Foi assim, com esta verdade, que Duarte Pinto toureou ontem em Lisboa |
Público esteve com Duarte Pinto do início ao fim |
De poder a poder: Duarte Pinto teve ontem em Lisboa a consagração como Figura! |
Rui Salvador: toureiro com um coração do tamanho do mundo! |
Luis Rouxinol: 25 anos de carreira comemorados com triunfo ontem à noite em Lisboa |
Rouxinol é o toureiro do momento! Pode com todos os toiros! |
Miguel Alvarenga - Para grandes toiros,
grandes toureiros. E foi mesmo assim, ontem à noite, no Campo Pequeno.
Há a registar o triunfo da seriedade dos
toiros da ganadaria de António Silva - um curro "de Madrid".
Há a registar a definitiva consagração
de uma nova e já reconhecida Figura do Toureio: Duarte Pinto. Chegou, de facto,
a sua hora.
Há a registar a consolidação daquele que
é, sem dúvida, o toureiro do momento. Luis Rouxinol veio do "nada",
impôs-se contra ventos e mares, em 25 anos de alternativa escreveu uma história
de glória e de vitórias que o projectaram ao galarim dos primeiros. Ontem viveu
essa mesma glória na primeira arena do país, que é também um dos palcos que o
consagrou e esteve em mais de duas décadas associado à sua própria história.
Há a registar, ainda, o carisma e a
força de um toureiro chamado Rui Salvador. Pode não estar no melhor momento no
que à quadra diz respeito, pode ontem ter "bailado com as mais
feias", ou seja, com o pior lote, mas tem um coração do tamanho do mundo e
depressa deu a volta, "descomplicando" as complicações que tinha pela
frente. Aquele segundo ferro curto, no primeiro toiro, uma lide de "menos
a mais", a aguentar até ao fim enconstado às tábuas, provocando,
consentindo, arrepiando, foi o ferro da noite e foi um daqueles ferros
"impossíveis" que fizeram ao longo de quase trinta anos a história
deste cavaleiro diferente e sério. Sem um triunfo rotundo, esteve enorme o Rui
Salvador.
O jovem Duarte Pinto chegava a Lisboa depois
de no domingo anterior ter "dito" em Santarém que, na verdade,
chegara por fim a sua hora. A hora que "perseguia" há duas
temporadas, marcando a diferença, "explicando" que ela haveria de
chegar, que já não tardava nada. Está um "toureirazo" dos pés à
cabeça. Teve ontem, como júri, um público entendido e exigente, distinto do
festivo conclave (que também faz falta e incentiva os toureiros) que costuma
estar nas bancadas do Campo Pequeno. Cada ferro, cada demonstração de raça, de poder
a poder, com a verdade dos antigos, provocou uma delirante explosão nas
bancadas. Lisboa consagrou ontem uma nova Figura do Toureio. Num e noutro
toiro, Duarte Pinto fez alarde da sua alma de (bom) toureiro, da sua raça e,
sobretudo, da sua vontade. Portugal tem, outra vez, um toureiro de verdade. Um
toureiro de parar corações. Sem "martingalas", pelo caminho recto, de
frente. Não há que destacar nenhum ferro, porque todos foram bons ferros, mas é
preciso não esquecer o último, aquele em que o toiro "fugiu", fez
"um estranho" feio e Duarte seguiu em frente, a viagem estava
consumada e o ferro foi cravado, em situação menos fácil, mas a mostrar a sua
decisão, a sua entrega e a técnica apurada que, de facto, alcançou. Um toureiro
a merecer rápida repetição no Campo Pequeno.
Por fim, Luis Rouxinol. A três dias de
comemorar exactamente o 25º aniversário da sua alternativa (10 de Junho), veio
a Lisboa receber singela, mas significativa, homenagem da empresa (na foto da
esquerda com o Dr. João Borges) - e do "seu" público. Bonitas,
simples e elucidativas as palavras com que Paulo Pereira recordou, a seguir às
cortesias, o caminho de glória que ele traçou. O público aplaudiu, em
reconhecimento, a carreira que ali se consagrava e comemorava ontem à noite.
Depois, "abriu o
livro". Empolgou com duas lides plenas de emoção, de entrega e de
maestria. Longe vão os tempos em que ali se apresentou, ainda menino, numa
recordada garraiada do Liceu Gil Vicente, organizada por Maurício Vale. Hoje já
é um homem, um toureiro consagrado e até já tem seguidor, um filho que não vai
tragar, certamente, a caminhada de luta que ele percorreu, porque já começa
"apoiado", mas um filho que já mostrou que vai ser toureiro - e dos
bons, como o Pai.
Em noite de toiros "a sério",
todos os bandarilheiros estiveram à altura das circunstâncias. Não vou enumerar
um a um. Mas seria injusto se aqui não lembrasse a postura do veterano Manuel
Filipe, um toureiro que demonstrou ontem que é bem verdade que os toureiros
"não têm idade". Dando a cara e todo o seu empenho, como um jovem que
começa.
Ladeado pela candidata Erica Rebelo, foi
ontem Agostinho Borges o director de corrida. Sério e exigente, como sempre,
pecou apenas por não ter reconhecido a lide em crescendo de Rui Salvador no
primeiro toiro da noite. Merecia música. E não a teve.
Fotos Emílio de Jesus