segunda-feira, 30 de outubro de 2017

Évora fechou temporada ontem: Palha deu o grito do Ipiranga, Cortes posicionou-se na meta para 2018 e Prates terminou em grande o ano em que deu nas vistas

Seis cavaleiros e dois grupos de forcados fecharam ontem a temporada na praça
de Évora com seis toiros de São Torcato que deram emoção e importância ao
espectáculo. Foi uma corrida das que fazem aficionados e fechou com chave
de ouro a época de 2017
O veterano Rui Salvador fechou a sua campanha com chave de ouro ontem em
Évora. No final, o abraço ao apoderado Carlos Amorim, a seu lado há quase
30 anos
Foi preciso chegar à última corrida do ano para que muitos abrissem os olhos
e reconhecessem, por fim, que Francisco Cortes é um cavaleiro de muito valor
e não pode andar esquecido pelas grandes empresas como tem andado. Ontem
em Évora abriu as portas ao futuro e a sua carreira em 2018 tem que ser
obrigatoriamente distinguida com a presença nos grandes palcos da nossa
tauromaquia
Toureiro de paixão e de alma, equitador primoroso, Gilberto Filipe não toureou
muito em 2017, mas marcou pela positiva as corridas em que tomou parte
A classe e a arte de Manuel Telles Bastos no fecho de uma temporada brilhante
para o cavaleiro da Torrinha, aquela em que mais toureou e em que mais
triunfou
Histórica e vibrante lide de Francisco Palha ontem em Évora - uma das maiores
actuações de 2017!
António Prates justificou ontem em Évora a distinção que todos lhe fizeram
este ano como grande revelação da temporada e deixou aberta a porta
para a mais que justificada alternativa no próximo ano


A temporada de 2017 fechou ontem em Évora com chave de ouro numa tarde marcada pelo triunfo da ganadaria São Torcato com toiros que deram emoção e importância ao espectáculo e um triunfo histórico de Francisco Palha, mas também de Francisco Cortes e do jovem praticante António Prates. Uma corrida de que se vai ficar a falar no defeso!

