"Se convidasse uma figura televisiva para um jantar a dois... convidava Simone de Oliveira. Admiro imenso o sentimento e a arte que esta grande Senhora transmite em cada interpretação" |
"2017 foi uma temporada de muitos triunfos e onde cimentei ainda mais a minha forma de tourear. Por isso, são grandes as expectativas para 2018" |
Moura Caetano em Madrid: "Hei-de voltar em Espanha às grandes praças, neste momento optei por centrar mais a minha actividade em Portugal" |
"O meu pai é uma grande figura do toureio e uma referência para todos nós. Ainda vou ter que trabalhar muito para um dia chegar onde ele chegou!" |
Terminou a última temporada, um ano recheado de êxitos, em grande nível na corrida de gala que encerrou o ano em Lisboa. Depois de amanhã, 25 de Abril, inicia a nova campanha na tradicional corrida de Alter do Chão. É de João Moura Caetano que falo - e com quem falo. Vem cheio de confiança e considera que cimentou ainda mais o seu estilo de tourear. Vem tranquilo, com cavalos novos e desejoso de demonstrar o que eles valem. Se não fosse toureiro e não tivesse nascido no campo, gostava de ter sido… treinador de futebol. É um jovem de alma. E de raça. Sabe bem o que quer e por onde vai. Cresceu a ouvir falar de toiros e cavalos. Ser toureiro foi mais ou menos uma coisa do destino. Se já chegou aos calcanhares do pai, o Maestro Paulo Caetano? Diz, com humildade e um sorriso: “Acho que tenho que continuar a trabalhar muito para um dia chegar onde ele chegou”. Vamos ouvir João Moura Caetano.
Entrevista de Miguel Alvarenga
- Depois de ter encerrado de modo brilhante, no Campo Pequeno, a sua temporada de 2017, inicia a nova campanha já esta quarta-feira em Alter do Chão, numa corrida emblemática do calendário taurino, em competição com João Moura Jr. e Francisco Palha e na dupla qualidade (e responsabilidade) de toureiro e ganadeiro. Que expectativas, João?
- As expectativas são as melhores, venho de uma temporada muito importante para mim, na qual acho que consegui cimentar ainda mais o meu estilo de toureio e obter alguns triunfos importantes, isso dá-me confiança para a época que se avizinha. Alter já é uma data habitual no meu calendário, é o terceiro ano consecutivo que eu e o meu primo (João Moura Júnior) toureamos a 25 de Abril, sempre com praça cheia e bons espectáculos, sinto-me preparado para mais um ano poder proporcionar uma boa tarde de toiros. Como ganadero, é sempre mais complicado, os toiros são sempre uma incógnita, a corrida está bonita e bem apresentada, o resto “é com eles”, só no dia saberemos. Vamos estrear um semental novo, que tem dado bons resultados nas tentas, estou curioso, vamos ver.
- Para além dos craques da quadra, que muitos reconhecem como a melhor da actualidade, que novas estrelas vamos ver este ano nas arenas e nomeadamente já esta quarta-feira em Alter?
- Há três cavalos novos na quadra que podem ser muito importantes; o “Hip Hop”, o “Hidrogénio” e o “Hamlet”. O “Hip Hop” tem ferro da casa e se tiver sorte, será um grande craque num futuro próximo, interpreta um tipo de sorte nova para mim, carregar a sorte até ao limite e abrir o quarteio com muita expressão. O “Hidrogénio”, ferro Paim, faz um toureio de enorme verdade e emoção e o “Hamlet”, também com o ferro da casa, vai-me permitir continuar a executar os ferros de praça a praça, que são a minha imagem de marca. A sua utilização em Alter e em Beja, vai depender do comportamento dos toiros que me toquem em sorte nesses dias.
- Fiz na semana passada a mesma pergunta ao seu primo João Moura Júnior e vou fazê-la também a si: acha que já chegou aos calcanhares de seu pai, o Maestro Paulo Caetano, ou ainda lhe falta alguma caminhada para lá chegar?…
- O meu pai é uma grande figura do toureio e é para atingir esse patamar que trabalho todos os dias, ele é uma referência para todos nós e chegar um dia a ser um exemplo para os que virão, é uma meta que quero alcançar. Apesar de cada caso ser um caso e não haver toureiros iguais, acho que tenho que continuar a trabalhar muito para um dia chegar onde o meu Pai chegou.
