas. O toiro não era grande coisa, mas enorme era o Toureiro. António porfiou, arriscou, foi buscá-lo à crença sem ajuda dos bandarilheiros, colocou-o onde quis, mandou durante toda a lide. Está um Senhor Toureiro, tranquilo, maduro, emotivo. Grande actuação, triunfo importante na praça talismã de seu Pai.
E voltemos à trapalhada da baralhada ordem de lide: Joaquim Brito Paes, que era para tourear o terceiro toiro da tarde e até lhe chegou ainda a cravar um primeiro ferro comprido (ao primeiro Murça que foi recolhido), acabou por enfrentar o sétimo, que era outro dos três sobreros. Brega excelente, ferros de emoção, remates perfeitos e com arte, frente a um toiro que cumpriu e se deixou lidar, sem transmitir em demasia e escasso de forças. Brito Paes deu-lhe a volta com saber.
O primeiro toiro da tarde, bonito, aplaudido na entrada, com presença e exigente, tinha teclas, mas David Gomes esteve longe de as tocar. Desacertado na cravagem dos dois ferros compridos, desaproveitou ontem aquela que podia e deveria ter sido a sua grande oportunidade desta temporada. Esteve apenas regular, sem passar disso. Foi pena, porque é um toureiro muito melhor que aquele que ali passou ontem pela "Palha Blanco". E não o demonstrou.
António Prates, que dos seis é aquele que se encontra mais adiantado e deu já provas em grandes desafios ao lado das primeiras figuras, começou a lide do segundo toiro, nobre e de investidas francas, com alguma irregularidade, mas depressa se reencontrou e terminou com três grandes ferros curtos a pisar terrenos de compromisso. Apesar de estarmos numa praça demasiado exigente, não tinha vindo nenhum mal ao mundo se o director de corrida Fábio Costa lhe tivesse concedido música. Mas a lide decorreu em silêncio. Só com as palmas do público - que reconheceu o valor de Prates.
Tristão Telles de Queiroz lidou o sexto dos Murças ontem saídos à arena da "Palha Blanco". No meio da confusão da troca da ordem das lides, Tristão foi mesmo, depois dos três toiros recolhidos, aquele que enfrentou o toiro que lhe dizia respeito, o sexto (que deveria ter sido o último... mas ainda houve mais três!). Outro toiro com teclas e a pedir contas. Começou com altos e baixos, consentindo alguns toques que só não tiveram consequências de maior porque o toiro tinha pouca força, mas depressa se recompôs e terminou em beleza e com a graça e a raça que fazem dele, no momento, um dos toureiros com mais "gancho" com o público, sempre uma lufada de ar puro quando está em praça.
Depois de Brito Paes e António Telles, de que já aqui falei, o praticante Diogo Oliveira lidou o nono e, finalmente, último toiro da longa tarde de Vila Franca. Já estivera em praça para lidar o quinto toiro (terceiro que recolheu aos curros, este por se ter lesionado ao embater com violência nas tábuas) e brindara a sua lide a Paco Velásquez (que foi ali substituir, por este se ter lesionado num ombro durante um treino) e depois aos céus, à memória de sua Mãe (falecida há uns anos) e em Dia da Mãe.
Este último toiro tinha alguma qualidade, investia com nobreza e era franco. Diogo Oliveira, um valor que se tem vindo a afirmar e prima por ser excelente equitador, abusou de alguma velocidade, mas cravou ferros aplaudidos, empenhou-se, entregou-se e esteve a lide toda em sintonia com o público, a que chega com enorme facilidade.
Com nobreza, indo pelo seu caminho, sem dificultar e sem derrotar, os toiros proporcionaram aos forcados de Vila Franca e de São Manços seis boas pegas à primeira tentativa - cujas sequências mais logo aqui vamos mostrar.
Por Vila Franca foram caras o cabo Vasco Pereira, Guilherme Dotti e Lucas Gonçalves. Pelos de São Manços, pegou também o cabo João Fortunato e depois Manuel Trindade e Duarte Teles. Nas ajudas, os dois grupos estiveram oportunos e coesos.
Bem estiveram todos os bandarilheiros, havendo que destacar, pela sua veterana, que também quer dizer maestria, João Ribeiro "Curro", Duarte Alegrete, Jorge Alegrias, Pedro Paulino "China", João Bretes, Ricardo Pedro, Luis Brito Paes e Miguel Batista. Sem desprimor pelos mais novos, todos eles eficientes e oportunos nas suas intervenções.
A "Palha Blanco" registou meia entrada forte, apesar do calor que se fazia sentir nos sectores de sol.
Em suma, corrida acidentada pelas lesões de três toiros, mas que acabou por ser salva, evitando-se uma bronca tão ao jeito de Vila Franca, pelo facto de a devida providência se ter precavido com a presença de três toiros sobreros nos currais. Valeu-nos isso!...
O director de corrida Fábio Costa esteve algo exigente nos critérios de concessão de música (sobretudo com Prates, que se outros a escutaram, ele também a tinha merecido), mas defendeu o facto de estarmos na "Palha Blanco", ainda e sempre uma das mais sérias e mais exigentes praças de toiros nacionais. Nada a apontar, por isso. Fábio Costa esteve assessorado pelo competente médico veterinário Jorge Moreira da Silva.
Feitas as contas e apesar dos três incidentes de percurso, foi bom ver de volta às arenas a emblemática e tão histórica ganadaria Conde de Murça. Parabéns, Simão Neves, por esse empenho, por essa dedicação, por tanta aficion como é a tua!
Fotos M. Alvarenga
Durante o dia de amanhã, não perca as sequências das seis pegas, os melhores momentos dos cavaleiros e todas as fotos dos Famosos.