Miguel Alvarenga - Acabo de ver ao pormenor, em video, a corrida que ontem encerrou a temporada em Évora. E vou contar o que vi, as ilacções que tirei, as lições que obrigatoriamente e em relação a alguns dos toureiros participantes, é preciso retirar em relação ao futuro. Não entendo, por exemplo, porque razão Francisco Cortes continua esquecido pelas grandes empresas, tendo ele o valor que tem e que ontem mesmo deixou escrito em Évora. Consagrou-se em definitivo Francisco Palha como um dos mais destacados cavaleiros da actualidade e depois de uma época de plena e absoluta consagração. E fechou com chave de ouro a temporada de que foi a maior revelação o jovem António Prates, que já todos entendemos que não vai ser só mais um, é já, pelo contrário, um dos casos mais sólidos e mais consistentes do momento. E não tenho dúvidas de que vai dar cartas e apertar com as figuras da nova vaga.
Nem sempre o que era, é. Nem sempre as tradições ficam para durar. E este ano, pela primeira vez, o encerramento oficial da temporada tauromáquica não se vai realizar no próximo dia 1 de Novembro no Cartaxo, antes ficou decretado ontem em Évora com uma corrida das que fazem aficionados e cujos lucros reverteram a favor da Associação de Dadores Benévolos de Sangue daquele distrito, cariz solidária que impunha uma maior afluência de público à praça, mas que se ficou por meia casa forte.
Os toiros de São Torcato, bem apresentados, com trapio de sobra e manejáveis, trouxeram emoção e deram a importância que faz falta ao espectáculo, exigindo, não facilitando, pedindo contas a cavaleiros e a forcados. Os três primeiros toiros foram de excelente nota, o quinto foi um toiro de bandeira, com raça, bravo e premiado com a volta do maioral à arena, o quarto e o sexto foram cumpridores.
Não houve tempos mortos, nem muito menos actuações para esquecer, como às vezes acontece. Todos os cavaleiros e forcados estiveram em plano superior, mas há que destacar ontem a grande actuação de Francisco Palha no quinto toiro, provavelmente uma das grandes lides desta temporada e que veio culminar com chave de ouro a campanha brilhante deste cavaleiro que em 2017 alcançou um plano de grande e memorável destaque em todas as praças por onde passou e onde triunfou. Ontem em Évora, Francisco Palha disse que é, de facto, um dos grandes toureiros da actualidade e pôs termo, com um brinde a toda a sua equipa, a uma época de sonho em que se afirmou e, mais que isso, se consagrou no pelotão da frente. Ferros de arrepiar, decisão e querer que se têm que aplaudir, atitude e tranquilidade num momento de grande solidez e de muita confiança. Palhinha em grande! E em bom! Deu o grito do Ipiranga no último momento da temporada. Reafirmando o passão em frente que deu este ano.
Outro caso da corrida de ontem foi Francisco Cortes, que teve uma lide a todos os títulos brilhante, com rigor na cravagem dos compridos e grande emoção nos curtos, com ferros de parar corações em sortes ao pitón contrário que levantaram o público. Foi preciso, infelizmente, chegar à última corrida do ano para se constatar - para quem tinha dúvidas - que Francisco Cortes é um toureiro de tremendo valor e que faz falta nas grandes praças... onde não o levaram os empresários. Mas mais vale tarde que nunca e em tarde de fecho de temporada, o cavaleiro de Estremoz abriu a porta ao futuro e justificou expectativas que podem (devem) dar um novo rumo à sua luta na próxima época de 2018. Os empresários que abram os olhos!
Por fim, o praticante António Prates, grande revelação de 2017, agarrou ontem mesmo numa chave de ouro e trancou a porta a um ano que foi de destacado mediatismo pela afirmação com que se impôs e pela forma como aproveitou todas as oportunidades importantes que teve, consolidando um caminho rumo ao sucesso. Falhou um ferro, sofreu um toque, mas há que lembrar o escalão distinto e de principiante em que se encontra em relação aos seus companheiros de cartel desta derradeira corrida do ano. Fechou a sua actuação com um ferro ousado e em terrenos de compromisso, acabando em apoteose, depois ao longo de toda a sua actuação ter deixado bem patente o seu desmedido valor. Está apto para a sonhada alternativa e é um dos casos importantes do momento.
O veterano Rui Salvador abriu a tarde com uma actuação que primou pela evidência da sua raça e da sua garra, terminando em grande uma temporada sólida e de valor. São já 33 anos de alternativa, uma histórica escrita a letras de ouro, um toureiro que surpreende todas as tardes pelo empenho que põe em tudo o que faz, pelo profissionalismo acima da média, pela força com que, mesmo sem um cavalo craque como os que fizeram história na sua trajectória, continua a marcar a diferença e a impor a sua importância na História do toureio português em cada corrida onde participa. Há que louvar e enaltecer essa constância e essa regularidade que o acompanham há três décadas.
Gilberto Filipe também não deixou por mãos alheias os seus créditos de grande equitador e de toureiro de paixão e alma. Com um bom e colaborante toiro de São Torcato, executou o toureiro bom, sem espalhafato, com rigor e verdade, terminando da melhor forma uma campanha em que, mesmo toureando pouco, marcou pela positiva as corridas em que participou.
Manuel Ribeiro Telles Bastos teve este ano a sua mais destacada temporada, pela regularidade dos êxitos que alcançou e que terão sido motivados pela moral que lhe trouxe o facto de ter feito um mais elevado número de corridas do que em anos passados. Está num momento alto, bem montado e sobretudo moralizado e confiante. Jamais se afastou um milímetro da linha clássica que o caracteriza desde os seus inícios e isso continua a fazer dele um toureiro diferente entre os da nova geração. Teve ontem o toiro mais reservado e mais complicado, mas superou a adversidade com o seu saber e a sua invejável classe de bom toureiro.
As pegas, como já aqui se referiu, estiveram a cargo dos Amadores de Santarém e dos Amadores de Évora, com intervenções, pelos escalabitanos, a cargo de João Torres (à segunda), Manuel Murteira (numa grande pega à primeira) e António Taurino (também ao primeiro intento e de forma brilhante); pelos eborenses foram caras João Madeira (numa boa pega à primeira tentativa), José Maria Passanha (que só consumou à quarta) e Gonçalo Pires (muito bem, à primeira).
Um fim de temporada de triunfo para os Forcados num ano que ficou tragicamente marcada pela morte de dois companheiros.
A última corrida do ano foi bem dirigida por Marco Gomes, assessorado pela médica veterinária Drª Ana Gomes.

Fotos Maria Mil-Homens