- Os novos cavaleiros não levam público às praças como os seus pais levavam?
- Penso que a conjuntura actual, é completamente diferente em vários aspectos. A meu ver, acho que o segredo para que haja mais público nas corridas, seja apostar forte com cartéis de competição nas datas mais tradicionais e carismáticas e não andar a gastar esses trunfos em praças que já se sabe, que à partida, não são favoráveis para meter gente. Nos últimos anos, já se começou a verificar essa mudança e vai dando os seus frutos.
- Tem repartido as suas campanhas entre Portugal e Espanha, mas neste país quase sempre em “praças secundárias”, depois de ter ido várias vezes a Madrid. Regressar a Las Ventas é um sonho?
- Sim, a minha carreira tem sido dividida entre Portugal e Espanha, até mais em Espanha nos meus primeiros anos, pisei várias vezes Madrid, Sevilha e Valência, entre outras. Essas presenças ficarão para sempre marcadas na minha vida, foi uma grande aprendizagem mas nos últimos anos, optei por me focar muito mais em Portugal, é aqui que sinto que o meu tipo de toureio faz mais sentido, não querendo dizer, que um dia não volte a algumas dessas praças, mas neste momento, olho para Espanha mais numa perspectiva de rodar os cavalos mais novos e prepará-los para quando aparecem nas datas importantes de Portugal estarem no máximo. Isso não invalida que dê sempre o meu melhor em cada corrida que faço em Espanha, mas de facto neste momento concreto, o meu objectivo está nas principais praças do nosso país.
- A 17 de Maio volta ao Campo Pequeno e desta vez num cartel de máxima categoria, com António Telles e Pablo Hermoso. Vai para ganhar?
- Vou para triunfar como em todas as outras corridas, acho que o único caminho para chegar ao mais alto do toureio, é ir para ganhar em qualquer praça e com qualquer cartel. É para mim, um grande orgulho estar anunciado ao lado de grandes figuras mundiais numa das corridas “estrela” da temporada, na Catedral mundial do toureio a cavalo.
- E a 10 de Junho volta a competir com Pablo Hermoso e desta vez também o Maestro João Moura, em Reguengos de Monsaraz. Grandes desafios para o arranque da sua temporada… Preparado, João?
- É mais uma grande corrida em perspectiva, sinto-me preparadíssimo e a atravessar o melhor momento da minha carreira, espero que haja sorte e seja mais uma tarde para o recuerdo dos aficionados ao bom toureio.
- Como é o João Moura Caetano fora das arenas? E como são os seus dias em Monforte?
- É difícil descrever-me a mim próprio, mas acho que sou uma pessoa simples, tranquila e completamente apaixonada pelo campo, prefiro o silêncio e a calma deste mundo, com um enorme “vício” que são os galgos. A maior parte dos meus dias, são passados a montar cavalos e a tourear vacas e também nas lides do campo. Sou também um amante das nossas ganadarias e trabalho bastante para tentarmos criar um toiro cada vez melhor. Os tempos livres são passados com a Família e os galgos.
- É mais Moura ou mais Caetano?…
- Não sei bem, acho que tenho muito das duas partes; tauromaquicamente, acho-me mais “Caetano”, já que aprendi tanto com o meu Pai e ele é sem dúvida o meu maior ídolo e a minha referência; na maneira de ser, dizem os amigos, que sou mais “Moura”, dizem que tenho um feitio parecido com o meu Avô António Moura, eu não sei bem avaliar isso, mas é possível, já que grande parte dos ensinamentos sobre o campo e sobre a caça, foram-me transmitidos por ele e grande parte da minha infância, a acompanhá-lo para todo o lado. Definir-me a mim próprio, não é fácil.
- Vai-me responder, certamente, que o seu pai é o seu maior ídolo no toureio… mas eu pergunto: tem outros?
- Claro que sim. No toureio a cavalo, tenho muitos, mas agora vêm-me à cabeça o Mestre José João Zoio, que só tive o prazer de ver em vídeos, mas que foi uma grande inspiração para mim, também o João Salgueiro é um toureiro que me enche a alma. Sou também um grande amante do toureio a pé e aí, os meus ídolos são o Maestro Curro Romero e o Morante de La Puebla.
- Que estrela televisiva convidava para um jantar a dois?
- Simone de Oliveira. Admiro imenso o sentimento e a arte que esta grande Senhora transmite em cada interpretação.
