sexta-feira, 8 de janeiro de 2021

Na morte de um amigo: adeus, Carlos Arruza!

Miguel Alvarenga - Dois meses depois de cumprir 66 anos de idade (7 de Novembro), morreu ontem, de causas naturais, o antigo rejoneador mexicano Carlos Arruza Vásquez, filho do célebre matador de toiros Carlos Arruza.

Meu companheiro de tantas - e tão loucas... - aventuras naquele ano de 1986 em que estive dois meses no México, em reportagem, quando Fernando Camacho apoderava o rejoneador Ramón Serrano, recordo-o como um homem afável, educadíssimo, amigo do seu amigo e que, mesmo retirado das arenas, mantinha viva a chama da aficion que com ele nascera.

Fernando Camacho mantinha desde sempre uma grande amizade com Mary Carmen Vásquez, sevilhana, a Mulher do "Ciclón" Carlos Arruza (com quem casara em Sevilha na década de 50), ainda viva e de quem o filho Carlitos (assim tratado pela família e pelos amigos) era agora a grande companhia. Nesses primeiros meses do ano de 1986, no México, conheci Mary Carmen e o agora falecido Carlos Arruza, que estava retirado das arenas e que Camacho incentivou a regressar, o que aconteceu depois, em 1989, com uma nova quadra de cavalos que lhe foi proporcionada por Ramón Serrano.

Nesta foto de cima, estou com o Carlos Arruza (o fotógrafo foi Camacho) no seu rancho de Ocoyoaca, no Estado de México, onde guardava, intactos, os muitos recuerdos da carreira de seu pai. Passámos um dia fantástico no rancho e a partir desse dia Carlos foi meu companheiro de muitas noitadas e de tantas vivências na Cidade do México - que recordo hoje com imensa saudade.

A alternativa em Santarém e a grave colhida em Vila Franca

Carlos Arruza Vásquez nasceu na Cidade do México a 7 de Novembro de 1954 e desde muito cedo se apaixonou pela Festa Brava, não fosse ele filho do emblemático matador de toiros e posteriormente também rejoneador (cavaleiro) Carlos Arruza, ainda hoje recordado e referenciado como o mais célebre dos matadores de toiros mexicanos, falecido em 1966 num desastre de automóvel. Era irmão do também matador de toiros Manolo Arruza (retirado), filhos da sevilhana Mary Carmen Vásquez, e irmão também de Mary Carmen (que se suicidou em 2013), de Teresa e Crista e meio-irmão do actor Eduardo Capetillo Vásquez, fruto do segundo casamento de sua mãe com o também toureiro Manuel Capetillo.

Carlos Arruza debutou em público no ano de 1971, a 7 de Novembro (dia do seu 18º aniversário natalício), na praça mexicana de Celaya, Guanajuato, lidando um novilho da ganadaria Cerralvo e formando cartel com os matadores Manolo Martínez e César Franco.

Depois de vários triunfos alcançados na década de 70 em praças mexicanos rumou em 1975 a Portugal onde aperfeiçoou a sua aprendizagem na Torrinha com Mestre David Ribeiro Telles, que lhe viria a conceder a alternativa de cavaleiro tauromáquico a 1 de Junho desse ano na Monumental de Santarém.

Antes da alternativa, actuou em várias praças de toiros portuguesas, entre as quais a da Moita, onde a 25 de Maio desse mesmo ano de 1975 participou na corrida que marcou a estreia do Grupo de Forcados Amadores do Aposento da Moita e onde alternou com David Ribeiro Telles, Alfredo Conde e o então amador José Manuel Correia Lopes.

Nesse mesmo ano, sofreu uma gravíssima colhida na praça de Vila Franca, que lhe causou uma fractura do crânio e esteve algumas semanas internado no antigo Hospital Particular, acabando por regressar ao México. O acidente obrigou-o a estar algum tempo afastado das arenas.

Regressou às lides no ano seguinte, 1976, e a 15 de Fevereiro estreou-se na Monumental Plaza México actuando ao lado dos matadores Adrián Romero, Manolo Arruza (seu irmão) e do saudoso toureiro português Mário Coelho.

No ano de 1977 o azar voltou a bater-lhe à porta quando os seus cavalos morreram num acidente de viação, o que o obrigou uma vez mais a abandonar as arenas.

Em 1989 Ramón Serrano proporcionou-lhe uma nova quadra de cavalos para realizar o projecto de Fernando Camacho que visava a reaparição de Arruza nas arenas, mas acabou por ressentir-se das sequelas do acidente de 1975 na "Palha Blanco" e toureou muito poucas corridas.

Retirou-se finalmente das arenas em 1991, toureando a sua última corrida em San Mateo Atenco, no Estado do México, a 19 de Outubro, repartindo cartel com o seu irmão Manolo (actuaram "mando-a-mano" nessa tarde) na lide de toiros de Pastejé, ganadaria que pertencera a seu pai. Cortou nessa última corrida uma orelha.

Mesmo afastado das lides, Carlos Arruza manteve sempre uma estreita ligação ao meio taurino, acompanhando a evolução do toureio a cavalo no seu país e as novas gerações de cavaleiros, com os quais chegou a rivalizar e em que se destacam os nomes de Jorge Hernández Andrés, Gerardo Trueba e Enrique Fraga, entre outros.

Aos 66 anos, Carlos Arruza vivia com sua mãe. Ontem sentiu-se mal em sua casa e acabou por falecer - nada o fazia prever.

Que em paz descanse.

Fotos D.R.

No México, dando a volta ao ruedo com o saudoso forcado
eborense João Nunes Patinhas
Na praça mexicana de Chihuahua em 1976 com o também
forcado português Joaquim Murteira Correia
O casamento de Carlos Arruza com a sevilhana Mary Carmen
Vásquez em Sevilha nos anos 50
Carlos Arruza Vásquez era filho do mais famoso dos
matadores mexicanos, Carlos Arruza, à direita na foto,
com o célebre "Manolete"
Cartaz da primeira corrida que
Carlos Arruza toureou em
Portugal, na Moita em Maio de
1975, a tarde de estreia dos
Forcados do Aposento da Moita
Carlos Arruza recebeu a alternativa
na Monumental de Santarém em 1
de Junho de 1975 apadrinhado por
Mestre David Ribeiro Telles

Carlos Arruza em Março de 2010 na praça mexicana de San
José Villa de Allende, em que foi convidado de honra e esteve
como juiz de praça numa tarde em que actuaram os 
rejoneadores Horácio Casas, Mónica Serrano e o jovem
Eduardo Rubí
(Foto altoromexico.com)