terça-feira, 17 de dezembro de 2019

Aumento do IVA nas touradas: socialistas contra socialistas... outra vez!



Em bombásticas declarações ao "Expresso", o histórico dirigente socialista Manuel Alegre tece duras críticas àquela que considera ser a “ditadura do gosto” e a “cedência do PS” face a partidos como o PAN e o Bloco de Esquerda. Também o deputado do PS, Luís Testa, admite que a subida do IVA dos espectáculos tauromáquicos para a taxa máxima será “negativa” para o sector, mas lembra que será ainda objeto de discussão na especialidade

A subida do IVA das touradas para a taxa máxima de 23% – que consta das versões preliminares da proposta de Orçamento do Estado para 2020 – é vista com desconfiança e desagrado por parte de Manuel Alegre (foto de cima). Em declarações ao "Expresso", o histórico dirigente socialista tece duras críticas àquela que considera ser a “ditadura do gosto” e a “cedência do PS” face a partidos como o PAN e o BE.
“Trata-se de impor uma ditadura de algum modo e eu sou contra todo o tipo de ditaduras, estou sempre a favor da liberdade. O PS, ao estar do lado do PAN e do BE, não está do lado da cultura e de uma tradição nacional e ibérica”, declara Manuel Alegre.
O antigo líder socialista acusa ainda o PS de estar a ser “cúmplice” e “condescendente” a favor de uma “ultra-minoria”. “Cada vez mais o PS está num casulo e foca-se nestas questões em vez de problemas concretos. Com medidas como esta, o PS faz um favor à extrema-direita. Na minha opinião, é um enorme erro político esta medida”, acrescenta.
Sublinhando que o aumento do IVA para a taxa máxima irá prejudicar gravemente o sector tauromáquico, Manuel Alegre destaca que “não serão só os cavaleiros que serão gravemente afetados, mas também os campinos e todos os outros trabalhadores”.
E deixa dúvidas quanto à cedência do PS face ao PAN e ao BE, recordando o caso do deputado centrista Daniel Campelo que aprovou com o seu voto o Orçamento do Estado para 2000, apresentado por António Guterres, com o pretexto de poder manter a fábrica de queijo Limiano em Ponte de Lima.
“Cheira-me a queijo Limiano e isso deixa um cheiro a pântano. Eu acho que atrás disto está sempre aquela questão fatídica do Orçamento do queijo Limiano e isso dá sempre mau resultado para o PS e para o país. Como é possível esquecer tantos concelhos a troco do quê? Do resto da geringonça? Da ditadura do gosto? Eu acho que isso põe em causa a confiança no voto no PS e digo isso com tristeza”, conclui.
O deputado socialista Luís Testa (foto ao lado), também adepto de touradas, admite que a subida do IVA dos espectáculos tauromáquicos para a taxa máxima será “negativa” para o sector, mas frisa que será ainda alvo de uma discussão em sede de especialidade. “Esta não é uma questão nova, a minha posição é a mesma. Mas o Orçamento não foi ainda apresentado e iremos passar ainda por uma fase da especialidade”, afirma ao "Expresso" o deputado Luís Testa.
Qualquer agravamento do IVA nas touradas, sublinha o deputado do PS, será naturalmente objeto de alguma preocupação face às eventuais consequências para o sector e para determinada parte da sociedade portuguesa, mas uma vez que se está numa fase muito precoce do Orçamento, a medida será ainda alvo de discussão e eventuais alterações.
“Para nós, não existem assuntos tabu. Felizmente, o PS é um partido muito grande, plural e transversal, que gosta de debater vários assuntos. Desta vez não será diferente, será uma discussão sem dramatismos e sem qualquer exagero ou extremar de posições”, defende Luís Testa.
No entanto, no ano passado, a proposta de Orçamento do Estado para 2019 levou a uma tomada de posição por parte da Secção de Municípios com Actividade Taurina e a uma guerra entre o PS dividido e o Governo. O então presidente do Grupo Parlamentar do PS, Carlos César, foi o primeiro subscritor da proposta para a descida do IVA, que obteve também a aprovação por parte de outros deputados socialistas como Luís Testa.
No final, a taxa de IVA nas touradas acabou por cair de 13% para de 6% com votos favoráveis do PSD, CDS e PCP e os votos contra do PS, BE e PAN. Mas desta vez a composição parlamentar poderá ditar o resultado contrário.

- Liliana Coelho in "Expresso"

Fotos D.R.