domingo, 15 de dezembro de 2019

E então é Natal...



Miguel Alvarenga - Eu odeio o Natal, pronto! Não sou crente, mas não sou contra quem seja. Acredito que nasceu Jesus porque se trata de um facto histórico, da mesma maneira que embora não fosse nascido ao tempo acredito que houve um D. Afonso Henriques que foi o primeiro rei de Portugal e um D. Nuno Álvares Pereira que, para mal dos nossos pecados, correu com os espanhóis em Aljubarrota.
Não festejo a hipocrisia do Natal e muito menos perco tempo nesta altura do ano na barafunda dos centros comerciais e das compras, credo, cruzes, canhoto. Nem calculam como eu sou feliz sem a obrigação de andar a fazer comprar nesta altura. Adoro dar presentes - e dou. Mas nunca por obrigação natalícia.
Gostei do Natal, como todas as crianças gostam, no tempo em que acreditava no Pai Natal, nas renas e nisso tudo. Depois voltei a gostar do Natal quando os meus filhos nasceram e foram crescendo acreditando também no Pai Natal. Vou voltar a gostar um dia do Natal quando o meu neto o entender e for de manhã abrir as prendas. De resto, estamos conversados, não me falem de Natal, não me mandem mensagens de Natal, não me digam "bom Natal", que ainda levam um bofetão.
Estou em Madrid neste momento em que vos escrevo. Madrid me mata e me relaxa. Por aqui também é Natal, mas eu não tenho nada a ver com isso, prefiro as canhas, os passeios, ver a azáfama desta gente de um lado para o outro, sentir o cheio da Espanha que eu amo.
Não é politicamente correcto não desejar um Santo Natal a quem gosta dele. É que até podiam os meus amigos ficar ofendidos e não quero. Por isso o faço. E aqui deixo, bem sei que com alguma dose de hipocrisia - e sem senso... - os desejos de um Santo Natal a todos os que nos lêem todos os dias, aos que não nos lêem, aos que lêem mas dizem que não lêem, às empresas, aos toureiros, aos forcados, aos ganadeiros, aos amigos que um ano mais acreditarem em nós e nos preferiram. Beijos e abraços.
E deixo aqui duas memórias: lembro o meu querido Joaquim Bastinhas e lembro o meu querido Emílio. Dois Amigos que eu perdi e que partiram precisamente por esta altura, há um ano. Fiquei a gostar ainda menos do Natal.
Vou aqui beber umas canhas por vocês, recordá-los como todos os dias os recordo, lembrar a importância que cada um teve, à sua maneira, na minha vida. Gritar que me fazem muita falta. E que, se realmente tudo isto fosse verdade, se houvesse mesmo Natal e se eu conseguisse acreditar nessas coisas, não seria possível que os melhores se fossem embora e nos deixassem aqui sózinhos, ou quase, com um vazio tão imenso. Não é justo, não foi justo, mas o que nos vale é que Amigos como vocês nunca morrem.

Fotos Emílio de Jesus/Arquivo e M. Alvarenga