quarta-feira, 30 de março de 2022

A primeira entrevista do rejoneador mexicano: vem aí a “Revolução Gamero”!


Também se chamava Emiliano, mas Zapata, o célebre líder da Revolução Mexicana de 1910. Este Emiliano chama-se Gamero, usa um bigode muito semelhante ao do seu famoso compatriota e também está a fazer uma revolução no rejoneio no seu país. É hoje o número um do toureio a cavalo (rejoneio) no México e no próximo sábado inicia no Coliseu do Redondo a sua primeira grande campanha europeia em arenas de Portugal e de Espanha. Para já, diz, “estou focado no festival do Redondo e na corrida de Abril em Beja, depois se verá o que vem a seguir”. Chegar ao Campo Pequeno, a Catedral, é um sonho e também um objectivo. “Os sonhos, com dedicação, realizam-se”, afirma o toureio mexicano, nesta que é a sua primeira grande entrevista desde que há uma semana chegou ao nosso país. Conhece os cavaleiros portugueses, alguns pessoalmente, e considera-os “grandes professores”. Tem a consciência de que o seu estilo e o seu espectáculo são diferentes, mas acredita que o público lusitano vai gostar de o ver tourear. “Acredito que quando as coisas são feitas com dedicação e alma, surge a luz que se torna mágica, e a magia é apreciada pelo mundo inteiro”, afirma. Trouxe oito cavalos, tem a quadra sediada no Redondo em casa do seu amigo e apoderado João Anão Madureira. Vamos conhecer melhor Emiliano Gamero.

Entrevista de Miguel Alvarenga


- Emiliano, rejoneador porquê? Havia antecedentes na família? E quem lhe ensinou o “abc” da equitação e do toureio?

- A minha família é charra e o meu pai era toureiro e deste modo as paixões juntaram-se, pelo cavalo e pelo toiro, ele tornou-se rejoneador e por isso desde pequeno que me senti entusiasmado pelo toureio a cavalo e ali provei os divinos méis das touradas a cavalo.


- Onde se apresentou em público pela primeira vez?

- Eu toureei com apenas 6 anos de idade numa cidade de Hidalgo no México. Naquele dia foi um sucesso retumbante, montado um cavalo chamado “Faraó”. Era um cavalo muito habilidoso e corajoso e só eu poderia montá-lo. Juntos fomos os melhores!


- E a alternativa, foi onde?

- Foi em 4 de Março de 2011, meu padrinho foi Diego Ventura e cortei nessa tarde três orelhas e um rabo. Foi em Toluca (México).


- Porque toureia trajado de charro? É também assim que o vamos ver em Portugal?
- Sou um charro mexicano de nascimento e também de coração, e por isso toureio assim vestido, para honrar os meus ancestrais e para levar o nome do meu país e do meu povo ao topo em todos os países onde actuo. Será assim, claro, que me vou apresentar em Portugal.


- Gerardo Trueba foi, nos ano 80, o último cavaleiro mexicano a fazer campanha em arenas portuguesas. Mas toureava mais ao estilo português e de casaca e tricórnio. Depois veio Ramón Serrano, mais ao estilo mexicano, mas também agradou. Você vem fazer uma “revolução”?

- Acredito que todos têm que fazer o que lhes vem da alma e assim fizeram, é respeitável. Não me comparo com ninguém, quero ser totalmente original e respeitar totalmente as minhas tradições e por isso não quebrei nenhuma regra do meu traje ou dos meus cavalos. É uma “Revolução Gamero” completamente nova!



- O seu estilo é bem distinto do estilo português de tourear a cavalo. Pensa “convencer” o público português?
- Sou fiel ao meu conceito e acredito que quando as coisas são feitas com dedicação e alma, surge a luz que se torna mágica, e a magia é apreciada pelo mundo inteiro.


- O que significa para si vir fazer campanha na Pátria do Toureio a Cavalo?

- Era o meu sonho desde criança, e sempre jurei a mim mesmo que o conseguiria realizar e que um dia viria triunfar na Pátria e na Catedral do toureio a cavalo. Hoje estou fazendo isso acontecer!



- Conhece os cavaleiros portugueses? Já actuou com alguns. Quais são as suas referências no toureio a cavalo português?

- Na verdade, conheço alguns deles pessoalmente e todos por acompanhar as suas façanhas desde criança. Todos me parecem grandes professores e admiro todos eles. Eu sei que meu padrinho Diego Ventura nasceu aqui. Melhor era impossível!


- Fale-me da tarde em que indultou um toiro na Monumental do México. O que sentiu, Emiliano?

- Aquele dia foi mais um sonho que consegui realizar, depois de fazer a minha segunda temporada europeia de sucesso, foi um dia mágico porque saiu “Gaspar”, da ganadaria Vistahermosa, um toiro muito valente e nobre com quem consegui transmitir a todos a postura o que carrego na minha alma, podendo assim salvar a vida de tão exemplar animal, que indultei, passando a ser o primeiro rejoneador mexicano a indultar um toiro na Monumental do México. Ainda hoje desfruto desse acontecimento único!


- Quantos cavalos tem em Portugal?

- Tenho oito cavalos toureiros na primeira fila e dois potros em preparação. Tenho a minha quadra no Redondo, em casa do meu amigo e meu apoderado João Anão.



- Vai também fazer temporada em Espanha? E em Portugal, em que praças o vamos ver?
- Vim para a Europa com essa ideia e com esse projecto de tourear em Portugal e em Espanha. Já estava para vir em 2020, estive anunciado na primeira corrida depois do desconfinamento, em Estremoz, mas não foi possível vir por causa da pandemia. Vim agora. Para já, estou focado no festival do próximo sábado no Coliseu do Redondo e na corrida em Beja a 23 de Abril, depois já veremos o que se segue.


- O Campo Pequeno, Catedral do Toureio a Cavalo, é um objectivo?

- O Campo Pequeno, a praça mais importante do mundo para o toureio a cavalo, sempre foi o meu objectivo e espero poder concretizar esse sonho em breve. Os sonhos, quando acompanhados de dedicação, são sempre alcançados!



- Como vai o rejoneio no México?
- Está a correr muito bem porque depois da pandemia tudo recuperou terreno e há celebrações mais normais e com melhor qualidade onde os aficionados vão com prazer. A temporada está a decorrer agora já com toda a normalidade.


- O que podem os aficionados portugueses esperar de Emiliano Gamero, já no próximo sábado, no Coliseu do Redondo?

- Venho para me entregar e dar tudo o que me move e o que tenho dentro, tentarei ser eu mesmo, deixando sair a magia da forma como sinto e interpreto o toureiro. Sei que é diferente da forma de tourear a cavalo em Portugal, mas as bases são as mesmas e acredito que o meu espectáculo vai agradar, tudo farei por isso. Envio daqui uma saudação a todos os aficionados portugueses, agradecendo a hospitalidade e o carinho que aqui tenho recebido. Até sábado!


Fotos D.R.