terça-feira, 13 de junho de 2017

Santarém: crónica (sem o ser...) de uma corrida que nem vi...

Ventura, Pedro Marques e Morante. Eles lá rir, riram, mas...
Quem fez bem fui eu e o resto são cantigas. Dia de Portugal comemorado à grande
e à portuguesa, no reino dos Algarves, com sol e mar...


Miguel Alvarenga - Santarém, sábado passado, Dia de Portugal que outrora era também da Raça. Ventura, Morante e “El Juli”, chamaram-lhe até a “Corrida do Século”, qual deles, o que passou ou o que está a iniciar-se? Sei lá…
Muitos leitores se interrogaram: e o “Farpas”, não diz nada?
Eu explico: o “Farpas”, contrariamente a outros que já não entram em praça alguma a não ser exclusivamente nas de João Pedro Bolota, o “Farpas”, dizia, não tem actualmente qualquer relacionamento (não tem a ver com o trato pessoal, apenas e só com o institucional) com a empresa “Aplaudir”. Certamente que um dia o voltará a ter, até porque uma amizade pessoal de muitos anos não se estraga por motivos exclusivamente profissionais.
João Pedro Bolota não aceitou e está no seu pleno e mais que aceitável direito, as críticas que aqui lhe fizemos no ano passado aos cartéis de cárácácá que montou em praças tão importantes como as que detêm e gere. Não aceitou as críticas que lhe fizemos a uma deslavada e sem interesse Feira da Moita. E afinal tínhamos razão, parece. Não lhe renovaram a adjudicação da praça, apesar de ter concorrido, certamente por que, como nós, também não gostaram do seu (des)empenho.
Prestes a afundar-se depois de ter sido, muito justamente e fui eu mesmo que assim o apelidei, o “empresário das praças cheias”, João Pedro Bolota deu este ano a volta por cima com a raça e o valor (tenho que reconhecer) com que andou mais de trinta anos a honrar a nobre arte de pegar toiros.
Montou - e acredito que as montou mesmo e que não lhas montaram, como por aí dizem as más línguas - duas corridas de arromba. A de sábado passado e a de sábado que vem, esta com o novo ídolo dos aficionados lusos, o valente Padilla.
Havia quem, provavelmente por desconhecimento de causa, preconizasse que a Monumental “Celestino Graça” ia encher ou até esgotar com três toureiros tão bons como Ventura, Morante e “El Juli”. Isso não aconteceu. Não ia nunca acontecer. Santarém é outra coisa, quer queiram, quer não queiram, Santarém são cavaleiros, seis de preferência e são forcados. Houve tantos que criticaram o saudoso Manuel Gonçalves quando decretou que era essa a fórmula e a verdade é que, se por acaso ainda estão lembrados, Santarém esgotava com dias de antecedência com as corridas da Rádio Renascença de seis cavaleiros. Lembram-se?
Por mais empenho que os toureiros tenham tido e acredito que o tiveram - Ventura é um rejoneador de assombro, Morante e “El Juli” são incontestavelmente dois figurões mundiais - leio nas crónicas que os toiros, escolhidinhos a dedo, não serviram. “Seis mansos”, escreve Pedro Guerreiro no site naturales, considerando que a corrida foi “uma espécie de gin tónico sem gin e sem tónica”.
Valeu, dizem-me amigos conhecedores, duas “chicuelinas” e um “trincherazo” de Morante que não quis ver, nem de longe, os dois toiros de Cuvillo; valeu o profissionalismo de “El Juli”, um lutador frente aos mansos de Garcigrande; valeu Ventura com o fantástico “Sueño” e a arte maior de conseguir virar as coisas do avesso e triunfar mesmo sem matéria prima; e valeram as duas pegas dos Amadores de Santarém, por Francisco Graciosa e Luis Seabra.
A corrida foi um fracasso? Não acredito que o tenha sido. Pode ter sido, sim, uma desilusão para os que foram a Santarém, cheios de calor, à espera de ver uma tourada que marcasse mesmo o século. Mas um fracasso não acredito que tenha sido…
Foi, isso reconheço, um grande golpe de rins de Bolota para voltar à tona e provar aos descrentes, como eu estava, que afinal ainda mexe e é capaz de fazer coisas memoráveis como os eleitos.
De resto, quem fez bem fui eu. Comemorei o Dia de Portugal à grande e à portuguesa no reino dos Algarves. Com sol e mar. Sem toiros mansos. E o resto são cantigas…

Fotos González Arjona/@Pedro J. Marques/Facebook e Guilherme Alvarenga