Apesar do tempo instável e dos choviscos ameaçadores, a praça da Chamusca encheu-se ontem para a tradicional corrida de quinta-feira da Espiga |
Enorme ambiente em redor da praça antes da corrida |
Empresário Paulo Pessoa de Carvalho conseguiu devolver à praça da Chamusca o carisma da tradição da quinta-feira de Ascensão. A praça registou ontem uma enchente de três quartos nas bancadas |
Ganadeiros deram aplaudida e merecida volta à arena no quarto toiro com Marcos Bastinhas e o forcado José Maria Moreira (Aposento) |
Duarte Pinto "não esteve" no seu primeiro toiro, mas redimiu-se no segundo e "acabou com o quadro" |
João Salgueiro da Costa emocionou com ferros "à moda da casa" |
Miguel Alvarenga - Com tudo tão mudado e
os valores tão trocados - e perdidos - faz falta, às vezes, ser saudosista,
lembrar com saudade os tempos-outros, passar em revista coisas que marcaram o
nosso passado e, ao fim e ao cabo, acabaram por traçar o nosso caminho e moldar
as nossas vidas. O meu Pai, tomarense e aficionado dos quatro costados, não
faltava nunca aos toiros na Chamusca na quinta-feira de Ascensão, também
chamada da Espiga e eu ia com ele desde miúdo - e estou preocupadíssimo porque
ontem não encontrei os famosos ramos de espiga à venda em lado nenhum, será que
também já se perdeu essa tradição? Tradição que não se perde é, outra vez, a de
ir aos toiros na castiça praça da Chamusca, ali metida entre as casas, linda
por dentro, emblemática e diferente por fora.
Paulo Pessoa de Carvalho estreou-se
ontem como empresário daquela praça - e fez tudo para recuperar a tradição,
conseguindo alcançar os seus propósitos. Os cartazes tinham um semblante de
antigamente, os preços eram "do século passado" e a verdade é que a
Chamusca recuperou aquele ambiente de outrora. Antes da corrida, em redor da
praça, o ambiente era imenso - e à antiga. As bancadas estavam cheias de
"gente do toiro", a praça registou uma bonita entrada de três
quartos. E até os toiros eram "de antigamente", os velhos Norbertos,
agora propriedade dos Irmãos Dias, toiros de casta portuguesa, com volume
suficiente, não "bisarmas" como os toiros que hoje "se
fabricam", de comportamento notável, a dar emoção, a pedir contas, de
cornos apontados à lua, sem facilitar, mas a deixar-se tourear, toiros para
quem sabe tourear e a cumprir para a forcadagem, sem atrapalhar em demasia,
exceptuando o primeiro (pegado à quarta). Os ganadeiros deram merecida volta à
praça com Marcos Bastinhas e o forcado José Maria Moreira, do Aposento, no
quarto toiro. E a corrida acabou com todos os artistas em praça - os cavaleiros
Marcos Bastinhas, Duarte Pinto e João Salgueiro da Costa e os forcados dos dois
grupos da Chamusca (Amadores e Aposento), incluindo campinos (que estiveram
brilhantes e valentes), o que é só de si demonstrativo do sucesso da grande
tarde de toiros que ontem se viveu na Chamusca - e de que lhe vamos contar tudo
hoje aqui, com as fotos de Emílio de Jesus, que está definitivamente de volta e a cem
por cento. Graças a Deus!
Fotos M. Alvarenga