- Impôs em mais de dez anos de alternativa um estilo muito próprio e sem imitar ninguém, nem sequer o seu pai. Como interpreta a sua arte, o seu toureio?
- Sou muito transparente nos meus sentimentos dentro da praça, tenho dificuldade em estar a sentir uma coisa e a mostrar outra ao público, isso pode ser considerado um defeito, mas acho que é essa a génese do meu toureio. Toureio é arte e sentimento, é transmitir emoções verdadeiras ao público. Para mim, é muito mais importante a emoção e o sentimento do que a perfeição, o improviso é também base no toureio que eu sinto, levar a faena estudada de casa, é algo que não se aplica a mim, cada tarde é uma tarde e nunca se sabe onde está o êxito ou um fracasso, essa imprevisibilidade dá uma essência especial a cada triunfo
- Quem são as novas figuras do toureio a cavalo? Inclui-se entre os primeiros?
- Sobre isso não me compete a mim pronunciar, quem pode responder a essa pergunta é o público.
- Se não fosse toureiro…
- Ganadero, sem dúvida. Se por acaso tivesse nascido longe do campo, talvez treinador de futebol (risos).
- Superstições, tem? E fé? Reza antes de entrar na arena?
- Tenho muita Fé e rezo muitas vezes, superstições, também muitas. Não gosto da cor amarela nos dias das corridas, gosto de me vestir em quartos de número ímpar, toureio sempre de calções pretos e uso sempre bandarilhas brancas.
- Sente-se realizado como toureiro ou ainda tem metas a alcançar? Quais?
- Sinto-me feliz como toureiro, realizado ainda não, há muitas coisas por conquistar, penso que nenhum toureiro se dá nunca por satisfeito, é uma luta diária pelos novos objectivos.
- Este ano tem um novo apoderado, Joaquim Pataca, depois de nos últimos anos ter estado unido a João Pedro Bolota. Que mudanças se esperam deste novo apoderamento?
- O João Pedro é um grande amigo e tem sido fundamental na minha carreira e no meu desenvolvimento como toureiro e sei que vai estar sempre ao meu lado. Este ano, vou ter comigo o Joaquim Pataca, uma pessoa cativante que sempre respeitei e admirei no mundo dos toiros, surgiu esta oportunidade e ambos a abraçámos com muita convicção, sendo que as mudanças não vão ser grandes, espero tourear entre as 25 e as 30 corridas e tentar estar em bons cartéis e com ganadarias que possam proporcionar êxito, no fundo é exactamente a mesma estratégia dos últimos anos, espero que haja sorte e seja uma temporada importante.
- Além das corridas de que já falámos, depois de Alter, toureia no sábado em Beja na tradicional Corrida Ovibeja. Que mais novidades para a temporada?
- Depois de Beja, vou dia 5 e 15 de Maio a Espanha, dia 12 a Garvão, dia 17 ao Campo Pequeno, 19 de Maio ao Montijo, no dia 2 Junho a Estremoz e 9 de Junho a Reguengos. É esta a primeira parte da temporada, já existem muito mais datas fechadas, que mais para a frente iremos anunciar.
- Com quem gostava de tourear um mano-a-mano?
- Com o Morante de La Puebla, gostava também de reeditar um mano a mano que fizemos há alguns anos em Monforte, com o José Maria Manzanares, grande figura do toureio e grande amigo da família.
- Há anti-taurinos dentro da Festa?
- Não sei se são anti taurinos, mas pelo menos há maus taurinos que nos prejudicam bastante.
- Lê tudo o que os críticos taurinos escrevem das suas actuações?
- Sim, tento ler tudo, acho que de todas as críticas podemos tirar coisas boas e construtivas, que nos ajudam a ser cada vez melhores.
- Já lhe apeteceu mandar um crítico “à merda”?
- Vivemos numa democracia, cada um tem a sua opinião, temos que respeitar, por muito que discordemos ou achemos injusto. Tento não me preocupar muito com essas coisas, a vida é muito curta para a desperdiçarmos com esse tipo de sentimentos, só me importa ser feliz a tourear.
- O que podem os aficionados esperar este ano de João Moura Caetano?
- Podem esperar muito empenho e sobretudo verdade, emoção e sentimentos à flor da pele.
Fotos Emílio de Jesus, las-ventas.com e D.R.