sábado, 5 de novembro de 2011

Alvarenga analisa os casos que marcaram o final desta temporada!



Com a irreverência e a pertinência que o caracterizam - de que uns gostam, outros nem tanto, mas paciência, é a vida... - Miguel Alvarenga analisa hoje aqui alguns dos casos que mais marcaram este fim de temporada.

1 - A morte dos cavalos de Joana Andrade - Um a um, morreram cinco dos melhores cavalos que asseguravam a carreira da jovem cavaleira, estabelecida há uns anos no Redondo, em casa do criador João Anão. Na mesma semana e, ao que se disse, depois de ingerirem a mesmíssima ração ministrada aos cavalos de Joana, morreram, em Almeirim, um cavalo de Jorge D'Almeida e, na Golegã, uma égua de um praticante da modalidade de Dressage e Equitação do Trabalho. Televisões e jornais estiveram em cima do acontecimento - invulgar e, por isso, notícia. Passou uma semana e continua tudo na mesma. Não se conhece o resultado das análises mandadas fazer pela ASAE e pela fábrica produtora da suspeita ração, ninguém disse (quem tinha que dizer) o nome da ração e da fábrica que a produz - e isso deveria ter sido a primeira coisa a saber-se, para eventualmente evitar outras mortes de cavalos, uma vez que a razão mais plausível para a mortandade dos equinos tenha sido, na verdade, a ração que ingeriram. O mistério permanece e a falta de vontade em aclarar o que na realidade aconteceu, também parece que permanecerá. Afinal, estamos em Portugal... não é? Onde tudo se passa e nunca ninguém percebe muito bem por que se passa, quanto mais imaginar algum dia culpar os responsáveis...

2 - O caso vergonhoso do Grupo de Forcados de Évora - O afastamento do cabo Bernardo Patinhas, por via de um processo pouco vulgar entre a forcadagem, dificilmente passaria despercebido ou se cingiria exclusivamente ao foro interno do agrupamento. Como era de esperar e por se tratar de um processo invulgar, rapidamente saltou para a praça pública, com todas as consequências negativas que daí advém para o historial do grupo e para a boa imagem dos forcados em geral. Estranhou-se o silêncio da Associação de Forcados - ou talvez não. Só fala quando não é preciso e quando não vem a propósito. E num momento em que se pretende a união (fingida, bem sei, mas...), a estória deu uma imagem de bandalheira e desunião - desatentos, os anti-taurinos não se aproveitarem desta confusão. Mas se se tivessem aproveitado, ficávamos todos com um "melão" do tamanho do mundo! Feitas as contas, Patinhas foi despedido, assim como se despede uma criada. O seu extenso depoimento é bem elucidativo, se dúvidas ainda subsistissem, de que houve, na verdade, uma conspiração e um "golpe de estado" para o destituir - não lhe dando possibilidade de defesa, nem sequer depois de ter demonstrado que estava, como era de esperar, disposto a emendar alguns erros que eventualmente tivesse cometido. O seu depoimento, muito bem escrito e sobretudo escrito pela pena de um advogado, não deixa a menor dúvida a ninguém sobre o processo conspirativo que levou ao seu afastamento. É um longo texto recheado de provas factuais, ao melhor estilo de uma contestação jurídica na barra do tribunal, mas continuamos todos sem perceber as razões que estiveram na origem da decisão dos forcados em afastar o seu cabo. Razões, ao que parece, do foro pessoal e da vida privada que, a meu ver, sejam quais forem, não implicam a destituição de um cabo de forcados. O depoimento de Patinhas não teve, até ao momento, contestação de nenhuma das outras partes, nem de nenhum dos elementos, antigos e actuais, ali referidos. Como quem cala, consente, tudo leva a crer que a verdade é mesmo aquela e que ninguém a pretendeu contestar. Foi um triste episódio que em nada contribuiu para a boa imagem dos forcados em geral - e do Grupo de Évora em particular. Onde, a partir de agora, nada será como dantes. Os futuros cabos e os elementos do grupo vão viver sob o espectro da conspiração - o que não é minimamente saudável. Se aconteceu uma vez, ninguém pode garantir que não possa acontecer segunda vez... Uma última palavra para lembrar que o novo cabo, António Alfacinha, não iniciou funções da melhor maneira. Ao declarar ao site "touro e ouro", no dia em que assumiu a chefia, que ninguém correra com Patinhas, que ele saíu por que quis e que aquela não foi a forma desejada pelo grupo, Alfacinha mentiu - a atestar pelo depoimento de Bernardo, dado à estampa no dia seguinte. E mentir é muito feio.

