Os toiros de casta portuguesa dos Irmãos Dias deram emoção à corrida de ontem na castiça praça da Chamusca, com 95 anos de existência |
No conjunto das duas exibições, Marcos Bastinhas foi o mais aplaudido e, por isso, o grande triunfador |
Duarte Pinto: um "petardo" no primeiro toiro e um triunfo acima da média no segundo |
Salgueiro da Costa emocionou desde os ferros compridos! |
Alexandre Mira, dos Amadores da Chamusca, pegou o quinto toiro à segunda. depois de ter sido derrotado com violência na primeira tentativa, de que aqui fica esta sequência |
Os campinos deram volta no último toiro (merecida!) com Salgueiro e os forcados João Saraiva e João Rui Salgueiro (Aposento) que pegaram de cernelha |
Miguel Alvarenga - A corrida de ontem na
Chamusca, tradicional tarde de toiros de quinta-feira da Espiga ou da Ascensão,
foi, antes de mais, uma vitória do empresário Paulo Pessoa de Carvalho - porque
apostou num cartel de juventude e futuro, sem as usuais e agastadas fórmulas
dos elencos "mais do mesmo"; porque em termos de marketing conseguiu
convencer, como se lia nos cartazes, que é mesmo preciso "relembrar a
História e reviver a Tradição"; e porque, fazendo as coisas bem feitas, logrou
cativar o público e levá-lo à praça, o que nesta altura do campeonato é um dos
factores mais desejados e mais necessários para que a Tauromaquia se reafirme -
e, mais que isso, se reencontre. A castiça praça, com 95 anos de existência,
registou ontem uma agradável presença de público, com três quartos da lotação
preenchidos e um ambiente de entusiasmo e aficion verdadeiramente à antiga.
Um dos grandes atractivos da corrida era
o curro de toiros dos Irmãos Dias, os antigos Norbertos (ex-ganadaria de Norberto
Pedroso), de casta portuguesa, cinco anos, boa apresentação e excelente
comportamento, sobretudos os saídos em primeiro, quarto, quinto e sexto lugar.
O segundo foi problemático e o terceiro meio reservado, mas deixaram-se lidar.
São toiros com "manhas" especiais e características únicas, que
exigem empenho e particular atenção de toureiros e forcados, toiros que dão
emoção ao espectáculo e não permitem deslizes a quem os enfrenta. Foi merecida
a volta à arena dada pelos ganadeiros ao quarto toiro.
Por parte dos três jovens cavaleiros,
Marcos Bastinhas, Duarte Pinto e o ainda praticante João Salgueiro da Costa,
destaca-se o facto de não ter havido "meias tintas", nem
"alívios" ou sortes mais "à pressa". Houve, isso sim,
ferros de grande emotividade e três toureiros apostados em "morrer ali, se
preciso fosse", pondo tudo de si em cada lance e em cada movimento na
arena. O público, entendido e aficionado, reconheceu a entrega dos três
ginetes.
Marcos Bastinhas está num momento de
enorme moralização e que lhe dá uma confiança e uma tranquilidade que em praça
transmitem imenso e são o garante de um toureiro que se está a consagrar de ano
para ano. O terceiro curto, no primeiro toiro, foi um ferro do outro mundo. No
geral, nas duas exibições, o jovem Bastinhas esteve seguro e esteve brilhante,
senhor das situações, seguramente apoiado numa extraordinária quadra de
cavalos. É o seu momento! No conjunto das lides foi o mais aplaudido e o mais homogéneo, pelo que se pode destacar nesta tarde o seu importante triunfo.
Duarte Pinto parecia não estar nos seus
dias quando enfrentou o segundo toiro da corrida. O oponente não ajudava, mas
Pinto e as montadas também andaram num total e constante descontrolo. No
segundo, redimiu-se... e redimiu-se a "acabar com o quadro". Foram
ferros de uma emoção sem fim numa lide em crescendo de euforia e que terminou
com um curto cravado em terreno sem saída, verdadeiramente impossível e
revelador da casta e da raça deste toureiro.
Salgueiro da Costa esteve muito bem nos
dois toiros. Finalmente "encarrilado", galvanizou o público com
ferros de arrepiar, indo de frente à cara dos dois toiros, estilo "ou vai
ou racha", e foi - muito ao estilo "da casa", ou seja,
"ferros à Salgueiro". A seguir assim, pela certa que terá bons
carros, comerá nos melhores restaurantes, dormirá nos maus luxuosos hotéis e
terá a seu lado apoderados engravatados. Salgueirinho está a lutar por tudo
isso! E vai lá chegar.
No que aos forcados diz respeito,
competiam ontem os dois grupos da terra, Amadores da Chamusca e Aposento da
Chamusca.
Pelos Amadores, pegaram Mário Ferreira
(irmão do matador de toiros António João Ferreira), à quarta tentativa, com as
ajudas "em cima" (carregadas), após alguns desajustes nas primeiras
três tentativas; Nuno Torrado, à primeira, que se despediu, como há momentos
noticiámos (ler notícia anterior); e Alexandre Mira, ao segundo intento e
também com o grupo a ajudar muito "em cima".
Melhor estiveram ontem os Amadores do
Aposento, com duas boas pegas à primeira a cargo de Francisco Souto Barreiros
(neto de Rui Souto Barreiros) e José Maria Moreira; e de uma arrojada cernelha
executada ao último toiro da corrida por João Saraiva e João Rui Salgueiro, com
excelente participação dos campinos da Casa Dias, que os acompanharam depois na
aplaudida volta à arena.
Em corrida bem dirigida por Pedro
Reinhardt, assessorado pelo médico veterinário Dr. José Luis Cruz, há a
destacar brindes dos forcados ao Dr. Pedro Salter Cid e ao cantor José Cid. A
função terminou com o público a aplaudir todos os artistas intervenientes na
arena. Lamente-se apenas o piso não estar na perfeição, tendo condicionado de alguma forma o comportamento dos toiros.
Não perca, ainda hoje, a grande reportagem fotográfica de Emílio de Jesus.
Fotos M. Alvarenga