Uma foto que diz tudo: Branco em apoteose, apontando o dedo para o seu apoderado Rui Bento (eufórico, na trincheira): "Estou aqui!" |
Moura "rebentou com a escala" no segundo toiro da noite! |
Miguel Alvarenga - A corrida de sexta-feira
à noite em Estremoz, foi importante por diversos aspectos. Milhões viram-na em
casa, só não viram a primeira actuação de Bastinhas e a primeira pega do grupo
de Portalegre, porque houve uma anomalia técnica (lamentável, mas acontece).
Foi importante porque foi um espectáculo emocionante e com ritmo, sem tempos
mortos, bem "ritmado" pela prestação de toureiros e forcados, bem
conduzido pela excelente direcção de Agostinho Borges. Foi importante para João
Moura Jr. (foto da esquerda), que disse em directo e na praça que é, indiscutivelmente, o primeiro
dos jovens cavaleiros da nova vaga. Foi importante para João Maria Branco (foto da direita), que
se afirmou de uma vez por todas e que deixou patente, se dúvidas ainda houvesse,
todo o seu querer e toda a sua raça de toureiro. Anteontem, esteve ali para
triunfar ou morrer, como os eleitos. Foi importante para os três grupos de
forcados alentejanos, menos mediáticos que os afamados, que demonstraram,
qualquer um deles, mas sobretudo o do Redondo (que pegou os dois toiros à
primeira) que também existem, que são bons, muito bons mesmo, e também têm
direito a estar nos acontecimentos grandes da temporada - como o de anteontem,
que era a primeira de várias corridas transmitidas este ano pela RTP.
Joaquim Bastinhas, o cabeça de cartaz, o
Maestro do cartel, foi apenas, e lamentavelmente, um mero espectador do duelo
entre Moura e Branco. Passou discreto pela arena de Estremoz. Também não teve a
sorte do seu lado. Enfrentou o pior lote, não teve toiros à sua altura. Mas
Bastinhas, anteontem, não estava em Estremoz. Provavelmente ainda afectado pela
maçadora lesão num dedo que o manteve duas semanas afastado das arenas, a
verdade é que não sentimos a sua usual e contagiante presença, até o seu
sorriso esteve meio apagado e faltou a força da sua alma. Há dias assim e
Joaquim Bastinhas, em Estremoz, não estava nos seus dias. Esteve esforçado,
procurou espremer o sumo que os seus dois toiros não tinham, mas parecia que
tudo estava contra ele... Não teve ovos, não fez omeletas, mas também não
estava com dedo para grandes cozinhados como aqueles com que sempre nos
deliciou.
João Moura Jr. esteve enorme no segundo
toiro da noite. O Passanha saíu "à medida" para a arte mourista e o
bailado de maravilha aconteceu como num conto de fadas. Fantástico.
O seu segundo toiro era complicado,
mansote e reservado. Moura impôs-lhe a sua raça, a sua vontade, o momento
grande que atravessa. E triunfou onde era quase impossível triunfar. No
conjunto, foram duas lides distintas, mas suficientemente elucidativas do
grande Toureiro que esteve em praça. Moura está em grande. E o resto são, outra
vez, cantigas...
No seu segundo ano de alternativa,
arrisco afirmar que João Maria Branco pode ser em 2014 o grande rival de João
Moura Jr. e pode nascer aqui uma parelha de sucesso para encher praças. Rui
Bento é o apoderado dos dois. Que mais fará falta para que isso aconteça mesmo?
A jogar em casa, perante o público da
sua terra, João Maria Branco jogou-as todas para se afirmar de uma vez por
todas - e alcançou os seus objectivos. Não veio para ser "mais um".
Disse-o em Estremoz, convictamente e para que não restassem mais dúvidas. Quem quer ser
toureiro, faz o que ele fez. João Maria, anteontem, vinha para triunfar ou
morrer. E foi essa decisão que marcou, ao longo da História, aqueles que se
destacaram.
Recebeu ambos os toiros à porta da
gaiola. O primeiro serviu às mil maravilhas e Branco limitou-se a tourear muito
bem, colocando emoção e alegria em toda a lide. O segundo era duro, pedia contas
e o jovem cavaleiro deu-lhas todas. Arrimou-se, arriscou, pôs a carne no
assador, provou ter argumentos de sobra para fazer frente a quaisquer toiros.
Brilhou pela vontade, pela raça, pela ousadia, pela irreverência.
Os toiros de Passanha, muito bem apresentados,
tiveram distinto comportamento, mas não desiludiram. Desta vez, não foram
"nhoc-nhoc". Houve ali toiros - e de verdade.
Apenas faltou público nas bancadas de
Estremoz (praça, já de si, de reduzida lotação). Meia casita - o que se pode
explicar pela crise e pelo facto de a corrida dar na televisão, um factor que
noutros tempos chamava gente às praças e que hoje, pelos vistos, a mantém em
casa, frente ao televisor, a poupar euros.
Houve grandes e rijas pegas - e houve,
sobretudo, a afirmação de três grandes grupos de forcados "menos
vistos", menos famosos, mas tão importantes e valorosos como os eleitos.
Nelson Batista, dos Amadores de
Portalegre, fez ao quarto toiro da noite, à primeira, a grande e emocionante
pega da corrida. Pelo mesmo grupo, abriu praça Alexandre Lopes, pegando à
segunda o primeiro Passanha da noite.
Rui Russo (à primeira) e Nuno Toureiro
(à segunda) foram os forcados de cara de serviço do grupo de Monforte, outra
formação que demonstrou excelente forma e oportuna coesão de todos os seus
elementos, destacando-se também o cabo Ricardo Carrilho a rabejar o quinto
toiro.
No conjunto das duas pegas, o triunfo
maior coube ao brioso grupo do Redondo, que pegou os seus dois toiros (terceiro
e sexto) ao primeiro intento, com intervenções tecnicamente perfeitas de dois
forcados brilhantes, de eleição, respectivamente Rui Grilo e Hugo Figueira, com o grupo
todo a ajudar em força e bem.
Em suma, faltou público nas bancadas,
mas sobrou emoção e sucesso na arena. Houve brindes de forcados e toureiros ao
presidente da Câmara, Luis Mourinha e à Sociedade Campo Pequeno, que gere a
praça, nas pessoas de Rui Bento e da administradora Drª Paula Mattamouros
Resende. Presente também e brindada pelo grupo da sua terra, a presidente da
autarquia de Portalegre, Adelaide Teixeira.
Não perca, mais logo, aqui, todas as fotos,
todos os grandes momentos da corrida de Estremoz – bem como o registo dos
Famosos que por lá estiveram.
Fotos M. Alvarenga e Ana de Alvarenga