sexta-feira, 8 de junho de 2012

Glória aos Amadores de Montemor ontem no Campo Pequeno

No final, público aplaudiu de pé os valentes Forcados de Montemor-o-Novo
A primeira pega da noite, por João Tavares
Duras e rijas pegas em noite de consagração dos Amadores de Montemor
Toiros de Silva não facilitaram a vida dos forcados. Houve silêncio na praça
em cada cite, explosão após cada pega
O grupo esteve bem em todas as frentes
Francisco Borges em acção, ao primeiro intento
A valente pega do cabo Cortes ao último da noite



Miguel Alvarenga - Público entendido, conhecedor, exigente, aficionado. As bancadas do Campo Pequeno, que registou uma enchente de mais de meia casa, muito além do que se previa em noite de feriado e com Lisboa despovoada, tinham ontem uma moldura diferente. O ambiente sentia-se na rua, confirmava-se dentro da praça. Público alentejano, Montemor, Évora, Portalegre, o Alentejo em peso na capital, como noutros tempos. Muitas caras de antigamente, glórias eternas que honraram noutros tempos a jaqueta histórica do Grupo de Montemor e que ontem ali estavam para render tributo ao acto heróico dos seus moços nesse desafio ousado que foi o de fazer frente a seis toiros dos que não permitem "brincadeiras", seis Silvas (ganadaria de António Silva) dignos de Madrid, daqueles que tanta falta têm feito à nossa Festa, daqueles que põem "tudo" no seu lugar, sem facilidades e sem condescendências de espécie alguma. Foi uma noite invulgar - e foi, por isso, uma noite grande de toiros e uma noite de sucesso. Fazem falta noites e toiros assim.
Na temporada do 120º aniversário da praça, a empresa apostou - e bem - na seriedade de uma época "toirista". Os Palhas deram o mote na corrida de abertura, os Silvas prosseguiram ontem à noite essa intenção de seriedade e que, se continuar, vai certamente separar o trigo do joio. A Festa estava a precisar disto.
Com uma falange entusiasta de apoiantes nas bancadas - foi bonito vermos levantarem-se, um a um, quando um forcado brindou a pega aos "antigos" - o Grupo de Forcados Amadores de Montemor teve ontem mais uma noite de enorme consagração no Campo Pequeno. Trata-se de uma instituição de peso e de inabalável prestígio na tauromaquia lusa. Um grupo que é seguido com devoção pelos que lhe pertenceram e também por forcados de outros grupos. Estavam imensos ontem em Lisboa. A expectativa era muita e o desafio justificava-o. O grupo liderado por José Maria Cortes esteve à altura do seu passado, confirmou o seu excelente momento presente e reafirmou o futuro. Está para dar e durar e continua a ser o grupo de sempre. O grupo dos tempos gloriosos de todos aqueles que ontem ali estavam na bancada.
Respirou-se silêncio em cada cite, depois a praça explodiu em aplausos a cada pega. João Tavares abriu a noite com uma grande "cara" ao primeiro intento. João Cabral (sobrinho do antigo forcado Paulo Pessoa de Carvalho) ficou à segunda, com as ganas e a técnica de sempre. João Romão Tavares pegou com galardia à segunda. Frederico Caldeira fechou-se à primeira. Francisco Borges (filho do antigo forcado do mesmo nome e sobrinho do também ex-forcado, ontem director de corrida, Agostinho Borges) também se fechou com grande garbo ao primeiro intento. E o cabo José Maria Cortes, frente ao último, mais pesado (604 quilos) e mais complicado dos Silvas, esteve decidido e valente, como sempre, consumando à quarta, com braços de ferro e superior ajuda dos companheiros, a pega que brindou ao antigo cabo Rodrigo Corrêa de Sá, seu antecessor.
Na generalidade, o grupo esteve coeso e decidido nas ajudas. Felizmente, ninguém se lesionou e a missão frente aos "toirões" de António Silva foi consumada com a eficiência, o poderio e aquele perfume de arte e técnica que sempre foi apanágio dos Amadores de Montemor - grande noite e grande grupo!


Fotos Emílio de Jesus