3 - Ventura acusa "jornalistas corruptos" - Há um ano, Diego Ventura deu uma entrevista à revista "6 Toros 6", onde acusava as famílias de muitos cavaleiros tauromáquicos portugueses de irem para as praças com a missão definida de apenas o assobiar. Nunca mencionou que famílias e que toureiros. O caso passou e nunca mais ninguém o referiu. Ontem, numa entrevista a Solange Pinto dada à estampa no site "touro e ouro", Ventura denunciou a existência de "jornalistas corruptos" em Portugal, que "só lhe pedem dinheiro" - e voltou a deixar a incógnita no ar, não chamando os bois pelos nomes, como se costuma dizer e como é normal, em bom português, fazer. Foram estas (não resisto a transcrever) as suas palavras textuais: "Ajudei muitos toureiros portugueses, não só a tourear em Portugal, como também em Espanha e o que recebi em troca foram críticas de jornalistas corruptos, que só fazem é pedir dinheiro aos toureiros, ou críticas de outros que apenas 'são de um toureiro' até ao ponto de dizerem que os outros toureiros para nada servem". Não se deve - nem se pode - fazer acusações dessas sem as fundamentar. Ou se diz tudo, ou mais vale ficar calado. Atirar "barro à parede" e enxovalhar toda a classe jornalística no mesmo saco - é muito feio e em nada dignifica um toureiro da craveira de Ventura. Não quero armar-me em advogado de defesa dos jornalistas e em particular dos críticos taurinos portugueses, mas considero que, ao não referenciar nomes, Ventura está a atingir todos. Ou diz ou não diz. Meias tintas nunca ficaram bem a ninguém. Que o diga rapidamente. É o mínimo que lhe podemos exigir.

4 - Os triunfadores do Campo Pequeno - A empresa do Campo Pequeno anunciou ontem os três nomeados em cada actividade, lista da responsabilidade dos abonados, de que sairão depois, por decisão do Real Clube Tauromáquico, os vencedores dos habituais Galardões. Tema altamente subjectivo, como sempre. Há quem concorde e quem não concorde, mas isso é mesmo assim, foi sempre. Rouxinol, Pablo Hermoso e Rui Fernandes são os cavaleiros nomeados. Estranha-se que o não tenham sido tambémVentura e Moura Jr. - que sairam em ombros em 2011. Dos três, escolho Fernandes. No que aos matadores se refere, estão nomeados Vitor Mendes, Ferrera e "Procuna" - escolho o Maestro Mendes. Três novilheiros nomeados, se bem que um seja praticante: o mexicano Silveti, Dias Gomes e Tiago Santos - escolho o Tiago, sem a mínima das dúvidas. Há forcados, grupos de forcados, peões de brega, bandarilheiros e ganadarias nomeadas - para já, não me manifesto. Concordo com essas nomeações - só não entendo uma delas. Cláudio Miguel está nomeado como bandarilheiro (e não como peão de brega) quando, na temporada de 2011, não cravou um único par de bandarilhas na arena do Campo Pequeno. Actuou ali uma única vez, como subalterno do cavaleiro João Cerejo, portanto, sem bandarilhar. Alguém explica a desatenta nomeação?...

5 - A trapalhada do Cartaxo - A Câmara Municipal do Cartaxo, proprietária da praça de toiros local, tirou o tapete ao empresário Paulo Pessoa de Carvalho e acabou por entregar o tauródromo, após um processo (discutível) de sondagem a vários empresários, à "Aplaudir" de Bolota. Não explicou nunca as razões porque não quis mais Paulo Pessoa à frente dos destinos da sua praça. E demorou a decidir-se, entregando a praça onze dias antes da data da realização da última corrida, tempo demasiado insuficiente para que a "Aplaudir" pudesse desenvolver todo um processo de promoção da corrida nos moldes em que o costuma efectuar. A destituição de Pessoa equipara-se, no método, à de Patinhas no Grupo de Évora. As coisas, no mundo das touradas, são cada vez menos claras e mais trapalhonas. É pena que assim seja. E é pena, sobretudo, que ninguém faça nada para que assim não seja. A tão pouco eficiente Federação "PróToiro", que não se deveria limitar à actividade feirante de vender t-shirt's à porta do Campo Pequeno, ficou calada quando deveria ter falado. Não pode fingir que existe só para ir quinze minutos à televisão...

6 - A desistência de Sérgio Santos "Parrita" - É normal e não espantou ninguém que o diestro moitense deixasse ir embora o sonho de um dia ser figura do toureio... como matador. O mesmo aconteceu este ano com Nuno "Velásquez" e certamente acontecerá com muitos mais. Trinta anos depois, doa a quem doer, o nosso toureio a pé continua a chamar-se Vitor Mendes. E o resto são cantigas. Nenhum outro teve a coragem e a determinação que teve Mendes de abdicar de tudo e ir para Espanha, fazer-se à vida, fazer-se ao sacrifício, lutar com valor por um lugar ao sol e chegar onde chegou. Os jovens diestros portugueses ficam-se por cá, à sombra da bananeira, à espera que lhes caia um contrato do céu para uma touradita aqui ou acolá. Sem fazerem história, sem escrevem história nos ruedos da verdade, do outro lado da fronteira. Vitor Mendes foi um. Os outros são todos apenas "mais um". É natural que "Parrita" tenha tomado a decisão mais difícil da sua vida - mas não tinha outra decisão a tomar. Ou arrastava, ilusionado, uma ilusionada carreira de matador "de fingir" - ou optava por ser bandarilheiro e continuar na Festa com a dignidade e a postura com que sempre andou, mesmo sem ter atingido os patamares a que se propunha. Parar é morrer - e "Parrita" não parou. Como Nuno "Velasquez", apenas mudou de sentido na estrada que se propunha percorrer.

Foto D.R.