No Campo Pequeno, em Lisboa, o cornetim
José Henriques dá as "ordens" aos toureiros há 41 anos, transformando
cada momento em que entra em cena num ritual respeitado por todos os
protagonistas do espetáculo.
José Henriques explicou ontem à Agência
Lusa que é "apenas um elo de ligação" entre o director de corrida e
os artistas, não escondendo que existe sempre "algum nervosismo"
quando tem de fazer soar o seu trompete.
"Numa corrida de toiros faço sempre
mais de trinta toques, mas há dois em que o público está completamente em
silêncio e provocam mais nervosismo. Esses toques são os da saída dos toiros à
arena e quando eu toco para a pega", revelou.
A paixão pelo trompete nasceu há 46 anos
e para este músico, que iniciou o seu percurso em filarmónicas e nas Marchas
Populares de Lisboa, ficam para sempre guardados os ensinamentos que recebeu de
seu pai, também ele cornetim em diversas praça do país.
Nos tempos de juventude ainda sonhou ser
toureiro e experimentou a "adrenalina" de se colocar em frente a uma
rês brava, mas, conta, ao levar uma "tareia" de um novilho, em
Cascais, desistiu dessa "grande paixão".
Ao longo da sua carreira, José
Henriques, de 64 anos, tem feito soar o seu trompete nas mais importantes praças
de toiros do país, mas guarda como "ponto alto" da sua carreira
quando tocou em 1972 na praça de toiros Monumental de Barcelona (Espanha).
"Esse foi um momento muito grande,
pois penso que tornei-me, até à data, o único cornetim português internacional",
disse.
Na memória guarda ainda as suas
actuações na corrida de toiros de despedida do toureiro Diamantino Viseu, no
Campo Pequeno, e ainda, na mesma praça, nas comemorações dos 50 anos de
alternativa de João Branco Núncio.
"Mas também tenho recordações pela
negativa, infelizmente, como a colhida, que viria a ser mortal, do cavaleiro
Varela Crujo em Lisboa", lembrou.
José Henriques, que recebeu do pai o
testemunho de se tornar cornetim nas praças de toiros, não esconde a vontade de
entregar o testemunho a um dos seus netos que recentemente ingressou no
Conservatório de Música.
Mas, enquanto isso não acontece, o toque
de José Henriques vai continuar a soar nas arenas e as luvas brancas que
utiliza para executar a sua função vão continuar a brilhar perante o olhar dos
aficionados.
- in www.rtp.pt/Lusa
Foto Emílio de Jesus