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Seis da tarde, ontem: filas intermináveis para comprar bilhetes |
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Quando há vedetas na praça, o público enche a praça! |
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Também se podem brindar crónicas. E eu
brindo-te esta a ti, Emílio, meu querido amigo e companheiro de tantas lutas,
pelo teu regresso ontem, pelo teu exemplo, pela tua força – pelo teu sorriso.
Miguel Alvarenga - A nocturna de ontem
no Campo Pequeno tinha atractivos de peso e o público correspondeu, esgotando a
lotação da praça. Contra factos, não há argumentos. Quando estão em jogo
factores importantes (bons toiros, bons toureiros e forcados e toda uma junção
de elementos muito para além de uma simples tourada, como sejam a corrida ter o
selo da revista "Vidas" do "Correio da Manhã", a sua
promoção ter sido feita com intensidade onde tinha que ser feita, nomeadamente
no jornal que a promovia e nos principais espaços taurinos da internet, não nos
que existem apenas "por e para folclore", sem força alguma...) e quando estão em praça artistas de
primeiro plano, as pessoas vão à bilheteira. Mais nada. Ontem, às seis da
tarde, as filas para comprar bilhetes eram intermináveis e o ambiente era
intenso em torno da praça. Depois de terminada a corrida, no restaurante-bar
"Rubro", o "ambientazo" viveu-se até perto das quatro da
madrugada, com muitos afamados taurinos (incluindo Rui Bento) a festejarem o
sucesso da primeira corrida da temporada lisboeta. Quanto assim é, dá gosto e
vale a pena.
Vamos agora à corrida.
Rui Salvador, a quem vi há trinta anos
naquela mesma arena triunfar ao lado do grande Mestre Batista e do então
"niño prodígio" João Moura, na noite de êxito da sua alternativa, foi
ontem a imagem de um toureiro consagrado, de um toureiro de altíssimo nível e
que mantém intactos e inalteráveis todos os atributos que fizeram dele, em três
décadas, uma das grandes figuras do toureio nacional. É um valente, é um
lutador, nunca desarma, nunca desilude e arrisca sempre a pele, como se fosse o
primeiro dia. Esteve muitíssimo bem no primeiro toiro e esteve depois superior
e ainda melhor no segundo. Já em final de actuação, deixou um ferro da sua
marca, os tais impossíveis, que levantou das bancadas o público. Esteve enorme
e comemorou com a maior das dignidades os seus 30 anos de alternativa e de uma
carreira que teve, e tem ainda, um impacto especial junto do público. O
"cavaleiro dos ferros impossíveis" marcou três décadas da História da
Tauromaquia. E o mais importante, disse-o ontem, é que está para dar e durar.
Grande Rui!
Foi pena que nenhum dos seus
companheiros e nenhum forcado se tivesse lembrado (lamentável) de o brindar. A
comemoração do 30º aniversário da alternativa de Rui Salvador, anunciada com
"pompa e circunstância" na promoção da corrida, passou afinal quase
despercebida. Só o público se lembrou dele, aplaudindo-o de pé nas triunfais
voltas que deu à arena.
Um detalhe importante: Rui Salvador não
é só um dos (poucos) cavaleiros que tem um apoderado (José Carlos Amorim) bom
(e bem vestido) na trincheira. Ele próprio é também um Senhor - e à antiga.
Quis brindar a sua segunda lide ao nosso querido companheiro Emílio de Jesus,
que ontem regressou às lides (aquele abraço, meu querido!) depois de um
complicado e bem conhecido problema de saúde, mas o Emílio não se encontrava na
altura na trincheira. Salvador substituiu o brinde que queria personalizar no
famoso repórter fotográfico num brinde geral ao público do Campo Pequeno. No
final, quando dava a volta à arena, acercou-se do Emílio e deu-lhe uma rosa
vermelha. Muitos não viram. Mas foi um gesto que eu vi. E não esqueço.
Pablo Hermoso de Mendoza vinha
fisicamente agastado, dizem, de uma intensa campanha nas Américas e só por
especial deferência pelo público lisboeta acedeu estar ali ontem na inauguração
da temporada. Mas se o vinha, ninguém deu por isso.
Espectacular nos dois toiros, Pablo e os
seus magníficos cavalos foram a conjunção perfeita de uma sinfonia invulgar.
Fez tudo tão bem feito e com uma perfeição tão ajustada, que tudo pareceu
fácil. O seu primeiro toiro, pode dizer-se, era "fácil" e ajudou.
Pablo desenhou um espectáculo único, em que todos os detalhes valeram pela
diferença, pela harmonia, pela beleza e pela emoção que levaram às bancadas.
Dirão os "velhos do Restelo" que "aquilo é circo" e que
"aquilo não tem nada a ver com as bases da tauromaquia expressas nos
livros e nos compêndios da arte". Podem dizer o que disserem. Eu vi ontem
sete mil almas de pé a aplaudir, vi Pablo obrigado a dar duas voltas à arena e
todo o mundo eufórico a bater palmas. Eram todos doidos? Ninguém percebia
patavina da arte? Grande Pablo!
No segundo toiro, repetiu a dose, voltou
a estar acima da média e voltou a inovar, falo dos dois curtos que cravou num
palmo de terreno com o espectacular cavalo "Viriato", qualquer coisa
nunca vista e que voltou ontem a levantar o público das bancadas.
