Miguel Alvarenga - Depois dos anos
"áureos", com o empenho (parece que desaparecido...) do autarca Moita
Flores, a Monumental de Santarém voltou, sinal da crise, mas não só, aos seus
tempos de infortúnio. Tempo para voltar a equacionar (porque se justifica
plenamente) o seu derrube e a construção de uma praça mais pequena e "mais
junto" ao local da Feira Nacional da Agricultura (CNEMA).
A corrida de ontem à noite teve o sabor
amargo dos dias de "praça às moscas". Meia casita com predominância
de público nos sectores de sol (nunca entendi por que razão à noite se faz a
distinção entre sectores de sombra e de sol, mas no mundo taurino há tanta
coisa que não se entende...), o que significa, nos bilhetes mais baratinhos...
A corrida arrastou-se sem que nada acontecesse,
para além de uma pega monumental desse enorme forcado que é Diogo Sepúlveda,
cabo dos Amadores de Santarém, logo no primeiro toiro (na foto ao lado, brindando ao Dr. Manuel Passarinho, o extraordinário médico ortopedista "das mãos de ouro"). Foram, aliás, os
forcados - de Santarém e de Alcochete - quem mais animação deu a uma tourada
"de seca".
A corrida não foi boa, nem foi má. Pura
e simplesmente, não prestou para nada. Contribuiu, isso sim, para solidificar
ainda mais a ideia de que isto um dia acaba, não por obra e graça dos
anti-taurinos, coitados, mas sim por culpa exclusiva dos que cá andam... a dizer
que são taurinos.
Os toiros dos Herdeiros de Conde Cabral
- agora de "Conde" Ventura - não ajudaram à festa. Salvo o que saíu
em segundo lugar e foi logo recolhido por coxear, que parecia ser o melhor do
lote, dos restantes pouco rezou a história. Houve toiros de "várias
nacionalidades", idades mais propriamente: Moura lidou primeiro um toiro
de cinco anos, a seguir Bastinhas enfrentou um de quatro e em terceiro lugar
Rouxinol lidou um novilhote de três. Curro homogéneo? Não há pachorra para o
estado a que chegou esta Festarola...
João Moura por lá passou, a milhas de
distância dos seus feitos de glória naquela arena. Meu Deus, quem se lembra,
como eu, da tarde histórica dos sete toiros, da gloriosa alternativa com o
trânsito parado em Santarém...
O grande e eterno Bastinhas, pura e
simplesmente não esteve ontem em Santarém. Era um "duplo",
certamente...
Rouxinol também me deu saudades daquela
fantástica alternativa, ali mesmo, naquela arena, já lá vão vinte e cinco anos.
Andou apenas "popularucho" na lide do novilho de três anos e depois
"empolgou" no último, dando as únicas pinceladas que, no que toca aos
cavaleiros, valeram a noite...
O filho de Rouxinol abriu a noite. Tem
uma garra tremenda, vê-se a léguas que vai ser toureiro. Aplaudi de pé o valor
de um jovem que merece ser apoiado.
O triunfador da noite, repito, foi Diogo
Sepúlveda. Um forcadão de se lhe tirar o chapéu. Citou sózinho, longe do grupo,
como o faziam os antigos. Recuou com "toureria", foi artista, dos que
marcam, frente ao toiro, fechou-se com ganas de dali não sair mais e por lá
ficou, aguentando derrotes, desvios da viagem do toiro, feito herói de uma
noite que foi deles e só deles - dos forcados.
As outras pegas foram também actos de
valentia e de honra à arte, tão nobre e tão nossa, de pegar toiros. João Goes e
António Imaginário por Santarém, Fernando Quintela, Joaquim Quintela e Diogo
Timóteo, pelos Amadores de Alcochete, deram à tourada de ontem em Santarém o
esplendor e a magia que tinham antigamente as corridas de toiros. De resto...
Ricardo Pereira foi o competente
director de corrida, tendo a seu lado o candidato Pedro Graciosa. Aplausos ao
cornetim Narciso - que os houve e merecidos.
Mais nada de uma noite que
não deixou história...Fotos Emílio de Jesus