segunda-feira, 14 de janeiro de 2019

O Jorge que eu também não vou esquecer


Miguel Alvarenga - A ver se agora vêm dias mais alegres, notícias boas, que este começo de ano foi um horror. Primeiro Joaquim Bastinhas, depois Manuel Graciosa,  Jorge Manuel Pereira Cordeiro e a seguir o Emílio. O irmão de Rui Bento morreu na quinta-feira e na sexta, quando estava a ser sepultado, morria o Emílio. Foi demais.
Esta foto é do dia 26 de Outubro, quando Rui Bento foi homenageado pelos Forcados Amadores de Alenquer e está aqui, precisamente, ladeado pelo Emílio e pelo seu irmão Jorge.
Nesta precisa ocasião, o Rui enalteceu o exemplo de vida do Emílio, a quem seis anos antes fora detectado um cancro e que lutara que nem um guerreiro pela vida e sempre a sorrir. Com isso, quis dar força ao Jorge, que estava a sofrer do mesmo mal. Um e outro morrerem com apenas um dia de diferença.
Unia-me ao Jorge uma relação longa de amizade, desde os tempos em que eu trabalhava no jornal "O Diabo" e depois em "O Título" e ele me aparecia quase todas as segundas-feiras, às primeiras horas da manhã, vindo de Santa Apolónia, onde chegara de Espanha, a trazer fotografias, recortes de jornais e registos dos mais recentes triunfos do Rui além-fronteiras. Depois ficava, muitas vezes almoçávamos juntos e eu gostava imenso de falar com ele. Ultimamente estávamos muitas vezes juntos no "Galeto", depois das corridas do Campo Pequeno.
Não tinha pelo Jorge o mesmo amor fraterno que me ligava ao Emílio - mas éramos amigos. Visitei-o no hospital, com o Rui, dois dias antes de partir. E depois, com as emoções da morte do Emílio, acabei por não ter tempo para aqui lhe prestar as homenagens que queria.
Amigo do seu amigo, era a mesmíssima pessoa com um euro ou mil euros no bolso. Bom marido, grande pai, irmão enorme, tinha uma dose de saudável loucura que me fazia aproximar dele. Os malucos dão-se sempre bem uns com os outros. E o Jorge era uma pessoa fantástica.
Vai fazer falta a todos. Ele e o seu cigarrito sempre ao canto da boca. Ele e o à vontade com que passou pela vida, encolhendo os ombros nos momentos menos bons, sorrindo e contagiando os amigos nos momentos de alegria.
A semana que passou é para esquecer. Mas as memórias que nos ficam do Jorge e do Emílio não se esquecem mais. Calculo a paródia que lá vai neste momento pelo céu...
Quero aqui voltar a abraçar o Rui, a Mulher e o filho do Jorge, toda a família, dizer-lhes que também o não esqueço, que continuo a rezar por ele, pelo Emílio, que em paz descansem.

Foto D.R.