Miguel Alvarenga - Deus queira que não,
mas se por acaso ouvirem nas notícias que o utilizador de um computador foi
projectado vários metros pelo ar e aterrou num campo de futebol próximo da
praceta onde vive, em Alverca, vítima de grande explosão, fiquem a saber que se
trata do nosso Emílio. E passo a explicar.
Com vários anos de atraso, o Emílio
chegou finalmente à Lua. É o primeiro, mas foi o último a lá chegar. Até eu,
que sou o mais avesso possível às modernices do futuro, cheguei há três anos à
Lua e o Emílio tardava em fazê-lo. A nossa Lua, que para muitos já era Lua há
imenso tempo, é a internet. É disso que falo.
Durante muitos anos, o Emílio tirava as
fotos, colocava-as num cd (alguém as colocava por ele), metia-se no BMW e vinha
de Alverca a Lisboa trazer-me a reportagem. Agora fazia-o em direcção a
Santarém, para as levar ao Francisco Morgado.
Era um atrasadinho dos diabos, como eu
lhe chamava. Na era da moderníssima internet, em que existe uma coisa chamada
e-mail, por onde se podem mandar fotos para qualquer parte do mundo (como,
também não entendo muito bem, vão pelo ar, pela "estratosfera" ou lá
o que é isso...), o Emílio tardava em aderir a essas modas. Levava as fotos à
maneira antiga. Gastava gasolina, portagens e paciência. Mas preferia assim.
Há dias telefonou-me: "Ó Miguel,
dentro de oito dias já tenho internet, e-mail e essas trapalhadas todas".
- Ó diabo, então temos que comemorar
isso!, disse-lhe. Os dias passaram. Um técnico, amigo dele, esteve um dia
inteiro a montar-lhe as coisas. A ensiná-lo. Excitadíssimo, voltou a telefonar,
informando que me ia enviar o primeiro mail, com as fotos do jantar de homenagem
a José Cortes na "Mexicana". Esperei, esperei e nada. Levou dois dias
a mandar. Mas lá chegaram. Depois, foi ao festival a Bencatel (Vila Viçosa) no
domingo e à noitinha as fotos já estavam no meu mail. Está a melhorar.
O excitamento com a internet não pode
ser maior. E ainda não descobriu ele que pode ver mulheres nuas, falar mesmo
com elas, ter muitos amigos nessa coisa chamada "Facebook", etc. e
tal. Quando descobrir tudo isso, vai ser o fim do mundo!
Já o avisei: tem cuidado, Emílio, não te
enganes a carregar nalgum botão em que não devas, que pode explodir o
computador, a casa, ir tudo pelos ares! E depois lá temos que dar uso àquele
famoso artigo que escrevi e de que tens uma cópia, intitulado "Morreu o
melhor de todos nós!"...
Foto M. Alvarenga