quinta-feira, 26 de setembro de 2019

Tourada da Maioria Silenciosa foi há 45 anos no Campo Pequeno

Vasco Gonçalves e António de Spínola há 45 anos no camarote presidencial
do Campo Pequeno, na célebre corrida da Maioria Silenciosa. À direita, na
foto, também Sanches Osório e Galvão de Melo
Ao intervalo da corrida, houve beberete no Salão Nobre da praça do Campo
Pequeno. Na foto, os então presidente da República e primeiro-ministro, António
de Spínola e Vasco Gonçalves, sendo também visíveis o forcado Manuel Serra,
os bandarilheiros Manolito dos Santos, César Marinho, Francisco Farinha, Joaquim

Gonçalves, Jorge Marques e o cavaleiro Emídio Pinto, entre outros

O momento em que o cavaleiro D. José João Zoio exibia na arena o cartaz
da manifestação da Maioria Silenciosa, que lhe foi atirado por um espectador
quando dava a volta à arena
Notícia do dia seguinte dando conta dos distúrbios no Campo Pequeno. Na
foto, o General Spínola e os bandarilheiros Manuel Jacinto e Jorge Marques
À saída da praça, registaram-se confrontos entre comunistas e partidários
da chamada Maioria Silenciosa
"Manifestação reaccionária no Campo Pequeno" - manchete do "Diário de Lisboa"
no dia seguinte à corrida. Em baixo, o célebre cartaz da manifestação da Maioria
Silenciosa, que não se chegou a realizar


Passam hoje 45 anos sobre a famosa corrida de toiros que ficou conhecida como a da Maioria Silenciosa, realizada na praça do Campo Pequeno em 26 de Setembro de 1974 e que serviu como "ensaio geral" para a anunciada manifestação de apoio ao então presidente da República, General António de Spínola, promovida pela Direita e nomeadamente pelo Partido do Progresso e pelo Partido Liberal, entre outras organizações.
A manifestação da denominada Maioria Silenciosa (cujo "boneco" fora idealizado por Quito Hipólito Raposo, já falecido - cartaz ao lado) pretendia, cinco meses depois do 25 de Abril, marcar uma posição manifestamente anti-comunista e em favor do então presidente da República, General António de Spínola e contra o primeiro-ministro Vasco Gonçalves, conotado com o Partido Comunista e a "revolução dos cravos".
A manifestação, marcada para sábado, 28 de Setembro, na Praça do Império, defronte do Palácio de Belém, acabaria por não se realizar e Spínola demitir-se-ia dias depois, passando o país a ser dirigido pela Esquerda, até ao 25 de Novembro do ano seguinte, assumindo a presidência da República o General Costa Gomes.
Dois dias antes da data marcada para a manifestação, realizou-se na praça do Campo Pequeno aquela que era a tradicional corrida anual da Liga dos Combatentes, cuja organização estava em perfeita sintonia com os promotores da manifestação da Maioria Silenciosa.
SpínolaVasco Gonçalves assistiam à corrida no camarote presidencial. O cartel era de seis cavaleiros, entre os quais D. José João Zoio que acabaria por se transformar num dos protagonistas desta noite: quando dava a triunfal volta à arena, recebeu, atirado por um espectador, um cartaz da manifestação da Maioria Silenciosa, que abriu e exibiu.
Esse acto valeu-lhe depois ser vetado pelo Sindicato dos Toureiros, ao tempo dominado por toureiros "revolucionários", que o proibiram de tourear em Portugal. Zoio "emigrou" para Espanha e só no ano seguinte viria a reaparecer em Portugal, nos tempos "quentes" do PREC (Processo Revolucionário Em Curso) e precisamente na praça de toiros de Évora, em pleno "território dos comunistas", tendo a corrida sido organizada pela dupla Quintano Paulo/António Sousa - recebendo a maior ovação de que há memória naquela e noutras arenas, durante mais de quinze minutos o público aplaudiu-o de pé!
Na corrida do Campo Pequeno, com a praça esgotada, no tempo em que a lotação era de mais de 9  mil espectadores, Spínola foi aclamado aos gritos de "Portugal! Portugal! Ultramar! Ultramar!", enquanto Vasco Gonçalves foi vaiado. No final da corrida, registaram-se inúmeros desacatos no exterior da praça, entre bandos de "anti-fascistas" e partidários da Maioria Silenciosa.

Fotos D.R.