terça-feira, 10 de março de 2020

Se o Governo aconselhou a suspender ou adiar eventos para mais de 5 mil pessoas, realizá-los é uma inconsciência

Conselho do Governo deve ser seguido à risca. Em eventos para mais de 5 mil
pessoas que não sejam cancelados, só se deve ir nesta figura
Estive no ano passado no Campo Pequeno cercado por chineses numa tourada.
Se fosse nos dias de hoje, há muito que já estava de quarentena...
A praça de toiros de Beja tem capacidade para 3.300 pessoas e vai dar um
festival taurino no sábado; a da Moita (foto de baixo) leva 5.150 espectadores e
também  mantém de pé o festival taurino anunciado para domingo


Em Beja devíamos ir ajudar as crianças com cancro e na Moita impunha-se que fossemos apoiar a Escola de Toureio. Mas manter de pé esses espectáculos, depois do Governo ter aconselhado a suspender ou adiar eventos para mais de 5 mil pessoas é mais que uma povocação, é uma inconsciência. Os homens dos toiros não costumam ser assim...

Miguel Alvarenga - Reagimos (o Governo) tarde, como é costume, mas reagimos finalmente. Para precaver a propagação do coronavírus, o Ministério da Saúde anunciou ontem algumas medidas, entre as quais (a que nos toca) aconselhar ao cancelamento ou adiamento de eventos para mais de cinco mil pessoas. Prevê-se que a epidemia esteja controlada lá para finais de Maio e que a partir de Junho tude volte à normalidade, mas até lá, não vá o diabo (ou algum chinoca) tecê-las, o melhor mesmo é seguir o conselho do Governo.
A Misericórdia de Almeirim, proprietária da Monumental que, segundo a enciclopédia Wikipédia (internet), tem capacidade para 5.600 espectadores, apressou-se ontem a adiar (para data a anunciar) a corrida que estava agendada para o dia 5 de Abril. A Praça Maior, associação que gere a Monumental de Santarém (segundo a mesma Wikipédia, com capacidade para 13.179 espectadores) ainda não tomou posição quanto à corrida agendada para o próximo dia 22.
Não sou, por natureza, minimamente alarmista, nem costumo entrar em histeria com coisas destas ou outras, mas começa a parecer-me que isto do coronavírus, até que seja debelado, se for, não é coisa com que se brinque.
Por isso, considero que manter de pé espectáculos/eventos em recintos para mais de cinco mil pessoas, depois do conselho do Ministério da Saúde para os cancelar ou adiar, é um acto inconsciente de quem os promove. Agravado pela possibilidade de o público não comparecer. Nessas coisas de perigo para a saúde pública, o portuguesinho é muito receoso e por certo acatará o conselho governamental.
Já foram cancelados concertos musicais e outra espécie de eventos. Será, presume-se, uma coisa passageira e acredita-se que a partir de Junho tudo volte à normalidade.
Surpreendentemente, os organizadores dos festivais taurinos deste fim de semana em Beja e na Moita mantêm esses eventos de pé. Segundo a referida Wikipédia, a lotação da praça de Beja é de 5.000 lugares mas o empresário Ferreira Paulo rectifica e diz que a lotação é de 3.330 lugares; e a da Moita de 5.150, ou seja, são dois espaços onde não é aconselhável nesta altura realizarem-se eventos. Levá-los a efeito, apesar de tudo, pode ser interpretado como uma espécie de provocação - ou mesmo uma ousadia, arriscando a falta de comparência de público.
Bem sabemos que o momento não é o melhor para a Tauromaquia e que é necessário e urgente, como o fizemos no Campo Pequeno no Dia da Tauromaquia e no sábado passado em Alcochete, enchermos as praças e mostrarmos a nossa força. Mas uma coisa é enchermos uma praça em circunstâncias normais e outra é enchermos uma praça com o risco de sairmos de lá todos "coronavirados", ou seja, todos infectados. Neste momento, é preciso ser consciente - e não correr riscos.
Paulo Pessoa de Carvalho, que é presidente da Associação de Empresários Tauromáquicos, desdramatizou a situação numa entrevista que concedeu ao site toureio.pt. Diz mais ou menos que não existe um plano B e que também não existe caso para alarme. Tá bem, abelha.
Eu, por mim, não arrisco. Tenham paciência, mas em locais com aglomerações de cerca de 5 mil pessoas não me apanham tão cedo. Sigo à risca o conselho da ministra da Saúde. Posso ser doido, mas inconsciente não sou. Credo, cruzes, canhoto!

Fotos D.R, Maria Mil-Homens e M. Alvarenga