segunda-feira, 2 de setembro de 2019

E viva o Grupo de Montemor!

João Telles esteve enorme na lide do quarto toiro, um toiro sério e exigente.
Este ferro, com o cavalo Ortigão Costa, em terrenos de alto compromisso,
foi a coroa de glória de uma actuação que ainda ninguém esqueceu!
Lide espectacular a de Francisco Palha ao quinto toiro da corrida, um toiro de
bandeira da ganadaria São Torcato. Em baixo, António Prates num grande ferro
ao último toiro 


Praça cheia, uma segunda parte em grande no que aos cavaleiros diz respeito e também aos toiros, e seis pegões do Grupo de Montemor na tarde de celebração dos seus 80 anos em casa. Uma corrida à antiga ontem na praça de Montemor. E viva tão glorioso Grupo de Forcados!

Miguel Alvarenga - Esta corrida de Montemor-o-Novo é, por tradição, a tarde dos Forcados e ontem tinha um significado muito especial pela comemoração na sua arena do 80º aniversário dos gloriosos Amadores de Montemor.
Os empresários Simão Comenda e Paulo Vacas de Carvalho esmeram-se todos os anos para que tudo resulte em cheio - e este ano voltou a ser assim.
Pena que os toiros de São Torcato, primos afastados daqueles que em Julho deram uma autêntica noite de terror em Coruche, não tivessem a apresentação e o trapio que Montemor exige e merece. Nem oito, nem oitenta. Nem toiros de 800 quilos como os de Salvaterra, nem toiros como os três primeiros de ontem, com pesos pouco superiores aos 400 quilos, magros, sem presença nem transmissão, mas com "gatos na barriga" e complicados. Cresceram no entanto ao longo das lides.
As actuações de João Ribeiro Telles, de Francisco Palha e de António Prates na primeira parte foram apenas regulares e sem provocar explosões nas bancadas. Valeram as três pegas, pela emoçao que tiveram e pelo signifcado que teve sobretudo a segunda, que foi a última de um grande forcado - Manuel Ramalho (à segunda tentativa). A primeira foi executada ao primeiro intento pelo cabo António Vacas de Carvalho e a terceira, também à primeira, esteve a cargo de Francisco Bissaya Barreto.
A segunda parte foi outra corrida. Os toiros de São Torcato tiveram outra chama e proporcionaram grandes triunfos, sobretudo a João Telles e a Francisco Palha.
O quarto toiro era um toiro de respeito, exigente, a pedir contas, com investidas francas. João Telles esteve simplesmente magistral e obrigou em vários ferros o público a levantar-se das bancadas, aquecendo uma tarde que já de si estava calorenta, mas ainda fria no que diz respeito aos artistas. João pisou a linha de risco, bregou e lidou com superioridade e os dois últimos curtos, em terrenos de alto compromisso, com  o cavalo de ferro Ortigão Costa, foram fabulosos.
O quinto toiro era um toiro de bandeira, bravo, sério, dos que pedem o bilhete de identidade aos toureiros. Francisco Palha esteve acima da média numa lide de imenso fulgor, verdade e emoção. Lamente-se apenas as excessivas intervenções dos bandarilheiros a colocar o toiro, alvo de sonoros protestos do público. Mas Palhinha virou a praça do avesso com ferros de parar corações, a entrar pelo toiro dentro, com o risco e a ousadia que dele fizeram um dos primeiros da actualidade. Uma actuação de luxo!
O último toiro não tinha a qualidade deste, complicava. António Prates, ontem pouco bafejado pela sorte no seu lote, é um jovem em permanente ebulição, arrisca, entrega-se, nunca se dá por vencido. A parada estava altíssima com os triunfos anteriores de Telles e Palha. E Prates não quis ser um mero espectador do êxito dos companheiros. Impôs-se com a garra imensa que lhe enche a alma e conseguiu conquistar também o público com ferros de muita verdade e tremenda emoção.
As três pegas da segunda parte foram históricas.
A quarta foi executada pelo enorme António José Pina, forcado retirado, que consumou à segunda com a arte e o valor de sempre e uma primeira ajuda espectacular de Nuno Campelo, que depois o acompanhou na volta à arena.
Para a cara do quinto e bravo toiro de São Torcato foi o antigo cabo Rodrigo Corrêa de Sá e foi um gosto vê-lo de novo na arena, com a raça e a bravura de sempre. Pega consumada à primeira com excelentes ajudas de todos os companheiros.
Forcados que sabem, jamais esquecem!
A sexta e última pega foi uma perfeição e, como sempre, um compêndio da arte de bem pegar toiros. Na cara, o valente Francisco Maria Borges, com a classe de sempre a citar, a recuar mandando e templando a investida, reunindo e fechando-se para nunca mais dali sair.
Muitos antigos elementos do grupo participaram nas seis pegas, destacando-se a intervenção de Francisco Mira na primeira e as de José Comenda a rabejar dois toiros com "aquela arte" de todos os tempos. Também Francisco Godinho esteve enorme - como está sempre. E António Cortes Pena Monteiro, em dia de aniversário, voltou a estar grande a ajudar.
Houve brindes emotivos, como o de Corrêa de Sá ao antigo cabo João Cortes e à memória do também antigo cabo José Maria Cortes. E o brinde que o grupo fez a Maria Helena Malta, filha do cabo fundador do grupo, Simão Malta. Manuel Ramalho brindou a sua última pega a sua mãe, à memória de seu pai, o também antigo e sempre lembrado forcado Manuel Augusto Ramalho - de quem tive a honra e o orgulho de ser amigo e consigo partilhar algumas noites de boémia e de fado na Lisboa de antigamente - e, depois, a todo o grupo.
Destaque também especial para a inauguração da luz eléctrica na praça, que permitiu que a corrida se iniciasse uma hora mais tarde do que é costume, às seis, e terminasse já de noite. O que antes não era possível.
Foi, em suma, uma grande corrida - sobretudo a "segunda", salvando-se na "primeira" as pegas - e que teve excelente direcção do também antigo forcado Agostinho Borges, assessorado pelo médico veterinário e igualmente recordado elemento do grupo, Feliciano Reis.
Montemor cumpriu a tradição - foi praça cheia. E foi, como é sempre nesta corrida de Setembro, uma tarde de glória para os históricos Forcados Amadores de Montemor. Brindo por eles. Viva tão grande Grupo!

Mais logo não perca a sequência de todas as pegas e todas as fotos de Maria João Mil-Homens.

Fotos M. Alvarenga