terça-feira, 13 de junho de 2017

Importante ler: desassombrada entrevista de Elísio Summavielle ao "Sol"

Elísio Summavielle fotografado no Campo Pequeno com sua Mulher e seu filho


"A oposição às touradas é um fenómeno urbano de gente que não conhece a cultura taurina. Não sabe o que é a cultura de montado (...) Se for a Vila Franca, se for a Évora, a atitude em relação às touradas é completamente diferente. Há um património cultural, há um cultura" - declarações de Elísio Summavielle, antigo secretário de Estado da Cultura e presidente do Centro Cultural de Belém, num desassombrada e muito lúcida entrevista ao semanário "Sol" da última sexta-feira.
Elísio Summaviele considera que os movimentos anti-taurinos "não são inocentes" e "têm gente por trás". "Têm meios, têm património, têm subsídios, têm financiamentos", acusa.
E, questionado sobre quem financia e subsidia esses mesmos movimentos, declara, sem papas na língua:
"Isso compete ao jornalista investigar! Por exemplo, veja a properidade e o sucesso enorme dos hospitais veterinários, das vendas de rações para animais, das multinacionais que estão metidas nisto, as multinacionais do fast-food... a diversidade cultural é um obstáculo".
- Mas está a dizer que o movimento anti-touradas é financiado por essas empresas? - questiona Ana Sá Lopes, a jornalista autora da entrevista. Responde Summavielle:
"No creo en brujas, mas que las hay las hay. De algum lado virá o financiamento (...) Não digo que daqui a 150 anos continue a haver corridas de toiros. Se calhar haverá de outras formas, haverá outra forma de festa. Tudo evolui, tudo caminha. Agora, a cultura não se abole por decreto".
E acrescenta, numa outra passagem desta importante entrevista, a propósito das tentativas parlamentares do Bloco de Esquerda e do PAN para ilegalizar as touradas:
"E depois há o politicamente correcto que é um dos grandes defeitos da democracia. Há bocado falávamos dos maçons que não se assumiam. Eu também posso falar dos aficionados que vão ver corridas às escondidas a Espanha".
"É outro fenómeno - explica - Eu entendo, não sou assim. Mas há medo de assumir um gosto por uma arte que eu penso que é única em todo o mundo. O toureio - sobretudo aquele que gosto mais que é o toureio apeado - exige do artista mais do que de um atleta de alta competição. É preciso conhecer a vida de um toureiro e o ciclo de vida de um toiro bravo para se saber do que estamos a falar. São movimentos de grande beleza estética, que entusiasmaram grandes pintores - o Picaso, por exemplo -, grandes músicos, grandes escritores. Ou se gosta ou não se gosta. Se daqui a 100 anos será diferente? Com certeza que será. Tudo será diferente no futuro. Agora, o que se deve é discutir as coisas com pés e cabeça e não entrar em radicalismos".
Elísio Summavielle conclui que "as touradas nunca passarão à clandestinidade" e assume que "infelizmente não tenho tempo para ver todas as touradas que queria".
Uma entrevista que todos devem ler - de um político que sempre honrou a arte e a cultura tauromáquica. Sem medo.

Foto Emílio de Jesus