Picador Simão Neves assistiu ontem à corrida em Madrid: "Foi dramático!"

O picador Simão Neves (à esquerda) ontem em Las Ventas com Fernando Castela,
dois portugueses que assistiram ao vivo à trágica tarde da Isidrada

Simão Neves assistiu ontem à mini-corrida em Madrid (suspensa ao segundo toiro)
mesmo ao pé de onde se encontrava o famoso toureiro "El Cordobés", que foi
homenageado antes do espectáculo pelo 50º aniversário da confirmação da sua
alternativa neste mesma praça

"O vento prejudicou e alterou a rota do toiro, que acabou por colher David Mora de
muito má forma", afirma o experiente picador Simão Neves

O picador Simão Neves - antigo forcado do Aposento da Chamusca e actual apoderado do cavaleiro Tiago Carreiras - foi um dos poucos portugueses que assistiu ontem à trágica mini-corrida na Monumental de Madrid, suspensa ao segundo toiro depois de terem ido para a enfermaria os três toureiros do cartel, os matadores David Mora, António Nazaré e Jiménez Fortes. Depois de também ali ter actuado no passado dia 27 de Março, como picador da quadrilha do novilheiro espanhol Mário Alcalde, Simão Neves esteve ontem em Las Ventas acompanhado por Fernando Castela, aficionado de Santarém, enteado do conhecido crítico Francisco Morgado, director do semanário "Olé".
Acabado de chegar há momentos a Portugal, Simão Neves recordou ao "Farpas" que "foi uma tarde trágica, mas que retrata bem o ambiente que se vive na Festa em Espanha, onde o perigo espreita a todo o momento e sobretudo em Madrid, a praça mais importante do mundo".
Simão Neves assistia ao espectáculo numa primeira fila, "mesmo ao lado de onde estava o Maestro 'El Cordobés' e também o conhecido crítico Manuel Molés. A Festa pede sol e moscas, como costumamos dizer e ontem o ambiente era absolutamente ao contrário, estava a praça quase cheia, mas muito frio e sobretudo muito vento. Foi o vento que prejudicou David Mora, quando recebeu o primeiro toiro à porta da gaiola. O toiro colheu-o com violência e vimos logo que era grave, até porque houve momentos, na cara do toiro, em que parecia estar desmaiado. Depois tentou levantar-se e, ainda no chão, viu-se nitidamente que jorrava imenso sangue da perna. Foi tudo mesmo à minha frente".
"David Mora foi levado para a enfermaria - prossegue o conhecido picador - e na praça ficou um ambiente pesado e de consternação, por todo o mundo se apercebeu da gravidade da situação. Depois saíu o segundo toiro e Jiménez Forte sofreu logo uma primeira cornada. A seguir, António Nazaré foi também colhido, queixava-se de um joelho, percebeu-se que não teria a gravidade do incidente de Mora, mas foi também para a enfermaria. Quando veio brindar a 'El Cordobés', era notória a dor no rosto de Jiménez Fortes, que voltou a sofreu duas colhidas durante a faena de muleta. Foi para a enfermaria, ficámos uns momentos à espera e depois anunciaram que a corrida ficava suspensa".
"A Festa é mesmo assim e ontem foi a vez de ganharem os toiros. Acontece e são tragédias como esta que mantêm viva a aficion e o esplendor do espectáculo tauromáquico. Os toiros de ontem eram sérios, astifinos e perigosos, com imenso trapio. Assisti de manhã ao sorteio e estavam lá mais quatro igualmente de respeito e com imensa seriedade. Madrid é assim e a Festa em Espanha é assim também, um espectáculo de respeito e de perigo. Em Las Ventas, os toureiros só têm duas hipóteses: sair em ombros pela porta grande ou sair pela porta da enfermaria. Ontem, infelizmente, aconteceu aos três a segunda hipótese e por isso a corrida teve que ficar suspensa", afirma Simão Neves.

Fotos Ricardo Relvas/elredondeltaurino.blogspot.com e Emílio Méndez/suertematador.com