Indiscutivelmente e doa a quem doer,
ontem foi Pablo Hermoso quem esgotou o Campo Pequeno. Regressará em Setembro a
Lisboa. Venha ele! É único. Mesmo.
João Moura Jr. reafirmou ontem toda a
sua decisão e toda a força que pretende dar à sua carreira nesta temporada -
que promete ser de consagração total. É filho de quem é - e isso pesa nos
ombros de qualquer jovem. Mas João está finalmente a distanciar-se e a marcar a
diferença em relação aos cavaleiros da chamada nova vaga. Como seu Pai há já
mais de trinta anos, João Moura Jr. caminha hoje a passos largos para o
estrelato absoluto. E mais que isso - promete liderar.
A sua actuação no terceiro toiro da
noite, um toiro-toiro que não estava ali para "brincadeiras", foi uma
lição profunda e enorme de um grande Toureiro. Primeiro, porque não era fácil
voltar a fazer explodir o Campo Pequeno depois das explosões que anteriormente
provocara Pablo Hermoso. Depois, porque João fez exactamente o mesmo que Pablo
tinha feito, com a diferença de o ter feito com um toiro muito mais sério - e
essencialmente muito mais toiro. Foi uma lide enorme e que reafirmou o momento
brutal que João Moura Jr. atravessa e a decisão com que pretende, de uma vez
por todas, distanciar-se do pelotão.
O último toiro da noite também pedia
contas. E o jovem Moura enfrentou-o com a clareza dos seus propósitos, com a
certeza dos seus argumentos e com a força da sua raça. Outra lide perfeita e
importante que, a meu fazer, o transforma num triunfador nato da corrida de
ontem em Lisboa. Enorme João!
No campo da forcadagem, não se pode dizer
que tenha sido uma noite fácil para os valentes Amadores de Évora e do Aposento
da Moita. Nem sempre os toiros foram rectos e pelo seu bom caminho e por isso
houve pegas duras, executadas graças ao bom desempenho de todos os elementos
dos dois grupos, mas sobretudo dos forcados de cara.
Por Évora, pegaram Gonçalo Pires (à
primeira), João Pedro Oliveira (à segunda) e o cabo António Alfacinha (à
primeira), este numa pega imponente e em que se emendou com valentia e imensa
técnica na cara do toiro, antes da chegada do grupo, vencendo com os braços um
tremendo derrote que o ia atirando fora.
Pelo Aposento da Moita, foram caras o
valente cabo José Pedro Pires da Costa (que abriu praça com uma excelente pega
à primeira, brindada a Nuno Carvalho "Mata"), José Maria Bettencourt
(à terceira, com os companheiros a ajudarem muito bem, depois de ter sido
"cuspido" de forma aparatosa nas duas primeiras tentativas e depois
de entrar a dobrar José Maria Águas, que da primeira vez escorregou na cara do
toiro e caíu e da segunda saíu lesionado) e Nuno Inácio (à terceira, em pega
brindada a Hélder Milheiro, o membro da Prótoiro que tão bem defendeu a Festa
Brava no debate da RTP).
De apresentação e comportamento
desigual, os toiros de Santa Maria, a ganadaria do Engº Francisco Lobo de
Vasconcellos, tiveram mobilidade, deixaram-se tourear, destacou-se o terceiro e
foi mau o primeiro, os restantes não desiludiram e proporcionaram, em traços
gerais, um bom espectáculo, sem comprometer, sem facilidades, sem serem
"nhoc-nhoc", apesar de terem ascendência Murube. Nada a apontar,
apesar de, em termos da bravura e da emoção que se exige, tenham deixado algo a
desejar...
Aplausos para todos os bandarilheiros,
com destaque para o labor de José Franco "Grenho", de José Bartissol,
de Jorge Alegrias e de Hugo Silva.
Manuel Gama dirigiu com seriedade,
nalguns casos demasiada, atrasando-se algumas vezes a conceder música, mas não
podemos esquecer que é preciso impôr no Campo Pequeno o rigor que noutras
praças pode ser menos lembrado. Por isso, Gama esteve bem e há que aplaudir a
sua rigorosa direcção de ontem. Foi assessorado pelo médico veterinário Dr.
Jorge Moreira da Silva e houve calorosos aplausos para algumas intervenções do
famoso cornetim José Henriques, que se esmerou a mandar entrar os toiros de
Pablo e Moura, deixando na praça um clima de grande ambiente... mas não teve
idêntica intervenção nas duas lides de Salvador. Por quê?...
Uma palavra final para o público magnífico, colaborante e entusiasta do Campo Pequeno.
Muitos colunáveis nas bancadas, muitos
artistas, muitas figuras públicas e muitas tias e tios, o que é sempre
agradável e imprime um louvável glamour ao espectáculo. Rui Bento, ontem,
rebentou a escala como organizador daquela que foi a primeira grande noite da
Temporada 2014. Por isso ele foi também um dos grandes triunfadores desta
grande jornada.
Já a seguir: não perca todas as fotos de
Emílio de Jesus - os Momentos de Glória da corrida de ontem e a presença dos
Famosos na bancada!
Fotos Juan Andrés H. Mendoza/Farpas e D.R.