quarta-feira, 16 de novembro de 2011

"Parrita" em entrevista exclusiva: "Empresas têm falta de respeito pelo toureio a pé!"

Com os alunos da Escola de Toureio de Alter do Chão
Bandarilhando na "sua" praça da Moita
Foto João Dinis
"Apoios?... Foram zero..."
"Parrita" com a namorada, Ana Mafalda Airoso


Três semanas depois de ter anunciado que trocava o "ouro" pela "prata", desistindo da carreira de matador de toiros e passando a bandarilheiro, Sérgio Santos "Parrita" deu ao "Farpas" esta entrevista exclusiva: a primeira, depois do adeus. Palavras para meditarmos, num momento em que o toureio a pé perde mais um dos valores.

Entrevista de Miguel Alvarenga

- Falta de contratos, desânimo com a falta de oportunidades... o que foi que te fez tomar a decisão de deixar a carreira de matador
de toiros e passar a bandarilheiro?
- A minha decisão, que, como disse, foi a mais difícil da minha vida, surge por vários motivos: sobretudo e principalmente, a falta de oportunidades e a falta de respeito que existe das empresas para com os matadores portugueses. Mas não foi por não acreditar nas minhas qualidades, o factor mais importante é o facto de vir a ser pai para breve e assim sendo tenho que me deixar de aventuras e tentar jogar pelo seguro, não posso permitir que a minha família sofra pela minha profissão, não era justo!
- Vieste da Escola da Moita, tiveste o Maestro Armando Soares como mestre, foste novilheiro, chegaste a ser apoderado por Fernando Camacho, depois passaste a bandarilheiro e a seguir decidiste ser matador. Uma trajectória com avanços e recuos, concordas?
- Não foi uma trajectórias com recuos, acho eu, mas sim uma trajectória leal para com toda a gente que fez parte da minha carreira e nunca a pensar nos meus interesses, logo aí saí prejudicado... o ter sido bandarilheiro um ano e depois tomar a alternativa de matador de toiros foi por achar que era demasiado novo para me precipitar e querer provar que conseguia... consegui com muita dignidade e com muita classe.
- Como matador de toiros, consideras não ter chegado onde querias? O que foi que falhou, "Parrita"?
- Falhou muita coisa, como já disse, triunfos não valorizados, outros abafados e outros triunfos que "me puseram em casa", triunfos que não interessavam a muita gente... e como também está de moda não receber e "pôr algum"... eu nunca pus, graças a Deus!
- Embora lá tenhas triunfado, não foste repetido na Moita, tua terra. Nem nunca te apresentaste como matador no Campo Pequeno. A que se ficou a dever essas lacunas?
- A resposta anterior responde a esta, acho eu...
- Muitos se queixam da falta de força do toureio a pé, mas a verdade é que não só as empresas as culpadas disso. Falta aparecer um toureiro, como Pedrito há uns bons anos, que leve gente às praças e "levante" o toureio a pé, concordas?
- Concordo plenamente, mas as empresas também são culpadas porque não dão oportunidades a matadores portugueses, muitas contratam matadores espanhóis de segundo plano ou terceiro... para quê? Por interesses? Assim não se levanta nada... enfim, é à portuguesa...
- O toureio a pé em Portugal, 30 anos depois, continua a "chamar-se" Vitor Mendes?
- Sem dúvida alguma, a maior e única Figura do toureio de Portugal, um vencedor!
- O que faltou na tua carreira? Ir para Espanha, por exemplo?
- Na minha época de novilheiro também lá estive e triunfei e depois nada... Esses, ao menos, são patriotas e primeiro eles, só um super-super toureiro consegue lá ficar. Eu de matador de toiros achei que nada lá iria fazer porque não me iriam pôr numa praça que mudasse a minha vida, uma praça de primeira, ir para lá sem uma estrutura forte não iria resultar, só se fosse vender caramelos... como muitos lá andam...
- Em 2010 foste o matador que mais toureou em praças portuguesas. Em 2011 as empresas esqueceram isso?...
- Esqueceram simplesmente... aqui não toureia quem triunfa, mas sim quem interessa que "funcione"...
- Lembra-me o dia da tua alternativa.
- Foi em Santa Cruz de Mudela, a praça mais antiga de Espanha, cortei uma orelha e foi o dia mais bonito da minha vida e também aquele em que mais nervoso me senti... Não me lembro de nenhuma palavra que me disse o meu padrinho de alternativa Fernández Pineda...
- Continuas com a Escola de Toureio de Alter? Há muitos jovens com jeito para a arte?
- Continuo, sim, e agora terei outra disponibilidade para acompanhar a escola, enquanto matador ficamos mais limitados! Em Alter existe uma dúzia de miúdos com muita aficion e qualidades para ser toureiros, para o ano já os vão ver a sério
- Passas a bandarilheiro na próxima temporada, como já sucedeu este ano a Nuno "Velásquez", outro dos três matadores saídos da Escola da Moita. Já tens quadrilha para onde ir?
- Até à próxima época muita coisa ainda vai mudar nas quadrilhas, por isso a seu tempo saberei...
- O que te faltou fazer, "Parrita"?
- Nada! Como matador de toiros dei tudo o que tinha e não tinha para triunfar. Abandono com a cabeça erguida, orgulhoso porque fui eu mesmo, sempre com muita dignidade e com muita classe, mas vou agradecido porque fiz durante muitos anos o que melhor sabia fazer... tourear!
- Que apoios e que "desapoios" marcaram a tua carreira de matador de toiros?
- Apoios creio que foram zero... a não ser os da minha equipa, do meu moço de espadas e por fim meu apoderado, o Hélio Dias, dos bandarilheiros que fizeram parte da minha quadrilha, de alguns apoderados que tive, de alguns amigos pessoais,do Maestro Fernando dos Santos, de alguma comunicação social, sendo o Miguel, sem dúvida, o que mais me respeitou, e da minha família que nunca me parou de incentivar! Espero não me esquecer de ninguém...

Fotos D.R.