domingo, 18 de junho de 2017

Mais uma crónica (sem o ser) de uma tourada que não vi em Santarém...

Padilla com a valentia de sempre numa foto que reproduzimos, com a devida
vénia, do site tauronews.com, que ontem não teve direito a senha de trincheira
para fazer a reportagem da corrida... e, em baixo, eu à grande e à francesa
no reino dos Algarves, onde escapei ao cenário deprimente do cimento vazio
na enormíssima Monumental de Santarém... Ufa!


Miguel Alvarenga - Voltei a não estar em Santarém no sábado. Voltei a comemorar, desta vez não o Dia de Portugal, talvez antes o Dia de Padilla (que me dizem que foi quem galvanizou o pouquinho público presente) no reino dos Algarves.
E, uma vez mais, ainda bem que o fiz. Poupei-me à tristeza deprimente de ver a Monumental que tem cerca de 12 mil lugares, preenchida por escassos 700 ou 800 espectadores, mais 100, menos 100, é pouco relevante para um quadro tão catastrófico.
Já se previa, mas ainda havia quem acreditasse num milagre. Em Santarém, repito, quem tinha razão era o saudoso Manuel Gonçalves, que viveu uns anos à frente do seu tempo e sabia ver e fazer as coisas como ninguém: Santarém quer é seis cavaleiros, dois grupos de forcados, grandes toiros. Lembram-se das Corridas da Renascença, esgotadas com dias de antecedência?
O empresário João Pedro Bolota quis, volto a dizer, mostrar que ainda mexe e excedeu-se na montagem de cartéis de altíssimo nível e com grandes Figuras do toureio mundial. Não me venham agora dizer que se pode atacar ou beliscar, sequer, um empresário que tem a ousadia de montar uma Feira Taurina com Ventura, com Morante, com "El Juli", com Rouxinol, com Caetano e com Padilla. Talvez tenha, isso sim, montado uma Feira na praça errada. Santarém esteve-se nas tintas para as grandes Figuras do toureio a pé. E Padilla, que ontem toureou sobretudo para o desolador cenário de cimento vazio, fez uma má jogada em ter vindo a Santarém. O novo ídolo dos portugueses, que esgotou o Campo Pequeno na corrida de abertura, não arrastou ontem ninguém à Monumental "Celestino Graça".
Podia-se ter morto a galinha dos ovos de ouro, que é como quem diz, o crescente entusiasmo que o toureio a pé está a ter de novo entre os aficionados lusos. Mas o nosso públicozinho é demasiado porreiraço e esquece depressa. Ao Campo Pequeno irão ver Padilla as vezes que for preciso e irão encher a praça. Como vai acontecer no dia 2 de Julho em Vila Franca.
O Campo Pequeno está na moda e não serve de exemplo para nada. É especial, é um caso à parte, completamente à parte. Pensar que os toureiros que esgotam o Campo Pequeno esgotam também as outras praças é pensar errado.
As duas corridas de Santarém servem agora para que se reflicta e se reformule muita coisa. Corre-se o risco, estou farto de o dizer, de qualquer dia as corridas de toiros ficarem reduzidas a quatro ou cinco cenários e mais nada: Campo Pequeno e as datas tradicionais de algumas praças, como são os casos da Évora, do Montijo, de Alcochete, de Vila Franca e poucas mais.
A praça de Santarém é grande de mais. Ainda se acreditou que pudesse ressurgir, depois de terem levado a Feira lá para baixo, mas isso aconteceu apenas e só quando os bilhetes eram a 5 euros... Hoje em dia, ficou agora provado, a Monumental de Santarém faz tanta falta como tem feito a de Cascais ou a de Viana do Castelo, onde só havia uma tourada por ano. No dia em que a deitaram abaixo, a Festa continua.
Os donos da Festa que façam agora, mas que o façam depressa e em força, as reflexões que se exigem. João Pedro Bolota fez um grande esforço, deu um exemplo enorme. Ninguém correspondeu, deixaram-no só e deixaram a praça vazia. Digo até mais: eu, se fosse toureiro, graças a Deus para todos vós - e para mim - não sou, recusava-me a tourear num cenário tão degradante como o de ontem.
Valeu a pena o esforço de João Pedro Bolota? Onde estão, afinal, os aficionados? Começo a desconfiar que só há mesmo aficionados do Campo Pequeno - onde tudo é distinto, onde se vai à praça pelo glamour, pelo acontecimento, pelo cenário, já não tanto por aficion, como se ia antigamente às touradas de outras eras.
E ontem em Santarém o que se passou? Rezam as crónicas que Luis Rouxinol esteve muito bem, que Moura Caetano esteve muito bem e que Padilla esteve ainda uns pontos mais acima do muito bem. Que os Forcados de Santarém fizeram quatro valentes pegas por intermédio de Salvador Ribeiro de Almeida (à quarta), David Inácio (à primeira), Lourenço Ribeiro (à primeira - sou fã deste grande forcado!) e António Taurino (à terceira). Não se lidaram propriamente todos os toiros que estavam anunciados, mas sim dois de Cunhal Patrício (primeiro e segundo), três de Paulo Caetano (terceiro, quinto e sexto) e um de Maria Guiomar Moura (quarto). Dirigiu Lourenço Luzio.
E que mais? Mais nada.

Fotos Frederico Henriques/tauronews.com e D.R.