quinta-feira, 28 de dezembro de 2017

Sérgio Nunes: "Vim para Madrid à procura do meu sonho: ser matador de toiros!"

"O querer ser matador de toiros fez-me abandonar tudo no meu país e vir para
Espanha"
Sérgio Nunes (à direita) com o seu primeiro mestre da Academia do Campo
Pequeno, o matador José Luis Gonçalves e com Diogo Peseiro, novilheiro que
também ali deu os primeiros passos


É português, deu os primeiros passos na Academia de Toureio do Campo Pequeno e actualmente frequenta a Escola de Tauromaquia de Madrid. Foi em Alcalá de Henares, terra onde nasceu Cervantes e sob o olhar atento de Dom Quixote e Sancho Pança que o “Farpas” esteve à conversa com Sérgio Nunes .Um jovem que partiu em busca de um sonho além-fronteiras, o de um dia ser matador de toiros.

Entrevista de Fernanda Rita

- Começaste na Academia do Campo Pequeno, há um ano decidiste vir para Madrid. O que te levou a vir para Espanha?
- O querer ser matador de toiros. Ser matador de toiros é uma profissão que em Portugal não pode ser exercida na íntegra. Como tal, a formação de qualquer um que tenha a ambição de o ser, passa necessariamente por outro país do mundo taurino.
- Fizeste uma mudança radical. Paraste os estudos, mudaste a tua vida, vieste para Madrid de malas e bagagens...
- Exactamente! Foi o vir à procura de um sonho, neste caso do meu sonho. Como nos contam naquelas histórias bonitas de toureiros que largaram tudo e mudaram completamente a sua vida para realizar o seu sonho, e por circunstâncias várias o mesmo se passou comigo.
- Como vieste parar à Escola de Tauromaquia de Madrid?
- Foi através de amizades e por querer ir à procura do sítio mais exigente. Esta é uma profissão em que o nível de exigência é extremamente alto, e só é verdadeiramente recompensada se te entregas a ela para seres o melhor. Então resolvi vir para aquela que é considerada a escola mais exigente a nível mundial, de onde saíram inúmeros matadores de toiros e muitas figuras do toureio.
- Fazendo uma comparação entre a Academia de Toureio do Campo Pequeno e a Escola de Tauromaquia de Madrid como vês a tua evolução neste momento?
- São duas realidades completamente diferentes, porque também o ambiente é completamente distinto. Aqui existem muitos jovens que querem ser toureiros, o que faz com que a exigência suba muito comparando com Portugal. Dessa forma para me “manter no comboio”, a minha evolução tem sido muito muito grande.
- Quantas vezes treinas por semana?
- Os treinos aqui na Escola José Cubero “Yiyo” são seis vezes por semana, quatro horas por dia. Àparte da escola, treino por minha conta com matadores de toiros, novilheiros e bandarilheiros.
- Actualmente, para além do toureio, que tipo de actividade profissional desempenhas? Como consegues conciliar o trabalho e o toureio?
- Neste momento é muito difícil viver do toureio. Para me manter durante o Inverno trabalho para pagar o meu quarto, a minha alimentação, etc. Hoje em dia ajudo uma costureira que arranja fatos de tourear, faz arranjos de muletas e capotes. O que me dá uma certa liberdade para treinar e tourear.
- Como foi a tua adaptação num país, numa cidade com uma cultura diferente?
- Sinceramente foi uma adaptação um pouco difícil porque Madrid é uma cidade grande, em que as pessoas à tua volta vivem a mil à hora, o que não lhes permite, portanto, pensar no bem-estar dos outros ou em ajudá-los. Outra parte complicada foi o facto de ter saído de uma escola que tinha poucos alunos, onde tinha um mestre praticamente só para mim e passar para uma escola completamente diferente onde eu sou mais um em trinta alunos. É normal que tenham de dividir melhor o tempo para dar um apoio equitativo a todos. Nesse sentido foi difícil adaptar-me, mas hoje em dia já me habituei a essa situação.
- Também fizeste novas amizades...
- Sim, claro. Um mundo que vives com tanta intensidade faz com que cries ligações fortes com quem o vive da mesma forma que tu. Como vivo exclusivamente para o toureio, a maioria dos meus amigos estão envolvidos nesse meio. E Madrid, como é o epicentro do toureio, faz com que façamos amizades com pessoas de diversas nacionalidades.
- De Portugal do que tens mais saudades?
- Principalmente da minha família e amigos. Mas são ultrapassadas pela vontade que tenho de realizar o meu sonho. A força do “querer” tapa muitas carências que possamos ter.
- Projectos para a próxima temporada...
- Espero que seja uma temporada importante. Este ano foi uma reestruturação da minha aprendizagem, porque havia alguns defeitos que tinham de ser corrigidos. Agora com uma consolidação do meu conceito do toureio, espero dar um passo muito firme de cara ao debute com picadores.
- Uma mensagem para os aficionados...
- Aproveito para desejar um feliz 2018 a todos os aficionados, e que continuemos a dar a grande imagem de afición e defesa pela tauromaquia que nos caracteriza além-fronteiras. Um bem-haja.

Fotos Frederico Henriques e D.R./@Sérgio Nunes/Facebook