terça-feira, 17 de dezembro de 2019

Futuro do Campo Pequeno dependente de muitos "ses"...

Campo Pequeno: um processo complicado e cheio de "ses"... Se isto for assim,
acontece aquilo, se for assado acontece de outra forma. Em baixo, Paula Resende;
a Dama de Ferro da Tauromaquia Nacional pode terminar o seu reinado, mas
seria bom se continuasse. Muitos a criticam, mas a realidade foi só uma: e se
a administradora da insolvência fosse anti-taurina e não se tivesse apaixonado
pelo mundo tauromáquico como ela se apaixonou? O que teria sido de nós?
Vamos sempre ter que lhe agradecer o decisivo e empenhado contributo que
deu nos últimos anos ao Campo Pequeno e à Festa. Doa a quem doer!


Vendida ou não vendida a concessão a Álvaro Covões, o Campo Pequeno vai ter temporada em 2020 e Rui Bento já a anda a preparar, mesmo sem conhecer o que acontecerá daqui para a frente. O processo está "meio embrulhado" e cheio de "ses". Investigámos e aqui fica o ponto da situação. Se...

Miguel Alvarenga - O futuro do Campo Pequeno é uma incógnita e o mais estranho é que ninguém, das partes interessadas, diz nada.
Porque a missão do jornalista é, foi sempre, informar, fomos investigar, falámos com várias fontes - e todas, estranhamente, aceitaram falar mas exigiram o anonimato, isto é, que não puséssemos nas suas bocas aquilo que nos disseram... a pretexto de não prejudicar todo o - estranhíssimo - processo em curso. E concluímos o quê?
Primeiro e porque essa é a questão que verdadeiramente mais nos interessa e aos nossos fiés leitores, concluímos que seja ou não vendida a concessão a Álvaro Covões e Pires de Lima, a temporada tauromáquica de 2020 não está em causa e vai realizar-se.
Rui Bento, inclusivamente, e ao que sabemos, já a está neste momento a preparar, já está a contactar toureiros, forcados e ganadeiros, mesmo que o esteja, por enquanto, a fazer "no escuro" e sem saber ainda as linhas com que se vai cozer.
Segundo, o contrato da venda da concessão deveria ser assinado até ao dia 31 de Dezembro, último dia do ano e precisamente dois meses depois da assinatura do contrato de promessa de compra e venda (que não envolveu adiantamento de dinheiro por parte dos compradores), que foi assinado a 31 de Outubro.
Ao que nos adiantam algumas das nossas fontes, o mesmo não deverá ser assinado até ao final do ano, protelando-se todo o processo por mais um mês, até ao final de Janeiro. E isto, atenção, se alguma vez chegar a ser assinado. Há também quem defenda que os vários processos instaurados na Justiça pela família Borges, os antigos proprietários da Sociedade de Reconstrução Urbana do Campo Pequeno (SRUCP), que reclamam a sociedade de volta e acusam de ilegal todo o processo de insolvência, vão constituir permanentes impedimentos e entraves à venda e que o processo se pode arrastar nos tribunais por muitos mais anos. Fala-se mesmo, sem confirmação oficial por nenhuma das fontes que contactámos, da intenção de Pires de Lima em avançar com um chorudo pedido de indemnização ao BCP no caso de o contrato não ser assinado.
E das duas, uma, tão certo como um verdade do Senhor de La Palice: o Campo Pequeno (a concessão, entenda-se, que a praça é propriedade da Casa Pia) ou é vendido ou não é vendido.
Se o contrato for assinado e a concessão for vendida, Álvaro Covões - já o expressou publicamente - não vai organizar directamente as corridas de toiros, mas também não vai acabar com elas. É um empresário experiente, consciente e coerente - e jamais iria virar contra si o Carmo e a Trindade ao impedir a praça de toiros de Lisboa de realizar aquilo para que foi construída, as corridas de toiros.
Terá então duas opções: ou concessiona as datas a uma ou mais empresas, levando a efeito um concurso ou conversando directamente com os interessados (que não serão poucos...) e isso levaria a que tivessemos hoje uma tourada organizada por beltrano, amanhã outra por cicrano, etc.; ou tem o bom senso de negociar com Rui Bento e mantê-lo, como até aqui, como o homem certo no lugar certo.
Se o contrato foi assinado pelo menos até ao final de Janeiro, e porque já estamos muito em cima do início da temporada, o mais certo é no próximo ano Álvaro Covões deixar as coisas ficarem como estão e manter, de facto, Rui Bento a organizar a temporada, só decidindo depois em 2021 se assim continuará tudo ou se adjudica realmente a organização das corridas a outra ou a outras empresas.
Caso a concessão seja realmente vendida a Covões, Paula Mattamouros Resende permanecerá ligada ao processo, como administradora da insolvência (que não fica resolvida com a venda), pode eventualmente ficar mais dois ou três meses na praça para ir passando todas as pastas, mas depois abandonará a gestão da empresa, dando por terminado o seu reinado, que foi importante, super produtivo para o mundo tauromáquico e lhe valeu mesmo o cognome de Dama de Ferro da Tauromaquia Nacional.
E por muito que alguns a possam criticar por isto ou por aquilo - e já o fizeram -, vamos sempre ter que lhe ficar agradecidos pelo impulso, pela dinâmica e pelo apoio que Paula Resende deu ao Campo Pequeno e à Tauromaquia. Quando aqui chegou, como administradora da insolvência e como uma ilustre desconhecida dos homens dos toiros, tudo podia ter acontecido. E se Paula Resende fosse anti-taurina, o que se teria passado?  E a verdade, doa a quem doer, é que ela se apaixonou pela Festa Brava, se entregou de alma e coração à causa, vestiu a camisola e foi, na realidade, um apoio importantíssimo - e inesperado - a Rui Bento e a toda a equipa de Tauromaquia da empresa, tornando-se mesmo num dos pilares mais importantes e decisivos dos últimos anos para se atingir o esplendor que a Festa viveu nas derradeiras temporadas, a partir, precisamente, da primeira praça de Portugal.
Mas tudo isto são prognósticos, hipóteses, talvez mesmo meras especulações. Voltemos ao princípio.
Se o Campo Pequeno for vendido, a temporada de 2020 vai na mesma realizar-se e Álvaro Covões já não vai ter muitas opções que não sejam deixar, pelo menos no próximo ano, rolar as coisas como até aqui. Em 2021 se verá depois o que acontece.
Se o Campo Pequeno não for vendido, se as acções judiciais da família Borges levarem à impugnação da venda, Paula Resende deverá continuar e Rui Bento também.
Existe ainda uma terceira hipótese no meio desta trapalhada toda, que é os tribunais acabarem por dar razão à família Borges e os antigos empresários regressarem à gestão do Campo Pequeno. E nesse caso, à partida, Rui Bento deverá também continuar.
Resumindo e concluindo, não existem certezas absolutas neste momento quanto do futuro do Campo Pequeno. Existe, sim, a convicção - por parte de todas as fontes que contactámos - que, se isto ou se aquilo, a temporada do ano que vem não está neste momento em causa. E isso é o que nos interessa - e verdadeiramente nos preocupa.
Mas este processo é um processo cheio de ses... E que promete arrastar-se por mais algum tempo ainda talvez com mais ses...
Vamos ter que aguardar. Com calma e descontração...

Fotos M. Alvarenga e Maria Mil Homens